19 de julho de 2010

O Abismo e a Escama

Quando o abismo começa a olhar para mim, eu também olho para ele até vermos quem devorará o outro primeiro. Já as pessoas não conseguem si quer passar um minuto sozinhas consigo mesmas enquanto eu mais morro de medo é dos outros, pois a dor sempre dói com a mesma intensidade da primeira vez.


Quando eu tiver cinqüenta anos... Sei lá! Arranjarei um emprego que me pague uns mil e quinhentos reais, alugarei uma quitinete, comprarei um note book, televisão, som e dvd. O que sobrar, sem filhos e nem mulher, ficará para a cachaça, pois não me casarei. Não deixarei e nem carregarei nenhum fardo que não seja o meu. E viverei como todo bom Lobo da Estepe faz: Sozinho! Disso eu sei que a vida há de cuidar para mim. Um ponto onde não precisarei me preocupar.


Meu pai e minha mãe não precisam se preocupar, pois eles não chegaram a ver o que nos últimos anos eu venho a me tornar. Na metamorfose final, eles não mais estarão aqui. E isso será necessário para que a metamorfose final se concretize: Eu abrir mão de todas as escamas sendo que esta será a última escama que cairá do meu corpo.


Nem felicidade e nem tristeza, apenas escama. Nem luz e nem escuridão, apenas abismo. Um abismo separando cada um dos seres que sou, de mim mesmo; cada minuto ou segundo que vivi, de si mesmo. Até eu chegar a sensação de nunca ter sido nada, até me tomar de assalto a impressão de nunca ter vivido nada, apenas sonhado o tempo todo dentro de um sonho. E quando a última escama cair já não poderei mais saber ao certo quem sou. Desconhecerei todos que estiverem no meu espelho, desconhecerei a alma, e serei eu renovado e novamente.



Ricardo Magno

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