22 de março de 2012

Hemistíquio Herboso




Em versos inacabados, querendo ou não, o acordo é firmado enquanto enfermeiros da morte estão mais preocupados é com a última rodada.  

Sem o menor senso de responsabilidade, o porteiro mais parece o filho da puta de um gatekeeper a comandar a barca do inferno. No antro das bactérias calmamente chupa-se uma laranja no instante em que o nécta da vida de várias pessoas está indo embora.

O falso sermão é uma balança com medidas desiguais. Nos momentos raros ao fundo se via um olhar distante nos primeiros enlaces da partida de xadrez com a morte. E é nas horas impróprias que ela aparece dona de uma pontualidade britânica. Conhecer o acordo é não restar a menor dúvida de que o compromisso foi firmado.

Pra fazer piada em uma das entradas, o compartimento do sabonete liquido, em ondas de calor, serve para o piscinão de vírus e trilhões de bactérias. Em estado de emergência, o relógio não é mais um aliado. Cada segundo se torna único ao sentirmos a presença de partículas temporais da infinitésima parte.

Não se conter ao contar é usar a mesma estratégia de uma represa que abre uma de suas comportas para conter a enxurrado. E segura-se a bomba igual a alguém que tem a capacidade de absorver o impacto revertendo todo o efeito da explosão.

No resumo de tudo os dias passam na folha de um calendário incerto em que cada meia noite nos encurrala na intercessão da cruz simbólica de uma encruzilhada para um novo dia, aja vida ou morte, xeque-mate! Simulações não servem. Elas nunca trazem a verdadeira dimensão da realidade.

No intermédio para a funerária, o serviço público não serve nem para colocar um band-aid. Reutilizado, o risco é iminente de desenvolver uma infecção generalizada. Se o sofrimento é inevitável, ali ele se torna uma certeza e regra absoluta.


Ricardo Magno







O Rio da Vida

A voz fedida da experiência tem o coração de um poeta.


Se o certo fosse tão correto não haveria o outro lado. Agora os fantasmas fazem companhia para os cães. A ignorar a territorialidade, um rio deveria ser o ciclo em que se poderia entrar mais de uma vez sem o princípio da identidade. 

Mal se escuta os uivos quando em festa. Uma casa bonita com quintal arejado é feita para sempre estar cheia de amizade. O céu nunca tem cara de uma só estrela quando acompanhados. Cachorro não late com quem é de casa.

Uma gotinha de sangue sobe do pé ao coração em poucos segundos. Em um circulo, mesmo que seja imanente, uma cachoeira não pode revolver suas águas. E se nada nunca é o mesmo, a maturidade é um sinal de envelhecimento.

A física quântica encurta os dias em uma mostra de que o passar dos anos não tem nada a ver com a idade. Cicatrizes e rugas são apenas o vento a balançar cabelos. Envelhecer de verdade é ver e rever a mágica acontecer tantas vezes que se chega até a perder a graça olhar mais de uma vez o mesmo truque. Descobre-se a razão de alguns mistérios quando a vida começa a fazer sentido. A excitação perde o lugar para a hesitação.

Nostalgia é ouvir a mesma música ao longo de toda uma vida. Saudosismo é carregar eternamente uma única canção. Fraqueza é tentar fingir que a alma é simples demais a ponto de poder vir com manual de instrução.

Em um escapismo covarde, reviver o passado é o mesmo que desejar ler um livro cujas palavras foram apagadas. E após conhecer todas as obras de arte, morrer somente com um belíssimo quadro na lembrança.

Emoções e sensações se repetem por detrás de eventos que aparentam ser distintos, mas na verdade é puro caos. Por isso, no guarda-roupa, por um bom tempo, acabamos sendo aquilo que vestimos. Depois é só arrancar a etiqueta na chegada de um novo ciclo.

A vivência sempre traz um mínimo de controle e calma. E isso se chama “familiarizar”. E agora pouco importa as permutações das nuvens do céu. Em orbitais redondos, começa-se a traçar linhas infinitamente retas.

Os jogos já não seduzem mais. E o maior perigo disso tudo é perder as raízes dentro de um balão que flutua sem propósitos e objetivos. Levitar demais é deixar escapar a poeira embaixo do tapete. E somente assim redescobrimos quem somos. Mas nem todos conseguem alcançar o objetivo nesta perigosa façanha.

É questionável o caráter de qualquer pessoa que não tem coragem de apontar o dedo na própria cara! É uma absurda falácia aparentar ser perfeito usando os defeitos dos outros. Pois quando o próprio ato falho falha é um sinal de que ele foi perfeito.

Para ser polida talvez o maior risco da pérola seja ter que retornar as regiões profundas e escuras do oceano, e ali nunca mais ser encontrada.

Se o paralelismo de não pensar também equivale a pensar; o cérebro é o motor dos pensamentos, e o combustível é o álcool. Mas adiante sempre estará um abismo que cavamos por meio da projeção de um futuro que poderia vir a ser o que não fomos.

A morte é para aqueles que não estão preparados. E para se estar pronto não é necessário viver muitos anos. Um recém-nascido pode ser melhor do que um jovem. Com o tempo alguns medos passam, outros aparecem e uns ficam mais fortes. Com o tempo tudo é permitido para aqueles que se dão ao direito de se permitir. Pois os pais sempre estarão nos esperando ao termino de cada dia de aula... Enquanto houver aulas.



Ricardo Magno