31 de julho de 2010

O espetáculo de Guy Debord na vila Alpha

Quando o fogo se torna único com a madeira, ele lhe dá a sua natureza. Ninguém viveu no passado e ninguém viverá no futuro. O presente é a forma de toda a vida. Esta forma não pode ser mudada por quaisquer meios. O tempo é como um círculo que dá voltas eternamente. O arco descendente é o passado, o arco que escala é o futuro. Tudo foi dito contanto que palavras não mudem seus significados e significados suas palavras.

Não é obvio que alguém que vive costumeiramente em um estado de sofrimento requeira um tipo diferente de religião de uma pessoa habitualmente em um estado de bem estar? Antes de nós nada existiu aqui. Nós estamos totalmente sozinhos. Nós únicos, terrivelmente únicos!

O significado da palavra e da expressão, não é mais compreendido. Uma palavra isolada ou um detalhe de um desígnio podem ser entendidos; mas o significado de todos os escapes, não. Uma vez que conhecemos o número dois porque um mais um é igual a dois, esquecemos que primeiro nós teríamos que saber o significado de somar.

Cada sentimento particular é apenas parte da vida, e não a vida em sua totalidade, a vida desejada por uma completa multiplicação dos sentimentos como que redescobrindo a si mesma em toda sua diversidade. No amor, o separado ainda existe, mas existe dentro do conjunto, não fora dele: um reencontro entre vivos.

As imagens que se desligaram de cada aspecto da vida fundem-se num curso comum, onde a unidade desta vida já não pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente, desdobra-se na sua própria unidade geral enquanto pseudomundo à parte, objeto de exclusiva contemplação.

Como um inversão concreta da vida, o mentiroso menti para si mesmo em um movimento autônomo do não vivo. Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo que decorre dessa escolha.

No mundo irreal e invertido o espetáculo aparece como sua finalidade, no qual o verdadeiro é um momento do falso, fazendo dele a mais absoluta afirmação da aparência a representar uma forma de negação visível da vida e uma negação da vida que se tornou visível.

No monopólio da aparência o que aparece é bom e o que é bom aparece, assim submetendo os homens vivos à medida que a economia já os submeteu. E isto não é nada mais do que a economia desenvolvendo-se para si mesma. É o reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação infiel dos produtores.

Na medida em que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário. O trabalhador não produz a si próprio, ele produz um poder independente. Pois na história, o que faz a diferença mesmo é a energia e a determinação com que são perseguidos os objetivos que se quer alcançar.



Ricardo Magno

28 de julho de 2010

Por si só

O irmão que não conhece verdadeiramente o céu, o confunde com o inferno. Vê o caos e a destruição e pensa que são os jardins floridos do Éden. Vê as endiabruras diabólicas dos demônios e pensa que é a dança sensual dos anjos enquanto a liberdade plena só pode ser adquirida através de uma prisão plena.

Nunca irei me corromper por já ter nascido corrompido. Nunca vou me corromper porque serei eu a corromper as pessoas.

Meu vocábulo é supra-religioso, supra-racial e supra econômico-social. Meu vocábulo ultrapassa todas as barreiras, todos os preceitos e preconceitos, todos os limites humanos, infra-humanos e supra-humanos. Meu vocábulo é universal porque ele é espiritual.

A proporção de um bem é a proporção de um mal, quando atitudes insensatas e palavras mal ditas (e malditas) ecoam na alma pelo resto da vida.

Tentando libertar meu cérebro, acabei criando belas respostas para situações difíceis. Mas é somente no cigarro que encontro o sopro da vida enquanto a fumaça parte por si só. Bendito sejam o alcatrão e a nicotina que faz meu tempo passar mais rápido. É que por si só morreremos, morreremos por estar vivos.

A pobre gramática é mais rica do que nossos nomes. Subjugando-me a impotências, me torno mais fraco do que um sujeito indeterminado, enquanto uma palavra vale mais do que a mim e uma frase vai além do verbo-carne à medida que a regência verbal me mata de curiosidade.

Sentir ou não sentir, talvez seja mais importante do que ser ou não ser. É que às vezes quem sente não é, e quem é não sente. Pois cada ser tem o seu espaço vital, cada ser tem a sua idiossincrasia, e é na fase de construção mental que todas elas são definidas.

E se o gelo que esfria pode se protege de si mesmo, como eu poderei recusar a ajudar a mim mesmo? E se a maldade que assola acaba isolando a si mesmo, como irei ignorar um apelo de mim mesmo? 

Porque o frio que se causa também se aquece, e o calor que esquenta também se resfria enquanto me transformo numa espécie de isolante térmico de mim mesmo.


Ricardo Magno

Simplesmente

Às vezes, tenho fortes indícios de que Sófocles era um cara sufocado enquanto não ter nascido pode ser a maior das dádivas.


Há muito tempo venho passando por uma fase difícil, e ao olhar em minha volta, fico um pouco mais triste.


Há muito venho passando por um momento de privações, e olhar para dentro de mim, me exige bastante calma.


É que estou seguindo a sina do escritor inacabado que é inteligente mas substancialmente não consegue nada. Não sei se vai durar para sempre, mas se perdurar, como me manter?


De um lado vejo meus amigos ricos, do outro, meus amigos pobres. No entanto! Sei que não faço parte de nenhum dos lados, pois sou o homem da síntese de todos os traços.


Um homem rico e um homem pobre não passam de dois homens médios. E para mim, não há nada nisso que me interesse.


Por uns se perderem ao se vangloriarem de tudo, a meu ver, é justamente isto que os tornam mais fracos. Enquanto os outros se martirizam por nada terem, e a meu ver, é justamente isto que os tornam mais vulneráveis.


Ao assistir Mississipi em chamas, lembrei do quanto gostaria de assistir A cor púrpura. E não é porque foi o primeiro filme da Whoolp Goldberg, e não é porque eu pensava que a trilha sonora era Purple rain do Prince, e não é porque todos o adoram. Simplesmente porque deve ser um ótimo filme.


Não sei se um dia irei chegar onde quero, não faço a menor idéia de onde quero chegar. Mas às vezes, meio de soslaio, sinto uma forte força me tocar e é ela que me faz querer continuar mesmo tendo um futuro tão incerto quanto poeira no deserto.

Ricardo Magno

Alma nua

Enquanto todos se preocupam em usar as roupas mais bonitas, minha alma não suporta andar bem arrumada. É que ela só gosta de andar nua pelas ruas, avenidas e bairros da consciência mundana.


Refazendo minhas ligações libidinais, pretendo me ligar a te como se tu fosses meu objeto natural. É que a noite passa muito rápida para quem adora passá-la em claro. Pois contigo, todas as inferências são verdadeiras enquanto formar nuvens é sinal de que vai chover.


Tu és minha e de mais ninguém! Tu és minha como se nunca houvesse sido de outro alguém! Beijar todo o teu corpo até que não restem mais outras impressões! Alinhar duas vidas e pôr distintos destinos na mesma batida.


Confesso que às vezes minha força oscila mas seria mentira se eu não vos dissesse que ela sempre se mantem constante. E isto é o que importa!
Com o uso da introspecção, obtenho o retorno ao grande câncer num caminho de volta pra casa enquanto apenas um sorriso me bastaria igual a um estandarte de realizações, insígnias de minhas satisfações.


Mudam-se os estímulos, mas as respostas continuam as mesmas! Na busca pelo extraordinário, acabei adquirindo muitas feridas, embora pudesse desvendar o limiar das coisas para não ultrapassá-las desnecessariamente.


Na busca por experiências autenticas acabei me desvinculando das pequenas e valiosas engrenagens, seguindo sinais como quem não tem nada pra fazer e fica pegando carona em rabo de cometa.



Ricardo Magno

Pagode da dívida

Dez reais podem até não ser cem, mas também não é um real. Então devolve o meu dinheiro! Posso até não poder comprar com ele o que compraria com cem, mas compro dez vezes mais o que compraria com um real.




O dinheiro inventou o cálculo e os cálculos criaram os problemas. Quem tem cálculo renal tem dívidas para pagar, e quem não paga as dívidas acaba quebrando a balança da exploração do próximo.




Ninguém me explora, pois também não exploro ninguém. Gosto de tudo certo e mesmo quando devo cem faço questão de pagar tudo até ficar sem. Fico liso, mas não perco o meu prestígio, pois o bom pagador é um bom amigo.




Quero paz na minha cidade e andar digno por entre as calçadas. Não gosto de dever e menos ainda de cobrar. Mas quando é necessário correr atrás da grana, vou à luta! Pois sei que os velhacos demoram a se tocarem.




Problemas, todos nós temos. Despesas, todos nós arcamos. Nada é desculpa para a inadimplência e perder a boa fé dos irmãos. Se não quiseres pagar o trocado, ao menos reconquista a consideração, porque uma das piores coisas do mundo é a maldita da ingratidão.






Ricardo Magno

Bate-bola

Deus escreve com ferro por linhas tortas. E sempre que começo a beber o senso de responsabilidade vai embora.
O crime perfeito existe! Só que, como ele é perfeito por não deixar suspeitos, ninguém nunca ficará sabendo. Fator preponderante para desqualificar o ato. Motivo indispensável para não se obter provas de que ele existe.


No bar que eu freqüento enquanto minha mãe chora, um bêbado, metaforicamente, mostra a bunda no instante em que o Tony Blair vai embora.
Marcar encontros com quem não se gosta, posar de namoradinho com quem não se ama, é o mesmo que bancar uma de sentimental em horas impróprias. Mas um bêbado falando de outro bêbado equivale a dois bêbados ao quadrado em meio a um questionamento totalmente inválido. Um bêbado falando com um bêbado a respeito de outro bêbado equivalem a bêbados ao cubo. Somente isso e mais nada. Absolutamente nada!


Eu e meus amigos: Simples fúteis reles mortais! Só espero que eles gostem tanto quanto eu, do elogio, pois foi essa a minha intenção.
Eu e alguns de meus amigos, os simples reles mortais. Somos oriundos de uma parceria inesperada que acaba suprindo os prazeres banais. Porque os bêbados gostam de brincar com a sinuca enquanto o tempo vai embora e juizes se formam. Acorda vadio! É o nome do bate-bola.


O Cambota nunca mata a onze. Segura forte no taco, espirra em cima do buraco e acaba sempre judiando da bola. Ainda mais jogando com o pai da sinuca, rapidamente o tempo desmorona.


Apesar de tudo isso os boatos que correm é que o nosso querido Tony Blair queima a roda no mesmo instante histórico em que o digníssimo Presidente do Paraguai vai à forra. E nada do meu avião predileto chegar na praça.


No entanto, o que nos dá personalidade é perspicaz de homens que se ajoelham para o que está à milhas de distância, quando nem os maiores dos tempos poderiam apagar o desprezo que amarga quando a mulher que a gente ama vai embora. Ou nunca volta.

Ricardo Magno

A tutela superior do meu jeito

Faço o que posso sempre sabendo que posso mais. No entanto, me perdoem, mas algumas coisas que escrevo não são para serem comentadas. Então, me façam o favor de ler quantas vezes quiserem, e depois, ao cruzar comigo, virem o rosto e evitem conjecturas com o olhar. Não preciso saber do que já sei, mas se realmente quiséreis me contar alguma novidade, me falem de vós.

Me leiam, mesmo sem entender, sem me conhecer, apenas leiam. E depois, quando nossos caminhos se encontrarem, apenas finja que não sou eu. Pois no verdadeiro escritor, uma pessoa escreve enquanto a outra vive. Quer transparência maior do que essa? Então ides contemplar vasos de cristais.
Se eu encontro uma falha no meu texto, pois essa falha sou eu. Todo bom escritor deve ter muito caráter, entretanto, nunca ser totalmente confiável. Ao se tratar de um favor, quando do contrário faríamos o mesmo, então não estamos devendo nada.

Eu sou o homem de escrever, e não de ler. Eu sou o cara de fazer, e não de comentar. Dia após dia minha envergadura vai se tornando mais vigorosa, minuto depois de minuto vou me sentindo mais forte. Eu não nasci para a berlinda, pois sou muito esnobe. Eu contemplo a arte do povo, só que de dentro para fora.
Enquanto as pessoas gostam ou odeiam algo, eu não. Como a antítese do caos, tenho que gostar e odiar ao mesmo tempo sem deixar que os opostos que moram dentro de mim um dia me destruam. Assim é que reorganizo a hierarquia das faculdades.

O que escrevo está escrito. Se tiverdes que fazer alguma pergunta, pergunte para o dicionário. Se sou mole ou duro, isto pouco interessa. Mas o que sei e tenho certeza absoluta é que sou do meu jeito. E isto, Frank Sinatra já havia me dito em alguma mensagem perdida dentre uma de suas canções. E prometo que até onde eu puder ir, seguirei. Mas chegando lá quando eu não puder mais enxergar, vós serás os meus olhos.


Ricardo Magno

26 de julho de 2010

No refúgio dos valores culturais

Fugindo dos modismos da balada clássica, opções alternativas de bares em Imperatriz servem de válvulas de escape dos valores consumistas. Na hora de responder qual é o maior retorno, os proprietários não titubeiam: A companhia, as fofocas e a atmosfera prazerosa das grandes amizades.

O bar do Claudeci, situado atrás da Faculdade Atenas Maranhense (Fama) e reduto dos alunos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) conta com os laços fraternais da clientela. Lá, o atendimento é self-service. A caixa de som e o violão ficam a disposição. “Do contrário, é só entrar na fila do DVD”, explica Claudeci Conceição do Santos, proprietário.
No local toca de tudo, desde Engenho Cívil (banda de rock local) até festa de vinil em tributo a Raul Seixas. Dúvida? “É só olhar no Orkut do bar feito pelos clientes em homenagem ao local”, completa o proprietário.

Localizado no beco ao lado do teatro Ferreira Gullar, o visual regionalista faz da galeria João Cortez (antigo Beco) um dos cartões de visita do município. Seguindo a mesma linha cheia de personalidade tradicional, no coração da cidade e “às margens” da Avenida Dorgival Pinheiro de Souza, a Blitz Choperia transforma o ambiente austero da arquitetura urbana em um descolado estacionamento da boa música.

A MPB, o rock, as músicas da terra e até o blues estão no repertório seletivo desses ambientes. O baixo, instrumentos de corda contrapostos à guitarra, “choca algumas pessoas”, conforme relata Reginaldo dos Santos, cantor mais conhecido como Parente, freqüentador e atuante em ambos locais.


Pub nordestino


No domingo, por volta das 10 da manhã, ao longo da rua Simplício Moreira se ouve o triângulo, a sanfona e o zabumba nas canções do Luis Gonzaga, Pinduca, Demônios da Garoa, e Jackson do Pandeiro. Com início às 9 e termino lá pelas 13 horas, Felipe Rodrigues Barros, o Felipão, faz do salão de sua bodega e garagem do seu fusca, o modesto, porém encantador palco dos Sanfoneiros da Simplício Moreira, o conhecido Forró do Felipão. Recinto onde simpáticos rapazes da terceira idade há três anos se reúnem a celebrar a vida com um ar de nostalgia típico da velha guarda. Tem dias que chega a ter até dez sanfoneiros.

Os entrevistados também se lembram com saudade do bar da Academia, recanto de intelectuais que ficava na Praça da Cultura - nome sugestivo. Bares que contribuem com o diferencial em tempos de avalanche de rebolations, sertanejo e Lady Gaga.

Ricardo Magno

O Erudita e o Popular




Na evolução dos conceitos, a maioria do historiados estabelecem no século XVI o começo da distinção entre “cultura erudita” e “cultura popular”. Esta época serve como data de referência para assinalar o momento a partir do qual se reconhece que existe uma disparidade entre grupos sociais a ser traduzido em termos de gostos e costumes culturais.

O conceito de cultura popular é recente e está ligado ao processo de urbanização do século XVIII. A cultura popular divulgada pelo romantismo, ocupará no imaginário da burguesia oitocentista as memórias de uma sociedade que estava prestes a desaparecer. Símbolo de um povo camponês idealizado, trata-se da imagem que era a antítese das massas de operários, hoje, integrada “a cultura das massas”.

Por oposição ao conceito de popular, a partir do século XVI começou a se consolidar uma cultura erudita, alta cultura ou cultura cultivada, próprias dos grupos sociais dominantes. O traço mais relevante devia-se ao fato desses grupos dominantes serem os mecenas (compradores das obras produzidas pelas elites dos criadores). Após a Segunda Guerra Mundial, a situação começou a mudar. A distinção na fruição das artes passou a ser de grupos culturais, que não necessariamente, coincidia com os grupos sociais. A explicação para esse divórcio pode ser encontrada na natureza hermética das propostas estéticas das novas correntes artísticas.

Não vinculada a nenhum grupo e transmitindo de maneira industrializada para um público indiscriminado, a industrial cultural passa a interferir na existência de uma cultura erudita da elite e de uma popular obviamente do povo. Não fabricando produtos concretos, ela começa a vender uma ideologia, visões de mundo e desejos feitos para uma massa de pessoas, através dos meios de comunicação.

Ela não surge espontaneamente das massas, mas já é uma cultura pronta e fornecida pela classe dominante como um ponto de interseção entre a cultura erudita e a cultura popular. Tanto pela cultura erudita quanto pela popular, os elementos da indústria cultural são consumidos por ambos como se representassem algo em comum entre esses dois setores. A cultura de massa funciona como uma ponte entre elas, mas uma ponte prejudicial por que ignora totalmente todas as diferenças entre os produtores dessas culturas e se direciona para um público que não existe, de tão abstrato e homogêneo.

Com um processo de nivelamento cultural por baixo, no inicio do século XIX é constatado o primado dos gostos massificados. Imitando tudo o que hábeis artesãos produziam, mas secundarizando a perfeição dos produtos (a surgir os primeiros indícios da falsificação e pirataria). O objetivo era somente o de reduzir os custos dos produtos de forma a torná-los acessíveis a larga escala (um feedback do sistema consumista). Estas imitações baratas eram destinadas a consumidores com reduzidos recursos (proletariado) e de baixa formação cultural (pessoas que não conseguem distinguir o verdadeiro valor de um objeto original).
As elites culturais, então, criticavam (ainda hoje isso acontece) estas opções econômicas, afirmando que elas estavam a gerar uma sociedade de cretinos (como se eles mesmos não fossem só pelo fato de terem dinheiro).

O desenvolvimento tecnológico tornou possível reproduzir obras de arte em escala industrial, então inúmeros livros passaram a apresentar uma pintura de Picasso e uma massa da população passa a ter acesso a essa pintura, não necessariamente entendendo-as como algo de seu contexto histórico. Segundo o filosofo alemão Walter Benjamin, uma obra de arte ao ser reproduzida perde sua “aura”, que seria seu caráter único e mágico (típico da cultura erudita), mas em compensação isso possibilitou que elas saíssem dos museus e coleções particulares para serem conhecidas por um número muito maior de pessoas, assim contribuindo para uma evolução da própria política das artes, que antes eram exclusivas da elite passando a serem acessíveis as massas. No entanto, isso não significa uma democratização da obra de arte e muito menos uma contribuição para a conscientização das massas, sendo que o público popular não tem a mesma instrução que as elites que cresceram em meio a essa cultura e foram instruídos para entendê-la.

Para a atualidade a obra de arte popular é um tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Cada objeto é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a denúncia de alguma injustiça. Nesse sentido, o mais importante na arte popular não é o objeto produzido, e sim o próprio artista, o homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades. Por isso é sempre contemporânea.



Simultaneamente, os produtores da chamada cultura erudita fazem parte de uma elite social, econômica, política e cultural e seu conhecimento geralmente é proveniente do pensamento científico, dos livros, das pesquisas e estudos em geral (erudito significa ter instrução vasta e variada adquirida, sobretudo pela leitura). A arte erudita e de vanguarda é produzida visando museus, críticos de arte, propostas revolucionárias ou grandes exposições, público e divulgação.

O mais importante neste campo, como em outros, é não cair no sectarismo. Como afirma Darci Ribeiro, cultura erudita e cultura popular são as duas asas da cultura, que sem vigor em ambas, não voam belamente; fazendo tão ridículo o populesco que só tem ouvidos para seu gosto, como o tolo que só aprecia seu gênero, a exemplo da ópera ou do balé, os reverenciando boquiabertos como formas perfeitas e intocáveis, sem ousadia de criá-los a nosso jeito, e consequentemente vindo a se tornar igualmente babaca.


Ricardo Magno

A diversão na sociedade espetáculo

Num texto que marcou época, Guy Debord começa por afirmar: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção, anuncia-se como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido, afastou-se numa representação.” A sociedade da massa acabou esvaziando o conteúdo do espetáculo, gerando um simulacro de espetáculo. Os atores tornaram-se simulacros de atores, os textos simulacros de textos, etc. (Jean Baudrillard) O vazio se instalou na nossa sociedade. O discurso é conhecido.
A diversão é frequentemente a principal característica positiva associada à cultura de massas (uma menção não muito honrosa e escatológica). Ela cumpre uma função social importante num quotidiano que se afirma insuportável. Funciona como uma válvula de escape, uma libertação de energias e recalcamentos. Ou seja, não sabendo lhe dar com suas indagações existenciais, manifestação natural de todo ser pensante e comprometido com o viver, e tomado pela sensação de uma vida vazia de significado, é no lazer de entretenimentos vulgares que o indivíduo busca esconderijo para a falta de sentido interior da qual não consegue obter respostas agindo como animal de rebanho a obedecer às ordens da manada. Um elefante acéfalo.
O homem contemporâneo costuma chegar à conclusão de que sua vida está cheia de trivialidades. Ele se sente alheio dos “eus” passado, do seu trabalho, da sua comunidade e, possivelmente, de si mesmo - embora o seu “eu” seja difícil de localizar. Ao mesmo tempo, tem em suas mãos uma dose sem precedentes de tempo, que, como assinalou o holandês Van Den Haag, precisa matar para não ser morto por ele.
A sociedade detesta o vácuo, e procura preenche-lo rapidamente através da diversão. O vazio de idéias e sentido ameaça, por dentro, o homem moderno. É por isso que a diversão tem se feito tão importante mais do que qualquer outra coisa na época histórica, tornando um instrumento de poder fundamental de “entorpecimento das massas”.
No tangente aos divertimentos mais populares, a brutalização da cultura contemporânea não tem qualquer justificativa histórica. Alguns historiadores tem posto em evidência que a maioria dos divertimentos anteriores ao século XIX primavam pela brutalidade e pela estética do grotesco (Bandeira 2), e que a cultura erudita sempre foi minoritária.


Ricardo Magno

Sonho ludovicense

Engraçado é a graça, mãe das abobadas. Às vezes tenho ódio da vida porque nela vejo meus olhos, a silhueta frágil do meu corpo. Então choro! Choro por muitas vezes saber sem entender o porquê.


Sendo assim, faço qualquer coisa: levanto as mãos, me mantenho distante... E faço isso por apenas fazer mas sem entender o porquê.
O sorriso é fascinante! Nem sempre, às vezes, nas horas em que fascino ou me sinto fascinado. Então me ponho no meio e elas nem me percebem. Sinto graça e descubro o quanto é maravilhoso amar.


Tento conter o ânimo e qualquer outro sentimento que tente fugir. Mas eles são fortes fazendo meu coração palpitar, a corrente sanguínea se apressa me fazendo levemente desmaiar. Quando acordo, me encontro nos meus próprios braços sentado no banco central localizado no final do ônibus.


O carro COHAMA me leva para todos os lugares onde estive nos últimos dias. Ele cessa a minha liberdade construindo uma trajetória e me impedindo de tomar novos rumos.


Em alguns dias, nos dias em que levanto dos sonhos revoltado, o limite Cohama-Deodoro dói mais do que a própria dor se tornando um novo sinônimo de dor. Vejo tantas ruas mas sigo a única sem graça, me familiarizando cada vez mais com seu asfalto enquanto meu coração continua o mesmo, no mesmo lugar sem se mover si quer um centímetro nem pra lá, nem pra cá, me fazendo viver como se não houvesse outra coisa pra fazer, por apenas fazer sem saber o porquê.



Ricardo Magno

O canhão de hádrons

A verdade é que o crime compensa. Não sendo hediondo, compensa. Embora existam pessoas que não deveriam ter nascido, isso não dá o direito que venham outras e as matem. Mas compensa! Outras formas de delito compensam sim!


A mídia, os órgãos de segurança pública... Todos sabem disso. Mas tudo bem. Isso não vem ao caso. Até porque não vai de acordo com minha tese. Tudo bem! Deixa pra lá.


A questão é que a caneta é como se fosse o meu colisor de hádrons, no qual cada palavra é um enorme acelerador de partículas, que ao colidir com os átomos na profundeza de cada alma se perdem na busca interna e profunda da existência de outras dimensões e de novos significados.


E de que me valeria escrever se não fosse também para brincar, manipular o imaginário das pessoas? Vossas mentes são os meus deleites. E quando não minto, mesmo assim faço com que se torne quase impossível a descoberta da verdade. Vosso ego é o meu autorama. Corro e derrapo por rodovias deslizantes, quando na realidade é somente um carrinho de plástico que não quer funcionar.


Pra que tantos pecados com tanta diversidade se o inferno e o paraíso forem inverdades? Então, eu precisaria ter nascido com mais uma alma só pra tentar ser capaz de pagar por tanta calamidade.


... Enquanto o que nunca começou também nunca irá acabar e vai ficar eternamente se perpetuando na alma de dois indigentes.


Ricardo Magno

19 de julho de 2010

Hóspedes

Se meio centímetro é o um centímetro, então onde é que fica o meio? Mas cá entre nós, sinceramente, nunca dariam certo as coisas. O que quis e fiz foi apenas tentar arranjar um tapa buraco, inventar um pretexto que fosse capaz de esconder os pedaços de meu coração. Pois bem! Assim estou com a mesma e sempre companheira solidão de cem anos cada vez mais parecida com a dos velhos e nobres buendías.


É que estou começando a me convencer de uma coisa que não tem mais a menor condição. Fazer o que se os seres humanos são assim mesmo? Sempre se deixando vencer pelos únicos sentimentos que não têm nada a ver, dando razão para o que não tem a menor razão, dando ouvidos para quem não tem voz e morrendo por valores insignificantes.


Mas todas as manhãs em que o sol nasce e eu sou um dos poucos convidados a ficar até tarde acordado de vigília no berçário, a vida me diz: “agüente as pontas! E aí, novamente desiludo, deixo de encontrar razão em outra vida que não seja a minha, pois até meus pais ficam fora desse julgamento”.


Duas pessoas livres sempre fazem o que querem, a não ser que elas realmente não queiram. Embora a consciência seja uma tirana, tanto faz! Em outras horas do dia ela também passa a ser o nosso guia, porque duas pessoas livres sempre fazem o que querem.


As horas em que mais precisamos de alguém são justamente as horas onde não deveríamos precisar de ninguém. E com isto, esta foi a grande lição que aprendi. Hoje sei que as horas em que mais preciso de alguém não foram feitas para que pedíssemos ajuda, e sim, um sinal para que imediatamente tu comeces a se virar sozinho.


Nunca mais chamarei e nem aceitarei ser chamo por ninguém de meu amooor! Pois hoje sei que essa frase é impessoal, não pertence a ninguém exceto a um mero, passageiro e vazio sentimento. Hoje, não aceito e nunca mais chamarei ninguém de meu amor. Hoje, eu sei!


Pode gritar, espernear... Fazer o que for! Mas de agora em diante não me importo, não acredito, não aceito mais ninguém na minha vida que não seja eu, meu pai e minha mãe. O resto são meros hóspedes.

Ricardo Magno

O Dilema do Super-Homem

Antes de qualquer coisa, todo bom sedutor também deve ser um bom psicólogo. Só conquistamos verdadeiramente uma mulher depois que a curarmos de seus traumas. Nisto, o amor faz seu alicerce sólido.


Igual o ferro faz com o ímã, o homem deve não somente atrai - lá, mas antes de tudo, dominá-la. Pois o trauma é a provação de todas as demais e subseqüentes provas. E é por causa de uma frustração mal curada, incurável, que muitas pessoas dormem separadas.


Mas o homem que está sempre traumatizado não encontra tempo para curar os traumas. O homem, diferente da mulher, foi excluso da dádiva de ser curado. Seu ofício, por natureza, é somente curar. E mesmo quando provoca traumas é também pra se traumatizar.


Olhar nos olhos e ver a alma. De imediato, se decidir por cruzar ou não, e depois que a escolha for feita, manter-se ciente de que não haverá mais volta. Pois conquistar uma mulher é o mesmo que fazer tratamentos na sua alma. Ao contrário da mulher, não podemos nos dar a esse luxo.


Em algumas horas se faz difícil o papel de curar, pois somos nós que precisamos ser curados. Daí surge as grandes garfes. Salvar o mundo ou morrer no lugar dele. Viver e deixar que as pessoas morram: O dilema do Super-Homem. Pessoas normais são loucas demais pra afirmar uma coisa dessas.




Ricardo Magno

Moisés

Nunca ninguém vai te amar. Sabe por quê? Porque tu és pessimista demais pra acreditar em uma notícia tão boa como esta. Enquanto perde todo o tempo do mundo prestando atenção somente nas coisas erradas, o cara certo passa na tua frente e tu nem enxergas. Sabe por quê? Porque tu és pessimista demais pra crer que um dia alguma coisa pode dar certo.


O passado já aconteceu, e correlação a isso, não podemos fazer mais nada. Bom ou não, devemos deixar que as feridas cicatrizem. Se protegendo de tudo e sempre acreditando no fracasso, todos os teus dias inevitavelmente virarão o dia repetitivo da marmota.


Se a paixão acredita somente naquilo que ela quer e o espírito sempre se convence daquilo que receia, então, definitivamente, tu estás em maus lençóis. Pois tanto as tuas paixões quanto o teu espírito estão sempre te fazendo caminhar pela trilha que só em teu ferido coração tu há de cruzar. Isto é um mal que tu fazes a ti mesma!


Realmente nunca precisastes de mim. O que tu necessitas mesmo é de alguém que seja forte o bastante pra te provar que tudo o que digo é uma verdade perdida na tua alma pelos quais os próprios caminhos da vida tiveram que ti levar. E quando ninguém tem culpa de nada, não há porque as feridas não cicatrizarem, pois crianças nunca sabem o que fazem.


Enquanto a opinião é sempre no interesse de quem dá, o conselho pega a mão contrária e vai sempre de encontro com o bem-estar de que o recebe. Foi assim que nunca houve nada que eu não te pedisse que também eu não tivesse te dado em troca. Não é na minha vida que espero melhoras.

Ricardo Magno

O “eu” de todos os tempos

Tive uma vida e agora tenho outra. E de vez em quando, sem perceber, acabo vivendo a vida que não existe mais. Tive uma vida, agora tenho outra. Mas de vez em quando uma se confunde com a outra. De tudo o que não quero falar, então, escrevo.


Quando as coisas dão certo, ou seja, saem do jeito que espero, penso que sou ele. Mas quando dá tudo errado, me lembro que não sou mais. Enquanto isso, as mulheres renascentistas continuam sendo as melhores dentre todas. Quando começo a confundir o que era e o que sou, será que isso se caracteriza como uma crise de identidade?


Geralmente, sempre caímos na armadilha da esperança de achar que as coisas iguais um dia serão diferentes. Geralmente, a gente sempre cai. É errado matar o leão que ataca uma pessoa. O leão é apenas um animal a seguir os instintos não obedecendo a faculdades mentais de regras sociais iguais a nossa. Quem deveria morrer era o dono do circo por não ter cuidado da segurança e das necessidades primarias do animal.


Quer criar pássaros? Então não se preocupe com meus gatos, pois eles têm todo o direito de andarem livres. A vida dos gatos equivale a de qualquer outro animal, excetuando as serpentes. Os répteis são totalmente asquerosos independente da construção pejorativa bíblica.


Se o teu filho gosta de tirar onda com todos os cachorros da rua; cuida bem das crianças e não vai reclamar depois da mordida, porque os pitbulls não têm culpa da natureza os fazerem ferozes. Os pitbulls dos ricos sempre morrem porque os PMs detestam filhinhos de papai.


Adepto da corrente gonzo, seguir a linha gnostica e praticar um jornalismo esotérico. O pior é que depois de tudo não ideológico e mal idealizado que o Maradona representa, é uma vergonha e crime de lesa pátria um brasileiro ainda usar a camisa da argentina. A rivalidade Pelé-Maradona só existe devido à proximidade entre os paises da América Latina (Latinha). Fora da mídia, ele mais se parece é com o Romário: bad boys baixinhos que não gostam do Pelé. O sonho pequeno burguês é uma merda mesmo! Recuso-me a fazer parte dele nem que para isso eu tenha que ficar abaixo.



Ricardo Magno

Tempo

Tudo tem seu tempo ou não tem tempo. Mas o que sei é que mesmo no tempo atrasado, eu estou no tempo certo. Quando entrei na roda ela já girava e sofri muito pra poder pegar a rotação certa. A vertigem me mata!


Enquanto todo mundo dava suas primeiras voltas eu continuava no canto, parado. Enquanto todos me apelidavam de retardatário, eu ficava só no canto observando e estudando as engrenagens.


É que quando a seta indicava para um lado, eu ia sempre de encontro ao oposto. E foi muito difícil fazer o que ninguém entende, conhecer o universo para somente então poder entrar em sintonia. No entanto, quando a roda girava, eu sempre era o primeiro que caia enquanto sabia que alguma coisa havia de errado.


Após inúmeras quedas, resolvi apenas ver a roda girar por muitas vezes. Resolvi deixar o tempo passar, marcar o seu caminho até poder descobrir o meu próprio momento.


Na vida, algumas coisas não somos nós que devemos procurar, e sim, nos deixar sermos encontrados por elas. O amor é um exemplo disto. Porque enquanto as pessoas mudam, ele continuam a vida inteira sendo o mesmo em todos os lugares, se desenvolvendo e nos atracando novamente.


O coração, só, anda bem acompanhado. Acompanhado, anda bem solitário. Pois cada amor tem o seu próprio lugar e um amor nunca substitui o outro, mas sim, deixar um vazio. Enquanto se tornar pai deve ser a mesma coisa que dar um mergulho sem volta e aprender a respirar debaixo da água.



Ricardo Magno

Superman

Não é que eu não acredite, mas eu prefiro não acreditar. Anjos nascem e morrem todos os dias enquanto eu só espero que as minhas felicidades nem sempre sejam oriundas das fases altas na montanha russa do transtorno bipolar. Eu só quero é que as minhas tristezas nem sempre todas sejam vindas das fases baixas na montanha russa do transtorno bipolar. Eu só quero rir e chorar de verdade podendo saber quando cada um deles acontece.


Quando nada ainda foi feito é porque ainda há muito a se fazer. Imperatriz pode ser um poço, um buraco dentro de outro buraco ainda mais esburacado. Mas pra quem tem bons olhos e sabe descobrir novos vieses, somente para essas pessoas excepcionais, Imperatriz também pode se tornar uma mina de ouro; porque enquanto todos cruzarem os braços e ninguém fizer nada, nada seria mais óbvio do que nada nunca ser feito.


Enquanto tu esperas ansiosamente o extraordinário te visitar, ele morre disperso dentro de ti sem tu nunca notares. Percorrer o mundo na busca de coisas fantásticas enquanto elas nunca saíram dos seus velhos lugares. E o que nós perdemos em esforço, dedicação e força de vontade, nós ganhamos em pioneirismo.


Eu necessito de vós tanto quanto vós necessitais de mim. E quando o professor desmotivado começa a dar aulas chatas, os alunos desinteressados começam a relaxar. Mas quando chegar a minha vez, creio que não irei morrer porque serei apenas transladado.


Minha convicção vem como se eu a senti-se das coisas que mais desejo e não pudesse tê-las, me restando assim o oposto como se ele fosse a única escolha. No entanto, já é tarde demais pra dar uma volta. Fecho a porta do quarto da mesma forma que já fiz das outras vezes. Acendo o cigarro na beira da janela crendo que minha mãe não irá desconfiar enquanto as pessoas passeiam de madrugada indo e vindo de qualquer lugar.


As idéias, verdadeiras donas de minha cabeça, começam a me povoar e logo os pensamentos mais baderneiros param de se manifestar. De todos os caminhos que poderia seguir, acho que somente por hoje, esse realmente é o meu lugar.


Ricardo Magno

Unio mystica

Lá vai mais uma metáfora chata sobre a vida. Nesta eu a identifico semelhante a um cigarro cujo as últimas tragadas são sempre as melhores, embora também sejam as mais amargas. Ou vocês nunca assistiram ao Curioso caso de Benjamin Button. Então! Benjamin Button é a prova literária e metafísica de que o corpo envelhece à medida que a alma rejuvenesce. E lembrem-se que em si tratando de metáforas nunca devemos deixar escapar de nosso crivo examinador o fato delas sempre estarem carregados de um enorme teor de personalidade e parcialidade.


Como pode meu cachorro ser tão feliz mesmo não sabendo o que é felicidade? Vai ver que é por causa disso ou sou eu que não compartilho de suas lástimas. No meu caminho, o desejo de chegar se faz como se fosse o meu guia. Cada noite pode ser a última. Por isso, amem igual aos bons amantes que em todas as noites se despedem achando que foi pela última vez.


O que escrevo pode ser uma merda, mas é uma merda que somente eu sei fazer. Quando nem eu mesmo posso ser um porto seguro para meus amigos, em quem realmente poderemos crer se às vezes até meus pais se decepcionam comigo e eu com eles?


Enquanto isso, ponho uma música e a deixo dançando sozinha no instante em que vou dar uma volta no baile pra ver se ela para de brincar, e quem sabe, pra encontrar alguém que queira jogar de verdade. Meu jogo é não jogar!


Me dá uma página pra escrever é a mesma coisa que me por dentro de uma lata de sardinha, é a mesma coisa que tentar enlatar meus pensamentos. Se vós estais preocupados em descansar, então me desculpem, meus amigos! Pois eu não escrevo para leitores preguiçosos.



Ricardo Magno

Minha profissão

De todos os que nascem sempre há aquele que veio para ser crucificado. Se ele foge do seu destino então é porque não é predestinado. Pois o eleito é sempre aquele que tem os feitos consolidados.


Com calos nas mãos e de pés engessados, assim segue a longos passos o caminho do abençoado.

Com a dor estampada e o suor pregado, assim segue o caminho daquele que os outros chamam de coitado.

De sorriso extenuado mesmo numa face corada, assim é a feição daquele que os outros dizem que é um “pobre diabo”.
Nunca tranqüilo e muito menos calmo, assim é o estado do menino sacro.

Em algumas horas estável, em outras horas incauto; assim passa o tempo do menino mágico.

De coração na mão nunca diz não e ainda estende a mão quando lhe dão um pisão. Assim é a alma de quem não tem orgulho de pedir perdão.


Olha para um cachorro e só vê o rabo, para uma alma e só vê pecado. Assim é a percepção daquele que é dito um ser imaculado.

Odeia confusão e sempre prega a união de todos os lados. Assim se cumpre à missão do menino enviado.

Com pouca raiva no coração, somente guarda a necessária para não se tornar fragilizado. Assim busca se proteger aquele que veio erradicar os culpados.

De pouca idade, ainda jovem, comete todos os deslizes da mocidade, mas sempre seguindo o desejo oculto da alma de chegar a ser além de um pobre ordinário. Assim é o menino. Aquele que foi fadado a um destino extraordinário.

Nunca ostentando felicidade, jamais exacerbando maldade. Assim se equilibra a balança daquele que só propaga o seu corolário.

Em alguns momentos, solitário; em outros casos, mal acompanhado. Assim se faz os passos daquele que de vez em quando acha tudo o que quer sem sair do próprio quarto.

Uma criança, um menino ou às vezes um jovem cabisbaixo. Assim se faz a fusão da síntese de todos os traços.

Um amigo, primo ou irmão, mas se quiserem podem chamá-lo de mais um dentre os vários Ricardos porque é assim que se faz a vida de mais um dos abestalhados.


Ricardo Magno

O coração de Muriel

A batalha continua mesmo sem querermos lutar. Numa demonstração de coragem, oprimo o medo, finjo sagacidade, e ela espanta a morte que carrega consigo a vida.




Então levanto sem tremer, falo e disfarço o titubear em uma vida que é só para agora, resumida a milhões de segundos por detrás dos instantes das horas.




Diante da pergunta, a voz se cala, enquanto o som estremece causando choque nas paredes de um coração que não sei se é mentiroso ou falso e me engana ao se portar da maneira insana que lhe ensinei a dizer bom dia.




Ricardo Magno

O Potentado de deus

Quanto mais forte for a dor mais sublime é o trabalho. Ele faz do material coisas belas enquanto eu faço do anímico. Para Pandora deixaram uma caixa. Para mim, as dores do mundo.


Tranco-me em um quarto escuro porque não sou movido à energia solar. E à medida que isso me angustia também me consola, porque somente os melhores passam pela prova de fogo, e somente os melhores entre os melhores conseguem vencê-la.


Viver! Nem que seja somente para me entender.


Para cada pessoa existe um lugar onde ela é imprescindível. A vida não é um mero entretenimento. Viver de uma forma impessoal, não desvendar seus dons e reafirmar as características intrínsecas, é crime! Foi este o melhor conselho que Sartre me deu. Salve Heidegger!


Só se encontra valor nas pedras preciosas depois que elas forem lapidadas. Sermos felizes sendo quem somos! Pois o que nos é inerente também é imutável.


Ousar mudá-los só irá causar uma disritmia entre o corpo e a alma, fazendo o comportamento ficar dissonante com a essência. O individuo único e autêntico, produto natural resultante de infinitas probabilidades, é aquele que age de acordo com sua essência, respeitando seus limites e exteriorizando sua interioridade.


A liberdade plena é o direito divino concedido a partir do nascimento. É o direito de todos os direitos por se tratar da síntese de todos os direitos. É o ser total e absoluto, físico e espiritualmente. É a evolução plena de todos os possibilismos existenciais, é o dote da ampla sapiência.



Ricardo Magno

O vocativo pocrezzunto

Eu vi o universo conspirar diante de meus olhos, deus jogar cartas com meu destino e o diabo brincar de quebra-cabeça com minha alma.
Eu senti cada nuvem se formar, adivinhei qual canto o pássaro iria cantar enquanto o mundo mudava de cor, as coisas mudavam de sabor, eu sabia que algo estava a se formar.


Como se cada estrela do céu gritasse meu nome, eu conseguia ler as linhas do zodíaco enquanto pulava corda com cada um de seus significados.


As amizades, a música, o olhar dos meus pais, tudo agora era diferente. Eu vi o tempo se equilibrar na corda bamba e me convidar pra entrar na dança, e receoso não quis.


É como se a mim tivesse sido revelado todos os estratagemas de deus, o mapa do universo diante de meus olhos e meu coração numa nova batida.


Na circulação do meu sangue eu poderia navegar, nas ondas cerebrais da minha mente eu poderia surfar. Foi desvendado o meu inconsciente e agora não havia lugar onde eu pudesse me esconder. O todo estava em todas as partes como um panóptico a me observar.






Ricardo Magno

O Leão e o Dragão

Os limites são inevitáveis. Às vezes, a liberdade incomensurável se encontra justamente em aceitar que existem regras e leis inalienáveis, pois o livre-arbítrio é a possibilidade de escolha ao que nos sujeitarmos. Isso é alcançar uma dose do sabor do que pode vir a ser o supra-humano, o ser humano de verdade.

Da mesma forma que existe um limite também existe o limite do limite. Porque é somente quando reconhecemos e aceitamos - de certo modo - nossas restrições, é que nos tornamos aptos a galgar na obtenção das fronteiras maleáveis. Somente assim os limites se ampliam dentro de suas próprias extremidades.


Ao olhar para um automóvel, percebo e aceito que meu corpo não é revestido de lata. Ao olhar para as nuvens, percebo e aceito que é a regra da livre associação que manipula algumas imagens à medida que uma das faculdades do cérebro é trabalhar sempre em busca das semelhanças em coisas diferentes. Oh grande dádiva!


Tendo perdido o próprio mundo, agora quer conquistar o seu. Enquanto a criança é uma santa afirmação, o Leão ainda não pode criar novos valores. Mas somente ele é capaz de criar a liberdade que cria novos valores e dizer um sagrado não a tudo que representa “O tu deves”. E por mais que se escreva, nem se ele fosse Freud poderia saber o que se passa nas almas.


Ao negarmos a dor e o limite como matérias da realidade, pelo contrário! Só se restringe e provoca tortura nos seres que se dizem homo sapiens. Mas usando a inteligência com coragem e honestidade para superar preconceitos hereditários, pode ser que se depare com covardes de mentes medíocres que não conseguem entender o processo da posteridade, e por isso ficam dando murros em ponta de facas. São esses tipos de pessoas ignorantes que provocam mais violenta oposição ao se levantarem cada vez mais raivosamente a servindo de empecilho, percalços para os avanços da humanidade.


Ricardo Magno

O Abismo e a Escama

Quando o abismo começa a olhar para mim, eu também olho para ele até vermos quem devorará o outro primeiro. Já as pessoas não conseguem si quer passar um minuto sozinhas consigo mesmas enquanto eu mais morro de medo é dos outros, pois a dor sempre dói com a mesma intensidade da primeira vez.


Quando eu tiver cinqüenta anos... Sei lá! Arranjarei um emprego que me pague uns mil e quinhentos reais, alugarei uma quitinete, comprarei um note book, televisão, som e dvd. O que sobrar, sem filhos e nem mulher, ficará para a cachaça, pois não me casarei. Não deixarei e nem carregarei nenhum fardo que não seja o meu. E viverei como todo bom Lobo da Estepe faz: Sozinho! Disso eu sei que a vida há de cuidar para mim. Um ponto onde não precisarei me preocupar.


Meu pai e minha mãe não precisam se preocupar, pois eles não chegaram a ver o que nos últimos anos eu venho a me tornar. Na metamorfose final, eles não mais estarão aqui. E isso será necessário para que a metamorfose final se concretize: Eu abrir mão de todas as escamas sendo que esta será a última escama que cairá do meu corpo.


Nem felicidade e nem tristeza, apenas escama. Nem luz e nem escuridão, apenas abismo. Um abismo separando cada um dos seres que sou, de mim mesmo; cada minuto ou segundo que vivi, de si mesmo. Até eu chegar a sensação de nunca ter sido nada, até me tomar de assalto a impressão de nunca ter vivido nada, apenas sonhado o tempo todo dentro de um sonho. E quando a última escama cair já não poderei mais saber ao certo quem sou. Desconhecerei todos que estiverem no meu espelho, desconhecerei a alma, e serei eu renovado e novamente.



Ricardo Magno

Poeira no deserto

O momento certo que nunca chega parece uma hora que nunca irá chegar. Enquanto isso, eu quero mesmo é me espalhar pelo mundo que nem poeira no deserto e deixar jorrar todas as minhas potencialidades.


Não quero mais ser somente eu, quero ser tudo e todos ao mesmo tempo. Quero seguir todos os caminhos, percorrer todas as trajetórias, abarcar o mundo até asfixiá-lo com meu fôlego incansável.


Conhecer outros lugares ou não conhecer porra nenhuma, tanto faz! O que mais quero é só não ser eu mesmo todos os dias porque fugir da rotina não tem nada a ver com se tornar outra pessoa. Uma nova pessoa só nos traz uma nova rotina.
O que não quero mesmo é me enquadrar, ficar quadrado, mesmo que seja pra melhor, nunca mais ser nenhum dos Ricardos. Quero ser todos e nenhum ao mesmo tempo a fazer caminhos sem deixar rastros.


Mas esta vida certinha, cheia de horas e comportamentos condicionados, isso não dá! É disso que fujo porque o que mais quero é me “descondicionar”. Desprender-me do tempo e do espaço e permitir que as capacidades brotem me tornando um ser atemporal.





Ricardo Magno

Na calada da noite

Se hoje à noite os anjos descessem do céu e quisessem me visitar, juro que não me importaria. Acalmar minha alma ao som de doces melodias na adorável companhia dos timbres celestiais.


Se somente hoje o exército de deus estivesse disposto a me visitar quebrando protocolos e rompendo com toda a burocracia, juro que não me importaria. No meio do marasmo ver feições meigas e estar diante delas onde ninguém mais poderia estar.


Se somente agora, neste exato momento enquanto ninguém nos pode ver, se dos céus a mim fosse enviado como que por segredo um de seus mensageiros, juro que não iria me incomodar. Um carinho sincero, um afago verdadeiro, não seria nada mau diante do desassossego da alma.


Mesmo que fosse somente a me empreitar, que não quisessem ou não achassem conveniente se revelarem, pois que esperassem que eu dormisse e então através de um sonho me visitassem, juro que nada disso poderia me causar mal. E acordar de manhã cedo com o quarto exalando o perfume angelical como se todos os jardins do Éden agora fizessem parte de minha casa.


E se por um brinde deus, ele ousasse me sortear, e lá do céu quisesse me dar um presente direcionando sua escada para minha morada no meio da madrugada, juro que não iria acreditar. E senti-lo em minha vida nos momentos mais vazios, tê-lo ao meu lado nas horas em que mais preciso, e saber que alguém ora por mim no meio das circunstâncias em que mais necessito.


E quem sabe se não é o vento que às vezes sopra meus cabelos juntos com os pêlos que por hora se arrepiam, não sejam apenas os sinais de uma visita inesperada, dando provas de que nunca estive só nos momentos em que mais precisei de alguém.


Ricardo Magno

Fogo Fátuo

Ser apenas como o fogo... Que quanto mais sopram mais vida obtém.


Ter somente a força de uma brasa... Que quanto mais tentam apagar mais uni energias em um ser.


... Imitando as minúsculas fagulhas a serem consumidas pelas simples poeiras de nossos planos.


O que escrevo não servirá para nada se um dia não puderes ler. Nunca desista! Deixe a vida fazer isso por ti.




Ricardo Magno

Meu templo, nossa morada

Igual a um químico que conhece exatamente a tabela periódica, assim quero ser intimo de cada parte de tua carne; porque fui eu que elaborei as mais belas fórmulas e só eu sou capaz de contemplar devidamente as tuas partes.




Cada átomo de tua alma, cada molécula de tua pele e toda a harmonia perfeita do teu ser em nada fogem aos meus olhos.




Minha vontade é somente uma: mergulhar em ti e me deixar levar pelos caminhos longínquos.




Meu propósito é somente um: familiarizar-me com cada uma de tuas partes até não conseguir mais discernir uma lingerie de um pensamento. Te absorvendo por inteiro e fazer do nosso templo a minha morada.




Ricardo Magno

O érebo de nossas causas

Escrever mais uma carta de amor, o bis dos apaixonados? Não!
Descrever teus contrastes e por horas e horas viajar no nosso esquecimento? Não!


Apenas pensar em ti como faço todos os dias e te fazer oferendas sem que tu saibas. Porque depois que partistes vivo na escuridão eterna, sendo que o teu corpo era o poço da minha vida imortal.


Salientar teus seios é como revoltar dois cumes, percorrer feliz tuas campinas e disfarçar a dor dentre nosso deleite.


Junto a te, reencontrar minha parte perdida, responder desesperadamente feroz ao teu cheiro, estimulo natural dos meus instintos.

Te focar em meus desejos, te despir em minhas fantasias, construir sonhos com a ajuda de tua companhia, encontrar prazer na cama que tu deitas, fogo em teus lábios e sentido em nossas vidas.






Ricardo Magno

Rosa de Carmesim

Somente a te pertence meu sono como se ele nunca houvesse sido de mais ninguém.


É assim que me dominas
Igual a uma criança com medo da mãe.


Na noite serena o vento sopra teu nome insinuando prazer enquanto eu vivo a morrer.


... Foram também teus todos os meus sorrisos mais belos
somente os verdadeiros, aqueles que realmente me fizeram feliz...
A alegria inesquecível.



Ricardo Magno

Volúpia-rosa

A vontade que tenho é de gritar bem alto: - Eu te amo! Mas abafo a voz e deixo-a ir embora.


Vivo com uma esperança: você! Minha única esperança.


Talvez felicidade seja o que senti ao teu lado e não me lembro mais. O desespero usurpou minha memória. Recordo as rosas e sua libertinagem sensual com o ar.


...Pois o fascínio da sedução é conquistar alguém sem a deixar perceber que está sendo conquistada.







Ricardo Magno

Ainda

Hei! Não precisa ficar triste se eu não estiver ao teu lado quando se sentires desamparada. Faça tudo exceto chorar porque eu ainda te amo.
Não perca noites em claro imaginando com quem e por onde ando. Continue rindo e sendo feliz porque eu ainda te amo!


Não se importe com os obstáculos e as incertezas do destino, pois nada me servirá de motivos pra deixar de pensar em ti. Enquanto todos os caminhos forem os mesmos, continuarei sempre aqui.


Vejo-te por todos os cantos e até nos mais difíceis ângulos. Em um dia florido ou no meio de uma guerra... Em qualquer lugar nunca fique triste! É que nosso dia já está chegando.


Muito bom é ter-te ao meu lado mesmo que seja como se não tivesse. Passar a ver-te por algumas horas aproveitando ao máximo tua companhia antes que o momento se dilua.


É que a vida fica mais nítida através dos olhos de nossa história enquanto caberá ao tempo nos dizer novas glórias se um dia tivermos que definitivamente ir embora.



Ricardo Magno

Folhas-faíscas

A tua carne me queima como as labaredas do inferno. E deslizar por sobre teu corpo como uma serpente a rastejar no sol do deserto.




Seguir a dança de tuas cadeiras e rebolar de prazer na tua cintura, para correr o risco e pagar o preço de percorrer pelas sinuosas rodovias de teus desfiladeiros a ver de dentro de ti mais um pôr-do-sol enquanto contemplo as formas-curvas de tua pele.




Se despir do pudor e da racionalidade para me apresentar nu ante a tua face apenas sendo um homem que se deixou entorpecer perante a formosura de tuas carnes.




Ter sob o meu controle toda a tua voluptuosidade, se deliciar de cada grama das tuas partes beijando cada molécula que constitui a tua carne sentindo o aroma de cada átomo da tua alma até chegar a ser dominado pelo que se domina.




Ricardo Magno

Dilema

É o que vem de ti que me interessa e não o que vem. Talvez nunca vás entender isso ou até mesmo nem chegaras a saber do que se trata, mas é assim que as regras foram estipuladas em qualquer parte do planeta.




Com uma imensa habilidade para entender tudo o que é complexo, desenvolvi uma rara capacidade para complicar tudo o que é simples, me fazendo não querer arriscar como também achar prudente nunca pôr ninguém em risco.




... Porque tudo o que não entendo sempre acaba me dominando, e tudo o que me domina sempre acaba me controlando, pois não gosto de me ver como uma presa fácil. Por isso nunca negligencio as coisas do coração.




Em meio a várias mordidas e dilacerações, busco ser forte para aqueles que precisam, e mesmo antes de partirem já sinto suas faltas porque sempre farão parte de minha vida.




É que sou um pouco sensível e qualquer desejo muito prazeroso sempre acaba me arruinando.






Ricardo Magno

Iakov

Eu jogo pedras no lago e vejo a água não formar nenhum movimento. Uma mulher de idade agüenta um homem jovem, do contrário, a empreitada se torna um pouco mais difícil.

Com quase 30 anos, acho que nunca farei nada; mas se um dia eu fizer, espero que seja algo que fique para a posteridade, embora, dia após dia me acomodo mais com os modos da humanidade.

Vejam só o meu histórico! Minha vida pregressa! Há muito as coisas não vêm dando certo, e sinto que ainda estou vivendo intensamente esta tão lamentável fase onde tudo é uma perda, derrota, mas também lição e aprendizado.

Uma noite em um bar é como fazer uma estadia no inferno. Estamos sós! E esta é a única verdade da qual nunca espero esquecer. Do mais, todas as palavras se evaporam muito fácil.

Pra que ficar lutando, batendo cabeça com o destino, brigando com os deuses, tentando burlar a natureza somente pra tentar fazer alguma coisa que nunca acabe, quando o propósito, a essência de tudo o que começa é justamente terminar!!!

As coisas acabam e por mais que isso fira o nosso ego, elas são assim e eu tenho que aceita-las.
Todos os relacionamentos acabam. A questão é saber se é antes ou depois de morrermos.

O passado já existiu e não podemos fazer mais nada. O futuro ainda não existe, ele é um lugar onde hipoteticamente existiremos. Sendo assim, o presente é a única coisa que temos.

...E após mais uma experiência amorosa fracassada, cá estamos nós novamente. O destino nos pregou uma peça, seguimos esse atalho como se ele fosse o caminho verdadeiro, e agora, mais do que nunca, só nos restou um ao outro.

Sendo assim, acho que não seria tão impróprio eu dizer que te amo: Eu teamo!


Ricardo Magno

A princesa-confusão

O futuro é o traço onde me confundo, onde a deusa dos meus sonhos enrosca em mim seus cabelos. E é dela que vem a única saudade da vida. A vida que me confunde, a vida que se confunde, a vida que me faz viver, e às vezes parece estagnar como se nada houvesse existido e nada mais existirá.


É dentre um sorriso de princesa que acaba o meu mundo. Na aflição noturna de um imaturo coração que sonha com os dias e com as noites em que ela vem me visitar, e depois de sair da sua casa pensa que o mundo irá acabar.


Pobre menino amigo das mentiras mal contadas. Dorme tarde, acorda mais tarde ainda, e o pior pesadelo é o pessimismo da alma de uma vida sem perspectiva porque ainda é jovem e esta é a primeira vez que vê seus pais chorarem, seu amor partir e o mundo inteiro cair aos seus pés e ele sem saber o que fazer.



Ricardo Magno

Confissões noturnas

O sol queima como uma fogueira no céu a dispersa centelhas celestiais no rosto da noite.


A purpurina que banha e ilumina toda a terra na ausência de luz quando os homens estão mais apaixonados e suas mentes mais obscenas.


Uma estrela é só uma fagulha no céu, filha cintilante do caldeirão de hélio iluminando a vida onde não há vida.


A Lua é um imenso espelho da natureza noturna, dividindo conosco a dádiva de todos os dias, a ser agraciada pelos raios de sol.


A Lua é a progenitora da noite a direcionar para nossas vidas os raios de sol que se perderiam no espaço como se eles fossem o fios perdidos de Amon-Há.


E é somente assim que se faz possível nossos destinos se cruzarem, porque todo o fogo que queima aqui embaixo veio de lá. Todo o calor que nos arde por dentro veio de lá, onde donzelas imitam serpentes, seduzindo com suas formas, príncipes encantados.


Do mais, pode até haver posse sem sentimento, sendo que do contrário, não há sentimento sem posse.




Ricardo Magno

Peço a deus

Peço a deus (suposto pai do mundo) que me revogue clemência e amor, em meio ao desatino dor. É dos céus que espero uma ajuda, aquela que sempre hei de esperar.


Por que quando gritaram meu nome não pude escutar? Logo eu! O que tantas vezes ficou mudo de tanto chorar. Mas agora desejo que somente uma pessoa grite meu nome, somente TU que sabes bem quem és. Enquanto isso, a vida continua me fazendo de palhaço, pois só a mim concedo tais palhaçadas.


Fui por muitas vezes culpado por um crime, o crime amor. Aquele que com a mesma arma que mata, morre. Inocente, ninguém quis me condenar e condenação pior foi à solidão. No meu quarto mora eu e um tal de Jesus Cristo, cujo nome sempre me foge nas horas difíceis.


É entre um gole de bebida que me reconheço. Amo pessoas fáceis, falsas, fúteis... Então, a porra do mundo cai enquanto me preocupo em ficar rico. Mas continuo aqui dentre vós, sem que percebam si quer uma ferida. Agindo como um monstro, contendo o ânimo apenas por medo dele ir embora. E se dessa vez ele for, juro que não vou suportar.


Cadê meu caminho? Há pouco tão nítido em meus olhos. Se foi mais uma vez a certeza, esta que sempre foi tão passageira em minha vida. Eu fui deus antes do tempo e então chorei porque minhas feridas ainda estavam vivas, me fazendo viver e sendo minha única fonte de consumo.




Ricardo Magno

Poesia

Igual a uma gota de água perdida no oceano, assim é a alma em meio ao sentimento do mundo.




Como ir a um oceano e pegar uma gota de água, assim é fazer poesia ao fisgar significados e sensações escondidos por detrás das palavras.




Poesia é uma vida inteira resumida em um segundo. É como saborear todas as emoções ao beber um copo com água.




Poesia é morrer e nascer todos os dias, é o antes e o depois de nossa existência, é se conectar com a eternidade.




Não se entende, não se cria, poesia se vive com calma. Ela sou eu, ela és tu, sendo tudo e nada, o que a torna transcendente enquanto somos imanentes.




A poesia é a tarrafa das palavras e seus sentidos históricos. Escrever é se desgarrar no cosmo e se tornar um ser atemporal igual a uma onda que nasce e morre no oceano imanifesto.




Ricardo Magno

Duas estrelas

Não sou eu que escolho as palavras, são elas que me escolhem. Nunca criei nada, tudo já chegou a mim pronto como estava, pois a discrição é uma das chaves do meu pensamento.


De tanto tentar ser perfeito mais me aperfeiçôo em ser eu mesmo. Tenho uma alma que sem sair de casa já cruzou o mundo enquanto as pessoas só conseguem aprender com o que vivenciam, eu sei mais é do que sinto.


Um refúgio contra o dia a dia, contra a sociedade, contra o sistema e contra mim mesmo: meus escritos. É justamente neles que me encontro em um lugar onde nenhum problema me atinge.


Quando todos dormem, minha alma se dispersa do mundano, do corpóreo. E sendo assim, meus pensamentos se tornam um só, fazendo de meus escritos minha cápsula do tempo.


Nunca foi confortável viver como imagino que seja morrer. Não acredito em resultados, creio nas possibilidades, pois são de possibilidades que se fazem resultados... E meu pai e minha mãe como as duas estrelas que iluminam todas as constelações.






Ricardo Magno

O menino e a sua hora

É quando todos os olhos se fecham que os meus se abrem. Resisto bravamente enquanto todos morrem.

Muitas pessoas não entendem o processo que está se fazendo, por isso olha para mim e pensam que sou eu que estou morrendo.

A dúvida no meu coração sempre foi algo atemorizante, fazendo eu me sentir muito mal como se fosse esmagado por um elefante.

Dos poucos amigos que me restaram, poucos ainda conseguem me entender. Talvez por eu ser realmente raro ou por eles nunca desejarem me compreender, embora eu saiba que o que digo nem todos os ouvidos estão aptos para saber.

O caminho que trilho não foi o caminho que escolhi trilhar. Os obstáculos que enfrento não foram às paisagens que desejaria admirar. E é a isto que ninguém entende, e é justamente isto o que menos sei explicar.

Para uns eu sou muito imóvel, para outros eu sou muito estático, mas o que poucos sabem é o que se passa na essência de um ser pra lá de enigmático.

Para muitos minhas palavras são apenas insanidade, muito distante dos seus mundinhos e das suas doces verdades. Para outros não passo de um falso sábio legitimado por um traje de covarde totalmente alheio ao mercado financeiro, disperso das objetividades. 

Mas o que poucos sabem e muitos nunca conhecerão, é o segredo da vida escondido na boca de um Leão e cuspido pelo fogo da eternidade.

Minha história não é simples e nem bela, nova ou velha, e enquanto o mundo seguir adormecido de olhos arregalados, é do desconforto de minha alma que mantenho meus sentidos ligados.

Através de risos ou lágrimas, uns só vieram para se entreterem, pra pensarem estar vivos sem nunca nascerem. Enquanto outros que verdadeiramente existem é como se nunca vivessem, são apenas os protetores dos cegos antes que os sinais se fechem.

A mais pura verdade é que dentre todas as amizades, uns poucos conseguem nos entender pelas palavras, enquanto aos outros só lhes restam esperar as obras. E será o arabesco de nossos feitos e a soberba de nossas horas que serão capazes de lhes fazerem entender os porquês de tanta demora.


Ricardo Magno

O adestrador de palavras

Eu domino as palavras como os adestradores dominam as feras. Vivo de um jeito displicente igual ao dos suicidas que encaram a morte. Estou preso a emoções como um tirando que ama o poder. Sinto o anseio de viver igual a um bebê que se afoga na placenta.




Perdido por entre as perturbações da alma, confuso entre os pensamentos nefastos, consegui encontrar um ponto de apoio. É que a lucidez irrompe barreiras da mesma forma que a luz cruza a imensidão do espaço.


No meio da loucura encontrei sanidade, que sendo perfeita não poderia ser melhor, que sendo maravilhosa não poderia ser mais extraordinária.


Se há um problema, quero resolvê-lo, não importa o que seja. E nunca iniciar um livro para deixá-lo aberto, nunca começar uma história se sai que não vou terminá-la. Nunca excitar em vão à imaginação alheia.




Num lapso de sanidade, pude entender tudo. É que a necessidade veio de mim enquanto a vontade ainda está aqui, e foram elas que me fizeram chegar a ti.




Ricardo Magno

O oásis-caos

Fazer vigília aos meus pensamentos simplificando quase tudo o que digo. Então, falo “meu” mesmo quando vós sabeis que a sensação é minha.




Escrevo quantos “quês” eu quiser! Que se fodam os medíocres queístas! Pois de prisão já basta à vida, onde me vejo sempre condenado a tanta liberdade.




Eu falo de mim por não ter do que falar, enquanto o ego me prende e sair de mim mesmo se tornaria mais do que tudo. As palavras que uso aleatória e matematicamente permutadas, dizem quase tudo o que penso, não dizem nada.




É que, no caminho da verdade muitos se perdem, outros desistem antes de começar à medida que a maioria nunca nem ouviu falar.




Eu falo de mim mesmo por não ter do que falar, eu uso as mesmas palavras por não conhecer outras melhores. No entanto, os significados são maiores do que eu e a única vida onde me enxergo é dentro do deserto de mim mesmo.





Ricardo Magno

Mural das explanações

Abster-me dos males da Terra e recôndito dentro de mim me tornar um novo homem. Pois o bardo não pode ser um pássaro preso na gaiola da vida, mas de certo, ele é uma alma presa na gaiola do corpo.


Que o homem pleno se faça homem e que o homem se faça pleno.


Quanto mais faço o bem mais me sinto próximo de deus. Sei que a escada é longa, e por isso quero ajudar o máximo de pessoas possíveis para logo me encontrar com o pai.


Minha sede de deus é tão grande que prefiro correr o risco de um dia descobri que ele não existe a me deixar levar por mentiras; pois nem sempre que se fala de deus necessariamente esta se falando de religião, mas de certo, sempre que se falar de religião estará se falando de deus. Não existe um vínculo indissolúvel de deus com a religião, mas onde houver uma religião é indispensável que se tenha um deus. É a fé como uma muleta!


Bendito é o deus que não tem ouvido mas me ouve, que não tem voz mas fala comigo. Louvado seja a tua face invisível que se faz presente em todas as coisas do anonimato, o teu gosto discreto pela sutileza e a engrenagem miraculosa através da qual se faz firme a tua vontade.


Que bom seria se tudo só dependesse de mim enquanto o destino joga bola. Mas o que mais me apavora é a ação de uma força externa que demora, a vulnerabilidade do acaso que me controla e a incerteza do futuro que me devora.


Talvez meus defeitos sejam minhas maiores dádivas e por isso as pessoas se sentem tão incomodadas. Pois o que não podemos fazer, deus, por natureza já nos impossibilitou de fazermos, mas o que não querem que façamos, ai já é uma questão de controle social.


Não há grande homem sem grandes provações e somente quando me desprender de tudo é que tudo vai me pertencer. Conseguir bem mais do que o que quero e alcançar muito além do que imagino.
Os cidadãos fingem se revoltarem contra o que está errado para na verdade se revoltarem contra o que não os favorecem, e acabam se esquecendo que não existe reinado eterno de um homem só que não possa ser compartilhado por todos.




Somente pelo motivo de se querer algo (o desejo) e por meio da vontade é que a coisa se torna sublime. E por detrás de tudo o que se quer é que se esconde o verdadeiro motivo. (Fugir da felicidade imaginável para alcançar a despretensa felicidade inimaginável).


Não se evita a derrota, apenas se adia a vitória. Não acredito que o que acontece é o que deveria ter acontecido. Simplesmente vejo o que acontece como algo que aconteceu.


Numa crise de identidade, o meio nos força a sermos quem não somos. E nos tornamos pior do que o que somos, nos tornamos pior do que o meio.
Das virtudes mais belas, ou os outros vêem ou aqueles que as têm não podem dizer nada. E se a morte não for um alívio ao menos será meu maior desdém.

Ricardo Magno

Poema Líquido-Concretista

Por não ter medo da solidão, sempre acabo indo de encontro a ela. Beirando os trinta e com a maturidade que tenho hoje, se eu conseguisse sentir o mesmo que sentia aos quinze, poderia facilmente chamar isto de amor. Mas minha vida não passa de um Poema Líquido-Concretista de cachaça, sem graça, desgraça.


Muitas coisas foram difíceis para eu entender, pô-las no lugar. E mais difícil ainda foi compreender que outras coisas nunca haveriam de serem entendidas, respeitá-las e deixá-las como estão. Mas é sempre em meio ao cálculo de probabilidades que aparece o número zero de possibilidades.


Me perdoem a cacofonia! Mas como um dos piores campos de batalhas que já existiu, Solferino deveria ser era “Só feridos”. Quando a guerra não poderia surgir se não fosse de outra forma, então por que a Convenção de Genebra haveria de exigir a capacidade de manter relações com outras Nações como pré-requisito indispensável para que uma Nação seja considerada Nação perante os órgãos responsáveis, ou a guerra está intrínseca a humanidade?


Branco como a cor dos olhos de um cego onde cada ponto se sobrepõe a alvidez de uma noiva virgem que não existe mais, assim o céu continua perfeito. E se ainda é um grave erro começar uma hostilidade sem aviso, pior é deixar que ela aconteça.


Confiar ou deixar de confiar em uma pessoa não faz a menor diferença. Só nos mostra o quanto somos cínicos ou tolos correlação as perspectivas que outras pessoas prometem nos dar. Existir em um mundo caótico e ao mesmo tempo não ter uma vivência desorganizada é o mesmo que não existir. Pois quanto menos se pensa no conflito mais rápido se acha a solução. Então, seja o que deus quiser e o que a gente quiser que seja.



Ricardo Magno

O Estômago do Coração

Vivendo em um mundo onde as pessoas que nos distraem são bem mais remuneradas do que aquelas que salvam, protegem e abrem nossos olhos; se deus tivesse uma mensagem importante para ser dita em apenas um parágrafo, em poucas palavras ele diria: “Vocês entenderam tudo errado”. Completo, eu: pois o sistema está às avessas.


Até hoje não me canso de se espantar com a ignorância e a falta de comunicação entre as pessoas que se amam. Mal conhecemos uns aos outros! E como diria Rui Barbosa, frente aos cínicos, os honestos sentem vergonha da honestidade quando um juramento de veracidade trás a suspeita de mais um engodo do jogo da sabotagem. Levar a vida sem expectativas e sem necessidades de resultados, isso é liberdade.


Em grande parte, a toda hora, a vida se resume a isso. Pessoas que não acreditam na sinceridade dos outros, amigos enganado amigos, relações sucumbindo ao temor da hipocrisia e do sofrimento desnecessário. Jogando com todos e contra si mesmo, no campo psicológico da humanidade, os vetores que menos têm proximidade conosco são os que mais nos afetam; porque, quando vamos julgar alguém sempre fazemos isso baseado nas experiências que tivemos com outras pessoas. Isto é a vida! Este maldito campo de batalhas pelo qual me recuso irredutivelmente a partilhar.


As palavras perdem a força quando deixamos de acreditar nelas. Nunca foste capaz de medir o que eu sentia, então porque se deixou levar pelas incertezas e vilezas da vida a crer no que estava diante de teus olhos? O amor sempre esteve comigo e bem diante de teus olhos. O amor e tudo que ele trás e não conseguimos enxergar. Querendo tanto vê-las, sempre seguindo avidamente na busco disto, e tarde, percebemos que elas já não estão mais no mesmo lugar.


O começo ainda nem começou e já me sinto cansado de dar à cara a tapa. Isso é apenas um aperitivo no qual eu sou mal servido e ingerido indigestamente. Faço questão de sempre que puder ser indigesto a todos vós. Desejo, do fundo de meu estômago e coração, do estômago do coração, que vós tanto quanto eu, tenham a maior dor de barriga de suas vidas. Diante dos olhos, sem quase nunca enxergarmos, temos tudo o que queremos. De agora em diante, me recuso inexoravelmente a freqüentar lugares onde sei que não há nada para mim. Passei da idade dos experimentos.


Ricardo Magno