7 de julho de 2010

Werther


Se aquele mesmo que ocupa o primeiro lugar tão raramente desempenha o papel principal, então por que os insensatos não vêem que o cargo não tem a mínima importância? Talvez seja por ser aquele que ver mais longe sempre poderoso e fino o bastante para dirigir as nossas faculdades e paixões no sentido da realização dos seus desígnios.


No meio de uma multidão de estranhos, completamente estranhos ao meu coração, o meu primeiro pensamento foi para você e pela primeira vez encontrei um momento de felicidade. Mas se pudesses me ver naquele turbilhão de distrações, o quanto tudo em mim se tornou árido e seco, chegaria até a se perguntar se tudo não passava de ilusão.


Como se manobram fantoches, desempenho tão bem o meu papel de deixar ser manobrado. No entanto, pego a mão de madeira do meu vizinho e recuo horrorizado. Todas às noites prometo-me o prazer de assistir ao raiar do sol e depois não me decido sair da cama. Durante o dia, na espera de rejubilar-me com o luar, permaneço no meu quarto como quem está diante de uma caixa de surpresas a ver pequenos bonecos desfilarem.


Não sei porque me deito e porque me levanto. Falta-me o fermento que dá sabor à vida, o encantamento que me despertava alta noite; aquilo que pela manhã me arrancava ao sono, desvaneceu-se para mim. Não sendo possível de outra maneira, às senhoras dizem que ninguém é capaz de louvar e mentir tão finamente como eu.


Quero lhe falar do ser, daqueles que por terem uma bela alma proporcionalmente carregam um fardo pesado por não conseguirem satisfazer a nenhum dos pendores do seu coração. Eles aspiram a sair desse caos e assim passam horas inteiras em imaginações, entre as cenas campestres onde reina uma felicidade sem mácula.


Ali! Meu caro amigo, onde a alegria é tão fugaz quanto é bela e preciosa, não há tesouro mais raro e comparável à paz de espírito e a estar satisfeito consigo próprio. No entanto, quantas vezes terei que pedir-lhes, de joelhos, que não rasguem as entranhas com tamanho furor?


Ricardo Magno

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