23 de novembro de 2011

O Estilo de Arte das Loucuras Ordinárias


Estilo é a resposta de tudo! É o jeito especial de fazer uma tolice ou algo perigoso. Antes fazer uma tolice com estilo do que algo perigoso sem estilo. Fazer algo perigoso com estilo é o que chamam de arte.

Uma tourada pode ser arte. O boxe pode ser arte. Amar pode ser arte. Abrir uma lata de sardinha pode ser arte. Poucos têm o estilo. Poucos mantêm o estilo. Já vi cães com mais estilo do que homens, apesar de que poucos cães têm estilo. Gatos têm muito mais estilo.

Quando um suicida estoura seus miolos, teve estilo. Há pessoas que dão estilo. Joana D’Arc tinha estilo. João Batista, Jesus, Sócrates, César, Garcia Lorca... Homens na prisão têm estilo. Há mais homens com estilo na prisão do que fora. Estilo faz a diferença. O jeito de se fazer, o jeito de ser feito. 

Seis garças tranqüilas na beira de um lago ou um desenho da Disney com um castelo de pênis como mensagem subliminar podem ter estilo. O velho aposentado bêbado que paga cinqüentas reais pelo programa com a jovem prostituta masoquista, tem estilo ao dominá-la pela alma usando o pau.

Ao fugirem de casa, garotinhas de quatorze anos fazem sexo com idosos de sessenta anos, e isso é arte com muito estilo. Quando a arte está acompanhada de estilo todos se perdem. Pois estar com os bolsos vazios, mas ainda restar seis latinhas de cerveja é arte.

O lobo mal teve bastante estilo para devorar a vovozinha enquanto ansiava comer a chapeuzinho vermelho. Três porquinhos numa casa frágil é arte. João e Maria cometendo incesto no meio da floresta é uma forma de arte bem refinada.

Quando perdidos encontram o caminho de casa e chegando lá querem beijar o chão; um antro de gigolôs, prostitutas e artistas decadentes também são arte. Até mesmo a pura realidade desesperadora 24 horas por dia é arte. E por isso é necessário sempre amar as ruas.

Sem perspectivas, ir à praia no horário comercial antes do meio dia e encontrar uma loira estonteante de deixar qualquer um com o pau duro, é arte premiada. Pois é preciso ter uma generosa cota de estilo para conseguir emitir sinais com todos os apelos sexuais em uma bunda maravilhosa.
Sexo com estranho é uma obra-prima! E ficar, após o coito, despreocupadamente fumando charuto na banheira enquanto sem que se saiba, ela liga para a polícia o denunciando por invasão de domicílio e estrupo. É preciso ter muito estilo para isso.

Pegar um ônibus sem saber a direção só para seguir uma estranha na esperança de sexo casual é perigosamente um dom artístico. E precisa ter muito estilo para chegando quase lá a perdê-la de vista invadindo qualquer quitinete até encontrar o dela.

Comer alguém e depois ser entregue pelo crime de violência carnal é arte. No dia seguinte ver tudo isso virar piada após a queixa ser retira, é ter muito estilo. Uma vadia contorcionista que inventa a história para seus clientes de que ela já foi de um convento, tem estilo de sobra.

Lutar e perder todos os dias para o mesmo homem é uma grande prova de estilo nato. É preciso ter muito estilo para usar uma cueca com o desenho de uma pistola na frente, e mesmo assim, ter coragem de mostrá-la para alguém, mesmo que ela não seja especial.

Um homem que se considera paranóico tem muito estilo ao se consolar com a ambição do desejo de nunca ser reconhecido, sempre indesejado e anônimo. Preferir se embriagar a se realizar é um estilo de arte que pode ser fatal.

Arte e estilo acompanham um idoso sempre que ele trepa com uma jovem e, na manhã seguinte, sobrevive a ela. O homem que ama uma mulher e todos os dias consegui pedir para ela beijar seus lábios, cabelos, dedos, pau, saco, olhos e miolos, tem muito estilo. E se assim ela o fizer esquecer, então foi arte.

Conseguir penetrar até a alma fodendo alguém até que não reste mais nada para os outros é um dos tipos de arte mais elegante. Tentar sair de um redemoinho é arte. Nadar contra a correnteza e ser levado pelos ventos eternos é também o mesmo estilo de arte.

Chorar sem fazer barulho, apenas sentindo as lágrimas quente e molhadas que jorram de uma ferida mortal na alma, é arte espiritual. Um anjo que se espatifa por ter voado baixo demais ao estar cego pelas cinzas das recordações, faz arte em estilo.

Alguns homens de estirpe têm a obsessão de querer voltar para o ventre da mãe. Para tentar é necessário muito estilo. Conseguir é pura arte. Ir a fundo no lixo e ficar junto dos fracassados, dementes e malditos é obter estilo. E
se a loucura é como lírios em volta dos lagos, morrer quando se dorme é arte invisível só para espiar você saindo nua do banheiro sem me ver.





Montagem, adaptação e inspiração baseado no livro: Erections, Ejaculations, Exhibitions, and General Tales of Ordinary Madness by Charles Bukowski

11 de novembro de 2011

Macongo



Se não é somente o lado negativo que existe, este passa a ser um insight que vale mais do que todas as viradas de Copérnico. Para quem já havia perdido a esperança por um longo tempo, a crença da cura é apenas mais uma das mortais e mais cruéis formas de tortura da qual não se consegue estar livre.

Nos mais diversos assuntos tudo o que é escrito é feito para interpelar o outro. Pois o tempo não passa de um dos maiores preciosismos para aqueles que estão vivos. Ao estar assim, pouco importa os instantes das horas em relógios e seus malditos segundos.

E se é difícil chegar a algum lugar. Mais difícil seria ter que voltar em um caminho que não tem mais volta. Existem mais de um a nos observar. E o coração chorar pode equivaler ao mesmo que rir nos átomos de outra galáxia, em universos paralelos, contanto que sejam grandezas medidas nas suas razões inversamente proporcionais.

Quando insignificâncias são meros detalhes nas obras do acaso, se a porta batem, e se a porta entram, então por que não deixar abrir? Pode ser o medo superável, pode ser uma enxurrada, e também pode ser o indefectível nada - desamparo aprendido numa compulsão repetitiva que frequentemente causa a negação em negar. Esse é o ato estando a um passo da cura.

Na apreensão de um jogo lógico e de estatística, na mira pode estar conjecturas e cálculos em vista de um custo/beneficio que não sirva de culpa. Jaz o velho sempre que se desconhece as propriedades impossíveis, e se vai lá e simplesmente faz!



Ricco Ricardo