19 de julho de 2010

A Calúnia de Apeles na supremacia da dúvida sistemática


Como o nome já diz, é num cenário de julgamento apresentado por homens de capa preta, mulheres ao redor consolando e outras tentando aliviar para o lado do culpado, onde a pintura também representa um homem coberto de suas partes íntimas somente caído no chão e com as mãos unidas como se rezasse a nós fazer lembrar um pouco a injustiça feita para com Jesus Cristo
O julgamento de Apeles é como muitos outros que conhecemos. O rei e juiz está acompanhado pela Ignorância e pela Suspeita, suas conselheiras. Estas murmuram-lhe constantemente ao ouvido palavras venenosas, razão pela qual ele tem orelhas de burro. De olhos virados para o chão, ele nem vê o que se passa.
A Inveja vem perante ele, acusadora, e estende um braço muito comprido para alcançá-lo. Traz a Calúnia pela mão.
A Calúnia tem uma tocha acesa na mão como se viesse mostrar a luz. A Malícia e a Fraude são as suas companheiras e não param de adorná-la com flores, os atributos da pureza, que entrançam nos cabelos da sua senhora, procurando disfarçá-la.
Apeles vem, na figura de um homem inocente, arrastado pela Calúnia que o agarra pelos cabelos, acusadora. Ele está despido e de mãos juntas, apelando a uma justiça divina, superior àquela terrível “fantochada”.
Atrás deles, a horrível figura do Remorso olha sorrateiramente, por cima do ombro, para a Verdade. A Verdade aponta para cima, remetendo o inocente à justiça divina, e aparece nua, sem nada para esconder, tal como o Apeles.
Todos os outros ocultam a sua verdadeira natureza com muita roupa, alguns até evocando a pureza.
A Calúnia de Apeles, de Sandro Botticelli (1494-5) se baseia no quadro A Calúnia, do grego Apeles. Nele, o artista é injustamente acusado por um rival de tramar contra Ptolomeu I, do Egito.
Ao mostrar um julgamento baseado em pressupostos, tal acepção, além de manifestar uma caricatura injusta do cético, tende a ocultar os vestígios de um trajeto filosófico rigoroso que se toma em direção ceticista, compreendido não como atributo, mas como atitude metódica a ser conquistada.


Fonte: Revista Cult

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