19 de julho de 2010

A transformação de uma notícia verídica qualquer em discurso do novo jornalismo.

Texto original recortado do Jornal Pequeno:


'Dom Rato' é assassinado a tiros, golpes de faca, socos e pontapés

Uma confusão generalizada na Rua Primavera, Bairro Jaguarema, em São José de Ribamar, seguida de perseguição resultou no assassinato do ex-detento Alexandre dos Santos Leite, conhecido como “Dom Rato”, que morava na Rua do Fio, no mesmo bairro. Dom Rato, que ficou com as vísceras à mostra, foi morto a tiros, facadas, socos e pontapés por vários moradores da região, que se mostravam revoltados com os crimes praticados por ele.
De acordo com o sargento Edilson, comandante da VTR 53-011 (6º BPM) a vítima além de ter matado o pai, há alguns dias assassinou um homem na Praia de Boa Viagem e continuava a desafiar todo mundo, alegando que não importava quantos tivesse de matar, mas queria ser respeitado. O agente Trindade, da Delegacia de Ribamar, informou ao Ciops que Dom rato seria autor de vários homicídios e que no local, ninguém quis fornecer detalhes sobre quem participou do ‘linchamento’. O delegado Jorge Luís Sales, do Plantão Central Cohatrac, acionou a perícia do Icrim e a remoção do cadáver para o Instituto Médico Legal (IML).



Notícia formatada no discurso do novo jornalismo:


Dom Rato: o roedor que desafiou os gatos



A história que se passou na Rua Primavera tem pouco a ver com uma das mais belas estações do ano; pois as únicas flores que nasceram foram as que existem no túmulo do ex-detento Alexandre dos Santos Leite. E foi justamente atrás do “leite” que os gatos pegaram o Rato, Dom Rato! Era assim mais conhecido Alexandre.
O fato aconteceu justamente na Rua do Fio, em São José de Ribamar, no Bairro Jaguarema onde os felinos gostavam de mandar. Em um mau trocadinho, foi lá que Dom Rato perdeu o último fio de vida.
Há muito na corda bamba, matou até o pai para entrar no samba. Alexandre era o roedor mais audacioso do bairro e costuma tirar pedaços de bigodes dos gatos.
Com uma vida pregressa bem agitada, Dom Rato parecia topar qualquer parada, e foi justo na Praia de Boa Viagem que ele deu adeus para o último otário. Ele era o rei dos roedores, o príncipe dos ratos!
Ninguém nas “quadradezas” ousava lhe afrontar, pois Dom Rato não tinha medo dos gatos e era amigo dos lobos guará. “Gambe” nenhum chegava perto dele, é que este rato exalava um forte cheiro que fazia inveja aos gambás.
Sentindo-se o dono do pedaço, e se preciso fosse, matava até o maior dos gatos. Foi assim que vitimou o próprio pai, como uma forma de dizer para todos que não tinha apego por nenhum dos mortais. Assim era Dom Rato: de noite fugitivo, durante o dia arrotando caviar.
Mas como os gatos são os senhores das caças e Dom Rato a muito já era visto como um gatuno; a bicharada resolveu levá-lo para dar um agradável passeio no curtume. Sem saber, Dom Rato foi para o que deveria ser a sua Disneylândia.
Caminhava solitário no mundo dos homens, não era nenhum Mickey Mouse a se esperar. E distraído em meio às drogas, não percebeu o canto da flauta lhe ludibriar. Com a ratoeira boquiaberta pelo cheiro do queijo deixou se levar. Pobre Dom Rato! No estômago dos gatos agora é seu lar.
Enquanto isso, na vizinhança inteira a rapaziada faz festança achando até graça na lambança de atirar, golpear e matar. Alexandre dos Santos Leite continua sendo o rato mais corajoso do município.
Não tendo o menor temor em desafiar todos os bichos, morreu apegado aos vícios que em vida lhe faziam viver. Dom Rato foi o roedor mais másculo que a marginalidade já pode conhecer, e pra isso teve que expor as próprias vísceras só para fazer os outros vêem o que ninguém queria entender.

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