30 de novembro de 2010

Jack Flash: Vingança





A guerra e eu sempre nos demos muito bem. Parecia que fazia sentido. Você pensa que está fazendo o que achava ser certo. Mas não era. Cada um acredita no que quiser, mas no final, um homem tem que decidir se fará o que é certo.

Esta escolha me custou mais do que eu esperava. Fiquei naquela cruz por dias. Quando os índios-corvos me acharam e me soltaram eu estava quase morto. Os curandeiros fizeram o possível para me trazer de volta. Mas por algum motivo, não puderam me trazer completamente. E os corvos pareciam sempre estar comigo. Não me tornaram imortal. Só me deixaram com a maldição de conhecer o outro lado.

Falar com os mortos não é natural. Mas às vezes, eles são os únicos que podem indicar o caminho. Andei por todos os cantos da terra procurando um velho inimigo. Mas aí, aquele bastardo de merda me pregou uma peça e morreu incendiado em um motel.

O homem que acabou com a minha vida agora estava morto. E eu não tinha para onde ir, e um coração cheio de VINGANÇA. Então, naturalmente, me tornei um caçador de recompensas punindo os culpados onde quer que eles aparecessem. Esta é a minha história. 

Eu nasci em um furacão de fogo-cruzado e eu uivei para minha mãe na tempestade torrencial. Mas está tudo bem, agora. Na verdade, isto é muito divertido. Eu sou o vigoroso Jack Flash!

Eu fui criado por uma uma bruxa banguela e barbada. Fui ensinado por meio de surras de açoite nas minhas costas. Mas está tudo bem, agora. Na verdade, isto é muito divertido. Eu sou o vigoroso Jack Flash!

Eu fui afogado, estive acabado e quase morrendo. Eu caí aos meus pés e vi que eles sangravam. Eu desprezei as migalhas de casca de pão e fui coroado com espinhos bem na minha cabeça. Mas está tudo bem, agora. Na verdade, isto é muito divertido. Eu sou o vigoroso Jack Flash!

A cicatriz no meio do rosto símboliza o nome que me deram. Perdi pai, mãe, a mulher e a família para dar valor ao que não quero. De Norte a Sul, Leste a Oeste percorri por todos os caminhos sozinho comendo poeira na cara onde Judas poderia ter perdido as botas. Chegando lá, não encontrei nenhuma forma de vida, nenhum tipo de sentimento que pudesse ser valorizado. O sol fazia caricias na minha pele. Jovem, ela ficou enrugada.

A cada uma que passava se tornava cada vez mais longa as noites de fome, sede, calor, deserto e solidão até eu aprender a fazer amizade com as miragens, e agora, as visões eram minhas unicas companheiras. Passeando por locais em que nada tinham de um oáses, aprendi a compreender muito bem quando um homem mente.

Por dia, eu pestanejava três vezes para espantar o diabo. Já não havia mais sentido em nada, me embebedar seria só um intervalo na enseada. O abrandamente havia sido pulverizado da superficie de meu coração.

Os vilarejos mais pareciam depósitos de bêbados e prostitutas que a mais de uma semana não tomavam banho. Gengivas sangrentas eram apenas um sutil eufemismo para aqueles que tinham nos dentes uma colônia de placas bactérianas.

O sexo era podre, sujo, cheio de suar e areia: imundo! Mas era a única coisa que tinhamos de real. Dos vícios, esse era a melhor opção. Quando acordava, as putas já tinham ido embora e saqueado o resto do dinheiro. E foi assim que aprendi a deixar gorjeta antes mesmo de comer a entrada.

Os amigos? Não se tinha amigos. Eram todos falsos. Os amigos eram as nossas pistolas. Wichester 22, naquele tempo, mais parecia um canhão de pólvoras. A diversão predileta do bando, fora roubar banco e estrupar as filhas moças dos índios, era trapacear com o Marverick nos jogos de carta enquanto o trem passava seguido por uma turma de encapuzados.

Foi somente assim que consegui resistir por mil anos. Aprendendo a fingir valentia para espantar o medo. Nunca durmi mais de duas horas ininterruptas por todo o decorrer de uma noite. Pois sabia que não amanheceria vivo, ou, no mínimo sem as roupas.

Em meio a tudo isso, nenhuma donzela se entregaria para tal tipo de homem, e nenhum tipo de homem assim se apaixonaria por uma donzela. Mas a rapariga que eu amei era a mais linda de todas. Dos três serviços que ela tinha, todos faziam parte de uma espelunca qualquer. E mesmo por detrás de toda aquela robusteza de vida, ela ainda encontrava modos para a fineza de uma grande mulher. A puta que amei nem mesmo eu gosto de comentar.

Jesse James ainda usava fraudas nessa época. Ou melhor, cagava nas calças! Butch Cassidy e Sundance Kid se ludibriavam com a descoberta da bicicleta ao tentarem seduzir à pedaladas a mesma musa amada. E por isso, sem rendição, morreram corajosamente no meio de um tiroteiro contra um pelotão inteiro. Se abraçaram antes da morte. Isso é que eram homens corajosos! Isso é que era amizade! Perto deles, os mocinhos se tornavam vilões. Com este final, o filme foi obrigado a terminar antes da história.

Relendo o tempo, facilmente eu me confundo se Mark Twain já era vivo nessa época. Mas Tom Sawyer e Huckleberry Finn, com certeza o eram. Pois eu falo de um passado onda a roda e o motor à vapor eram as maiores descobertas. E as índias virgens eram honrosamente estrupadas pelos grandes senhores da cidade, cujo xerife, era coloiado para garantir o próximo mandato.

Muito longe daqui, mas não muito diferente, eu farejava a vingança por todo o lado. Sem fazer parte de nenhum bando, sem me comprometer com nenhum lado, todos me odiavam. E durante o dia, uns caçavam aos outros para no transcorrer da noite todos me perseguirem. Eu era o inimigo número um daquele fim de mundo. John Wayne iria me dizer: Rastros de Ódio.

O tiroteio me amava, as armas nunca me acertavam. A mira cega das espingardas eram iguais a cachorros leprosos e semimortos: sentiam o meu cheiro, apontavam o fucinho para onde eu estava, mas não viam nada.

De cedo entreguei minha alma a deus e a sombra fiz questão de negóciar com o diabo. O maldito quis me dar pouco. Sem relutar, aceitei os trocados. Só anseiava perder da consciência a sensação de estar sendo seguido.

Meu animal de estimação é um cavalo sem cela. A cada galope que ele dá, sinto o tremor de quem me persegue. O animal que habita em meu coração se resume a uma perniciosa serpente. A cada batida que o peito faz, sinto o chucalho balançando.

O couro sujo e velho da roupa, a carcaça podre e nojenta onde se encontram bolsões de pulgas. É no estacionamento do bar que meu cavalo enche a cara. Em toda sua dureza de pele e óssos, agora eu sei porque é que o cacto é a flor símbolo do deserto. É que diferente dos homens, ela chora por dentro.


Ricardo Magno  

29 de novembro de 2010

A Cigarra e as Sardinhas







Quando mal consigo sentir o que escrevo é porque já deu o que tinha que dar. Desejo sorte a todos vós que ainda estão em alto mar, e principalmente para aqueles, iludidos e ingênuos corajosos que mesmo vendo a procela dos outros ainda anseiam por entrar. Mas eu, com o pouco que a onda já lavou os meus pés, enjoei o bastante de cada gota de água.

Quem foi que disse que é o homem que perverte a mulher? Pois todas elas já nascem umas pervertidas, só esperando uma desculpa para por a culpa. O homem! Este é o culpado de todas as coisas.
Tudo o que devo iniciar acaba antes mesmo de começar. E a mim pouco importa eu me interessar. O amor prega peças. Mas, no entanto, já não estou mais conseguindo si quer ser tachado.

O melhor dia do mundooo! É sexta-feira. Tenho quase certeza que foi em uma sexta que os escravos foram alforriados e Adão comeu a maçã de Eva. Sábado só não é perfeito porque a perfeição é uma obrigação neste dia. Com obrigação as coisas perdem a graça. Domingo já é uma merda, aquela merda de sempre! O domingo é escatologicamente o prepúcio de uma segunda-feira qualquer. E o mais legal é porque todos os dias da semana, a partir de quarta, podem e são diferentes. Mas a merda da segunda e todas as suas obrigações morais cívicas se fazem sempre como a mesma bosta! Só há um salvo-conduto para a segunda. Ela é oito ou oitenta! Segunda é o melhor dia do mundooo! Para se beber. Disso, não tenho a menor dúvida. Beber do melhor que tiver, de tudo o que puder, quando convier, do jeito que quiser e implicitamente rompendo todos os malditos e idiotas dos tabus. A bebedeira de segunda incomoda muita mais do que a de qualquer outro dia. Ela é uma crítica subliminar ao modelo de organização social em que vivemos. Um não bem grande na cara dos reles e demais mortais. Humanóides escrotos! Por isso é que eu prefiro ser a cigarra - viver tudo de uma vez só e estourar o peito de tanto gritar. A vida de enlatado, deixarei para as sardinhas.

E para começar e terminar a liturgia, te darei dois beijinhos na testa. E serão justamente esses dois beijinhos que ti farão nunca mais esquecer de mim.

Ricardo Magno

23 de novembro de 2010

O Aniversário dos Sonhos






Sem dúvida esse foi o melhor aniversário que ele poderia ter. Nada de churrasco na beira da piscina com os amigos, ou uma rodada forçada de chope no bar da esquina. Chega de monotonia e formalidades! O lance dessa vez foi todo mundo cair para um parque de diversões onde crianças não entram e bonecas são bem vindas.

Ela conversou pela internet com os amigos em comum sobre a idéia e eles de imediato concordaram. Perguntou qual seria a melhor opção e eles sugeriram o “Pharras”, mês de aniversário, então dava pra pegar aquela suíte master com um desconto camarada. Ligou na véspera e reservou logo a cobertura com vista para o mar e com tudo que ele tinha direito – banheira de hidro, palco para performance, cadeirinha especial (para brincadeiras mais pesadas)... Enfim, era completo, ele iria gostar.

Durante os preparativos, ela ainda ligou para duas amigas e as convidou para ir às compras, o destino: Sex Shop do centro. Era o mais descolado, tinha mais variedades. E vez por outra, em meio à conversas de meninas recatadas que sozinhas poderiam citar comentários despudorados muito distante de seu caráter de mulher séria, por um lance de desinibição ela pensou: “Será que ele também não iria adorar um ménage?” Tão rápido veio e mais ligeiro ainda se foi essa nuvem de idéias perniciosas: “Imagina se ele um dia já havia pensado nisso. Não! Jamais! Além de ser um homem de princípios, austero, um "super homem", ele me ama e somente a mim completamente.” Assim ela se esforça para dissipar (reprimir) a própria fantasia. Equipamentos em mão, hora de encomendar “O bolo” e as bebidas – Ela comprou cereja e glacê, iria deixá-lo livre para “decorá-la” como bem quisesse. Com relação às bebidas, champanhe, tequila e vinho da melhor qualidade. Era pra deixa a galera “ligadona” mesmo.

Na véspera, combinou com ele que iria pegá-lo no serviço, iria raptá-lo para a “farra”, (no “Pharras”). Seria uma comemoração, no mínimo, diferente. No dia D, ligou para um casal de amigos em comum, pra confirmar e explicar como seria o esquema. Aproveitou e sugeriu que eles chamassem mais outros amigos que topariam comparecer. Não poderiam correr o risco de ter algum estraga prazeres pseudo-moralista, cheio de frescuras, que não topasse entrar na festa...

Era quase 18h e ela já estava ficando ansiosa. Passou em casa para pegar todos os acessórios do “kit festa-privê” e se produziu devidamente para esta ocasião tão especial – um banho demorado com ervas aromatizantes, um bom óleo de amêndoas pra deixar a pele mais macia ainda: “barba, cabelo e bigode”; e no composé: bota cano longo de salto fino, meia arrastão preta, cinta-liga, calcinha fio-dental (comestível), espartilho preto, luva 3 oitavos e chicotinho, pra maltratar o coitado, cabelo semi-preso pra deixa a nuca à mostra, um gloss escuro, uma maguiagem leve, umas gotas do Chanel n°5, e voilá! O show vai começar!

19h. Tudo pronto! Ela botou um sobretudo por cima, se dirigiu até o escritório dele, no centro da cidade, e o apanhou para a sua, ou melhor, a grande noite deles. Ao entrar no carro, ela o advertiu logo:
“Tira a gravata!” – E antes que ele pudesse terminar ela mesma a arrancou de supetão e usou-a para tampar os seus olhos. Mesmo sabendo que a milhas de distância ele seria capaz de escutar, foi sacana e sussurrou toda cheia de malícia, ao pé do ouvido: “Feliz aniversário, meu amor! Mas só mais tarde você vai poder desembrulhar o presente. “Te amo!” – Disse ele, ainda atônito em meio aquele misto de mulher que ele mais ama e uma fera devoradora de homens com grande potencial para a sacanagem somente liberado agora. Se sentiu um pouco assustado, pois nunca havia a visto, dentre tantos anos, dessa forma. A mulher de sua vida, aquela de tantas formalidades. Sem enxergar nada e depois de muitas caças, agora ele se sentia a presa. Então ele disse mansinho, até com um pouco de receio em receber a resposta: “Para onde nós vamos, querida?” “Segredo!” – Ela respondeu mordendo de leve a orelha do seu macho e seguiu lentamente até a sua boca a pressionar suavemente seus lábios, afastando um pouco o rosto e ele então segurou forte o seu pescoço e a beijou vigorosamente, escorrendo as mãos por entre os seus cabelos que estavam com algumas mexas pretas soltas. Caiu os óculos. 

“Está usando o perfume que eu amo, não é?” “Claro, querido! É o meu preferido também.” – E então seguiram em direção a Casa de Baco, o “parque de diversões”.

A essa altura ele já estava louco só de sentir o cheiro dela na sua camisa, e começou a conjecturar mil fantasias apenas em imaginar, depois do coito, ela vestida nele. “Mas me dá uma pista, meu amor. Está me levando para onde? Não quer que eu vá em casa tomar um banho, trocar de roupa, e tal?”

“Não, querido. Absolutamente não!” – E sem querer entregar o segredo, levantou apenas o canto direito da boca e sorriu sem ele perceber. Enquanto isso, ela escorregou lentamente a mão na sua coxa esquerda, aproveitando para provocá-lo.

“Cuidado pra não confundir na hora de trocar a marcha e puxar no lugar errado. Se bem que eu não ia me zangar nem um pingo.” Ele aquece o clima brincando.

“Pode ficar tranqüilo, meu amor. Estou me concentrando totalmente no caminho. Por enquanto! As turbinas, deixemos para mais tarde.” Ela se retrata.

Retraindo as habilidades anormais para não estragar a surpresa e fazer o gosto da sua amada, ele retruca: “Mas e aí? A gente já está chegando? Estou ficando agoniado com essa gravata na minha cara.”

“Calma, meu amor! Já estamos quase chegando.” – E nessa hora, ela liga o som do carro e começa a tocar “Sex on fire”, do King of Leon”.  – “Curte ai a música, meu bem.”

“Quer dizer que está tudo pegando fogo?” - E os dois caem em gargalhadas escandalosamente. Agora, no ápice do amor, da excitação e da noite, eles estavam despudoradamente felizes.

“Oh! Mas tu não está me levando para nenhuma comemoração na casa dos meus pais, não é? Sabe que eu me sinto mal pra caralho quando a gente faz farra lá. Nem dá para beber direito. Fica todo mundo olhando torto, com cara feia para nós.”

“Não, meu amor! Pode ficar tranqüilo. Relax and sexy! Confie em mim.”

“Não sei não, amor! Toda vez que tu fala isso eu fico com um mau pressentimento e tenho que te salvar de alguma confusão.”

“Relax, baby! “Hoje a lua é do poeta, mas a noite é nossa, nossa...nossa...(só nossa!).”

“Tu não tem jeito, “né” menina. Não dá pra falar sério contigo. Tu sempre põe uma música no meio.”

“Mas eu não tenho culpa! Sai espontaneamente. Para toda situação eu tenho uma música na ponta da língua, ou na ponta da agulha.”

Depois de 15 minutos transitando do centro até a BR, finalmente eles chegam ao “parque”, com uma hora adiantados até os primeiros convidados chegarem. Sem saber ainda onde estava, ele foi entrando devagarzinho enquanto ela fechava a porta. Ao se aproximar dele, ela pulou em sua cintura e ele a segurou com suas mãos ávidas e generosas em sua bunda. Ele então percebe que ela estava em trajes especiais e a puxa pelos cabelos querendo sentir a sua pele nua. Ela se afasta e o joga violentamente em cima da cama.

“Pode tirar a fenda.” – E ela para na frente dele, contra a luz do pôr-do-sol: Paraíso inesquecível!

“UAU! O que é isso? Eu só posso estar sonhando. Isso tudo... Só para mim?” – Disse ele apoiando os dois cotovelos na cama.

“Sim, meu garanhão. Hoje você merece tudo!” – E novamente ela se aproxima dele e retira, primeiro, o seu cinto, numa rapidez que nem ela mesma acreditava que um dia seria capaz de ter. Em seguida sua blusa, botão por botão. Por último a calça. A esta altura, ele já estava a ponto de bala, quase para explodir como um meteoro qualquer vindo de outro planeta.

“Eu te amo, mulher da minha vida!” – Ele então levanta, envolve-a em seus braços e começa a beijá-la avidamente. Retira o seu sobretudo e novamente ela o joga em cima da cama: “Calma, bonitão! Ainda temos tempo.” – Então, ela começa a festa. Sobe no palco e faz um Strip bem lento e sensual ao som de “Fever”. Nada mais nada menos do que Fever! Põe um chapéu coco e encarna a Dani Carlos. Peça por peça até sobrar, por fim, a calcinha e a bota.

“Desce daí e vem pra cá, agora! É uma ordem!” Ele louco já não agüenta mais.

Com toda a ferocidade de um leão que está prestes a devorar a sua presa, ele a joga em cima da cama e “detona”, com os dentes, a calcinha. Primeiro, ele nela. Depois, ela devora ele. Assim eles brincam: ela com o menino dele e ele com a menina dela. Após os ensaios, eles partem então para o grande round. Vão para a banheira de hidro. Lá se entregam e fazem tudo que têm direito: de frente, de costa, de lado, e enfim, se afogam em orgasmos. Saindo da banheira, vestidos no roupão, vão até a sacada.

“Que vista linda! Parece que eu estou sonhando.” – Disse ele abraçando-a gentilmente por trás e beijando o seu pescoço a contemplarem juntos a paisagem.

“Quer que eu te belisque? Se preferir eu posso te morder também, ai sim você vai acreditar.”  – Ela pega a sua mão e dá mordidinhas leves.

“Amor, tu não está com fome não? Eu estou pra cair.” – E se dirigem até a mesa de frios que ela havia preparado durante a tarde. Queijos, patês, castanhas, torradas, trufas... Tudo do melhor e mais fino, afinal, os dois merecem.

“Daqui a pouco a galera está chegando.”
“Que galera? Quem vem pra cá? Isso aqui vai virar uma orgia? Meu Deus, estou lascado. É hoje que eu morro!" E 15 minutos depois, a campainha do quarto toca.

“Vamos entrando rapaziada.” – Disse o anfitrião, todo feliz recebendo seus convidados.
“Parabéns, cara!” – Disse o primeiro, com uma garrafa de tequila em uma das mãos e o cinto de utilidades na outra. – “Bora beber!!!”
“Felicidades, irmão!” – Fala o segundo ao entrar tão rápido com uma garrafa de champanhe que até ele mesmo mal consegue ver. – “É nós!!!”
“Valeu, cara!”– E em seguida foram entrando, as namoradas, as irmãs, e depois mais dois amigos do “trampo”... A festa estava completa.
“A primeira ordem aqui é ficar a vontade! Pode ficar vestido, pode ficar pelado, pode ficar sóbrio, pode ficar bebaço... A noite é nossa!” – Falou o dono da festa, que já estava entrando no clima para mais uma.

“Quero um segundo, terceiro, quarto round, quantos eu tiver tempo ainda para ter contigo. Quero repetir perpetuamente da mesma dose do melhor prazer do mundo, à noite toda, pelo resto da minha vida, apenas nós dois, simplesmente eu contigo e tu comigo.” – Disse ele sussurrando no ouvido dela e segurando a sua linda cintura. E essa foi, sem sombras de dúvidas, a melhor e maior declaração de amor que ela já tinha recebi em toda a sua vida. Ela confessou para ele, ao pé do ouvido, e ainda solou uma risadinha maliciosa. “Tu "aguenta" ainda?”

“Esqueceu, Lois, que apesar de não ter uma saúde 100% de ferro, meus nervos são de aço? Tu sabe que eu tenho força e disposição o bastante pra te levar nas nuvens. Sempre! Eu te amo!”
“É, Clark. Não tenho mais dúvidas, meu amor. É pra vida toda! Eu também te amo!”

Juh e Ricardo Magno

22 de novembro de 2010

O sonho acordado





A infância é uma das fases mais passageiras de nossa vida. Brincadeiras, sonhos e fantasias recheiam a mentalidade prematura de toda criança. Mas, em meio aos horrores e necessidades sociais de uma qualidade de vida ainda desumana, muitas crianças deixam de saber o que significa esse sonho pueril de olhos arregalados.
Lugar de criança é na escola. Adultos felizes também tiveram amor e carinho dos pais, ou ao menos, um ponto de apoio para desenvolver a força capaz de driblar qualquer mal que contamine o coração. As crianças ainda não sabem de nada e, mesmo assim, muitas delas já carregam um enorme fardo pesado nas costas. Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) de 2008, divulgados em setembro de 2009, indicam que no Maranhão existem cerca de 221 mil crianças e adolescentes na faixa etária de 5 a 17 anos trabalhando, o que equivale a 11,95%. Com esse resultado o Maranhão ocupa o 9º lugar no ranking nacional de casos de exploração de trabalho infantil. Ainda segundo a PNAD, 80.700 crianças e adolescentes foram atendidas no PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil do Governo federal, no período de janeiro a agosto de 2009. Estatísticas lastimáveis a marcar profundamente a personalidade de milhares de "pessoinhas" que um dia virão a ser os lideres de nosso estado.
As crianças não são somente o futuro da nação. Pois, a partir do momento em que todos nós já fomos crianças, elas passam a ser a base de qualquer forma de tempo em todos os estágio da existência humano. Com uma ressalva: a de que nesse período, qualquer desdobramento que venha a acontecer em sua vidas são fatores decisivos para a tomada de direção no qual seus destinos se desenrolarão. Por isso, é de fundamental importância que os órgãos responsáveis, zelando pelo progresso de nossa sociedade, dêem uma feliz e prospera infância para todas as crianças. Pois, o trabalho infantil é desumano até para quem está fora do mercado.



Ricardo Magno

Fonte do viver







Quando um pensamento nasce, imediatamente eu interrompo qualquer um de meus afazeres esporádicos só pra ver mais uma de minhas crias ganharem vida. E como isso me deixa mais leve e com um pouco de paz, embora sempre me lembre que o prazer é um dos diversos remédios paliativos da vida.

Ando à pé por não ter um carro, e com o tempo comecei a gostar de fazer isso. Pois com o yoga aprendi que em qualquer atividade física se oxigena o cérebro, e tendo ele mais ar, posso pensar mais desapercebidamente e desprovido de livre-arbítrio.

Ir e voltar da Beira Rio andando! Às vezes com, outras horas sem o mp3. Somente ir e voltar andando da Beira Rio. Chegar lá e fazer meus exercícios, para simultaneamente ao trabalhar a alma também não perder a oportunidade de lapidar o corpo só pra ver correndo o ego se dissolver na memória.

Sempre gostei de ouvir as coisas que sempre tive para dizer para mim mesmo. E nunca negligencie nenhuma delas. Pois sempre gostei de ser o meu melhor amigo! É que gosto de mudar o visual da barba pra ver se ela me cai mais agradável, gosto de trocar de óculos na esperança de que o próximo deixe as coisas mais próximas e não seja tão desconfortável.

Quando estou caminhando por entre as ruas, independente de quais sejam as ruas, eu não vejo nada! Tudo me absorve com a percepção enquanto luto para fugir da perfeição, pois de longe, nem no próprio nome sei que ela existe. Quando estou andando pelas ruas da cidade sinto a enorme vontade de somente viver pra escrever, e que isso seja meu único alimento, sustento, propósito, estimulo primário como a fonte do viver!

Em meio às variações diurnas onde todo bom depressivo jaz, eu fortaleço o corpo e a alma à medida que vou fazendo prognósticos de mim e da minha própria vida. A partir daí, costumo chegar em casa todos os dias suado e não perdendo tempo em banhar, descrevo cada moção dos cenários internos de minhas celas.


Ricardo Magno

Poesia Percussiva Futurista





Quem ler e quem escreve são escritores. Ambos fazem a conexão da origem dos significados. O modo como escrevemos, as inclinações contra as quais lutamos são sempre tentações. E o difícil e mais doloroso caso é objetivar as impressões de um rico coração em conhecimento intrapessoal.

Familiarizar-se com o mundo deles e se tornar um deles. Por isso somos enviados para cá.  Pra ver se depois conseguimos encontrar o caminho da volta. E se em mil vezes faríamos as mesmas coisas mesmo mil vezes estando ciente das resoluções; então não precisamos nos sentir culpados por tudo o que fizemos de errado ou deixamos de fazer.

Se deus realmente ajuda a quem cedo madruga, então não sou capaz nem de imaginar o que ele pode fazer por pessoas iguais a mim, que passam a madrugada inteira acordados. Só não tenho é gasolina, mas o meu motor é um quatro tempos. Vou descendo a correnteza sem me preocupar com o resto.

Em pleno o processo de transformação não somos capazes de perceber que as coisas estão mudando. Tudo se trata de inspiração e não perseguição. Nada daria certo se começássemos a ir atrás das palavras. Pois a diversão é uma necessidade real de quem trabalha. Se um é o que escreve e o outro é o que vive, vez por outra não seria anormal se ambos se confundissem.



Ricardo Magno

16 de novembro de 2010

Ariadne





Acabei de ti conhecer e tu já estas indo embora? Maldita hora em que nossas vidas se cruzaram. Mas antes tarde do que nunca! Mil odes de amor escreverei em teu nome, a verdadeira Ariadne de todos os meus paliativos.

Não muito diferente de agora, quando tu fores embora, sentirei o mesmo vazio desse instante, o que logo tão cedo me apavora só de imaginar a nossa despedida. Igual a um Dante percorrerei eternamente pelos cinco infernos proclamando o teu nome santo, procurando por ti e a defender a tua honra enquanto meu corpo coberto por chamas e pela dor insuportável da saudade, se esvai em brasas.

E os lugares por onde passastes, as recordações que em mim deixastes serão lacunas incomensuráveis na parede de uma memória inesquecível.
Oh, Ariadne! Tu nem ousas imaginar de onde eu vim, quão densa e sórdida sempre foi a minha jornada! Quantos desfiladeiros, morrendo de medo, já tive que cruzar. Quantas noites solitárias já tive que passar na companhia de seres abjetos oriundo de um acaso qualquer. E as batalhas horrendas? Nem ousas contar quantas cabeças foram decepadas por minha espada, quantas vidas sucumbiram diante de meus olhos, e quão gélido foi o meu coração diante da maior de todas as trevas sem sentir nenhum remorso.

Pois bem! Após a vida ter feito de mim esse monstro vazio de silêncio e sangue, corpo e lágrimas. Depois de eu ter realizados as maiores cruzadas em volta do mundo, e visto e me perdido ao me tornar de perto o ser mais bárbaro que podia um dia vir a ser o homem, como se para a vida ainda não fosse o bastante, como ela pôde ser mais cruel ainda comigo me trazendo para este fim de mundo, quando de certo eu estava crente do meu regresso e do fim de minha jornada, para aqui, diante de ti, olhando dentro de teus olhos, um singelo raio de luz me partir ao meio e no fim de tudo, Eu! Através de um amor que jamais eu esperava, porque nunca a mim foi prometido, finalmente me reencontrar na minha mais crucial e verdadeira derrocada.

Oh, Ariadne! Mil homens num campo de batalha com arcos, flechas e espadas, não foram capazes de fazer comigo o que tu fizestes em apenas um olhar singelo. Agora! Ao ti conhecer, pode-se dizer, que eu dei início a uma verdadeira obra. Pois antes era diferente. Eu somente estava apontando o lápis.

Ricardo Magno

Jack Flash: O uivo





Eu vi as melhores mentes, minha geração, destruídos pela loucura. Fome, histéricos, nus! Fuga para as ruas negras ao amanhecer olhando para uma pêra de fúria. Luxúria pela cabeça de um anjo. O velho disfarçado celestial. Isso se conecta ao dínamo estelar. A maquinaria da noite. E que a pobreza e trapos, olhos derretidos e apedrejados, houvem a fumar em sobrenatural escuridão de água fria e casas. Livros sobre os telhados da cidade contemplando jazz. Isso, universalmente passava com os olhos brilhando, frescos e alucinados. Negra e brilhante luz, tragédia da guerra entre cientistas que foram expulsos de academias. Uma tola e obscena ode publicada nas janelas do crânio. Isso, nos quartos com barba por fazer com medo, se escondendo em suas roupas íntimas a queimar dinheiro de resíduos de papel. E, ouvindo o terror além do muro que foram capturados com tricotomia voltando via Laredo com cintos de maconha para Nova Jerusalém. Esse fogo, margeava repintadas em hotel, ou beberam terebintina no Beco do Paraíso: Morte! O Purgatório é o peito noite após noite com sonhos, com as drogas, pesadelo de olhos abertos, álcool e foda e dança e busto sem fim.

O que é encantamento a metros na corrida sem fim? A partir da bateria de bronze feito de benzedrina até o som de rodas infantis e atirou-a tremendo torturada pela boca. E no negro do cérebro, espremendo qualquer brilho na luz escura do jardim zoológico a falar que foi contínua 70 horas do parque para a casa. Bar de asilo Bella Vista, um museu em Ponte de Marfim. A perda do batalhão de conversadores platônicos que andam de escadas para baixo descendo escapas de incêndio por soleiras. O Império do Estado é o porte abaixo da lua, vindo a gritar entre vômitos sussurrando fatos e memórias e anedotas e enganos óticos. E os choques de hospitais e prisões e guerras, acendiam os cigarros em repique, repique, repique dos vagões de neve a fazendas isoladas.
Na noite de seu avô, estudavam que Plotino Sangiovanni é posto na cruz. Telepatia Cabal, porque, o cosmo instintivamente vibrara a seus pés em casa. Basta deixá-lo em suas ruas de idolatras. Cercavam visionários anjos indianos, eles foram visionários anjos indianos! Por iniciativa do meio invernal, chuva da noite e lâmpadas de rua na província, e sobre a Costa Oeste previa a PF para investigar, com uma barba, e curta os olhos de paz e grandes, morena sexy em couro entregando afastados folhetos incompreensíveis.  
O que estavam queimando com cigarros, furos nos braços, protestar contra a neblina do tabaco, narcóticos do capitalismo que distribuiu folhetos super comunistas no Quarteirão da União. Choro a despir enquanto as sirenes da Penitenciária são silenciadas, uivando abaixo das muralhas da rua, uivou na Ilha Estadual das Embarcações. Para isso, o governo deu até a bunda pelos motociclistas piedosos que gritavam de alegria pressionando e fluindo bombeados por esses Serafins humanos, as carícias dos marinheiros do Atlântico fazendo amor no Caribe.

O que as mulheres perdiam ao amá-los retirando-os das três bruxas da sorte? A bruxa de um olho só, dinheiro heterossexual. A bruxa de um olho só, piscadela do útero. E a bruxa de um olho só que está sentada alí com a bunda pronta para cortar os intelectuais artesãos a moldura dourada do fio. Cipulavano Ecstatic, que é insaciável com uma garrafa de cerveja, com a namorada e com um maço de cigarros. Com a vela, caiu da cama, e continuou no chão e ao fundo do corredor para acabar inconsciente contra a parede em uma visão de boceta final, e vem iludindo o passado a consciência. Desaparecendo em grandes filmes sórdidos, eles foram erguidos em um sonho. Acordei em São Luís, súbito! E tiravam as escalas de bronze ao toque insensível de horrores dos sonhos na terceira rua em ferro. Escalonados para os serviços de emprego. Por isso criavam grandes dramas suicidas nos apartamentos nas margens do Lago em um penhasco sob a cortina azul, Tempo de Guerra da Ilha! E a cabeça vai coberta de louro no esquecimento. Chorar, esmorecer em estradas. Todos os carros cheios de cebolas e música ruim. Em caixas que respiram na escuridão sob a ponte, e levantou-se para construir cravos na sua luta. Por isso escreviam rock and roll a noite toda dançando no alto de charme, que, na manhã amarela foram estrofes do absurdo. Que eram queimados vivos em seus ternos de flanela inocentes. Avenida dos Holandeses! Entre rajadas de poesia plúmbea e o tique-taque molhado nos regimentos férreos da moda, guinchos e nitroglicerina cheiram publicidade. E o gás da bolha de reivindicações do editores inteligentes, ou foram puxados para baixo por bêbados no táxi. Realidade absoluta!

Uma rosa embrulhada em papel amarelo, um pequeno homem no armário do fio, e também o imaginário, nada além de um pedaço promissor alterado. E agora você está realmente no caldo animal total do tempo.
O que guiava de costa a costa 72 horas para descobrir se eu tinha uma visão ou era você que tinha uma, ele ou um para encontrar a eternidade, caindo de joelhos catedrais em inane, a orar pela salvação de luz e uma outra de mamas. Até a alma que iluminou o seu cabelo por um segundo, adoçava o bichano em milhões de garotas trêmulas ao pôr do sol, e eles tinham olhos vermelhos na parte da manhã, mas prontos para degustar o felino durante à noite, na madrugada do ar dos celeiros e nus no lago.
Uma noite em máquinas roubadas de uma miríade no antigo cinema em cadeiras raquíticas, no topo das montanhas em cavernas, garçons ou ósseos limites de ruas conhecidas. Um deslize desolador!

O que saiu da mente quebrado na cadeia esperando pelo impossível, criminosos de cabelos dourados. E no encanto do coração, a realidade de quem canta um blues lindo para Alcatraz. Isso gritava veredictos de sanidade acusando o rádio de hipnotismo enquanto você deixava-os com sua loucura e as suas mãos e um júri dividido, dado então, nos degraus de granito do manicômio. Cabeça raspada e fala de arlequim de suicídio a exigir lobotomia instantânea. E o que poderia ser visto prescrevendo o vazio concreto da insulina, então correu para as estradas de gelo possuído por um súbito clarão alquímico do uso de elipses do catálogo. Qual é em diferentes graus e mesa vibratória? Quem sonhou com a abertura de lacunas encarnadas de tempo e espaço através de imagens justapostas interpretando o Arcanjo, alma entre duas imagens para recriar a sintaxe e a medida da prosa humana pobre? Estrelas! E na frente de você, mudo, inteligente e tremendo de vergonha, rejeitados, mas todos admitem que a alma, para se adequar ao ritmo que o pensamento tem em sua cabeça, anda nua incessantemente.
O vagabundo louco e o anjo que bateu em tempo desconhecido ainda aqui em baixo, o que teriam a dizer com o tempo que vem após a morte. E levantou a reencarnar-se vivo no jazz espectral, na sombra do tubo da banda de ouro. E tocou o sofrimento do amor, da mente nua da América Latina, o choro do saxofone: “Eli Eli lamma lamma em um sabactâni!” Qual calafrios da cidade até a última estação de rádio com o coração absoluto na poesia da vida. Corpo exposto e abatido, bom para comer por mil anos. 

Que esfinge de cimento e alumínio dividi seus crânios e come seu cérebro e imaginação? Moloch! Solidão! Sujeira! Torpeza!
Muito dinheiro inalcançável! Crianças gritando sob as escadas! Meninos soluçando nos exércitos! Velhos chorando nos parques! Moloch! Moloch! Pesadelo de Moloch! Moloch amado! Mental Moloch! Moloch cujos olhos são mil janelas cegas! Moloch cujos arranha-céus posicinam-se sobre o longo caminho, como Jeová infinito! O amor Moloch é o óleo de infinito e de pedra! Moloch cuja alma é a eletricidade e os bancos! Moloch cujo é uma nuvem de hidrogênio assexuado! Moloch em que eu me sento sozinho! Moloch em que eu sonho com os Anjos! Moloch para mim chegou mais cedo na alma! Moloch que com o terror tirou meu êxtase natural! Calçadas, árvores! Ao elevar a cidade para o Céu que existe e é tudo o que nos rodeia. Sonhos adoráveis! Iluminações! Religião! Esse barco inteiro de besteiras sensíveis quebradas ao longo do rio. Crucificações descem com a cheia. Desespero! Dez anos! Gritos de animais e suicídios.
Agora, estou com você na Ilha de Pedra onde você imita o tom de minha mãe, onde os jogos de palavras sobre os corpos de suas enfermeiras, as harpias do Anil, são pragas no piano catatônico, alma inocente e imortal, pela qual, você nunca morrerá de impiedade em um hospício armado.
A partir da peregrinação para uma cruz no vazio, estou com você em um lugar onde 50 e mais 50 milhões de choques nunca vão fazer voltar a alma para o corpo desencarnado. Estou com você em um lugar onde você julga os médicos de insanos através da revolução Judaico Socialista contra a Gólgota nacionalista-fascista. O que pode fazer a sua vida de Jesus humano aumentar, Super-Homem do túmulo! Santo dos anjos hediondos humanos!                            

Uma pequena bricolagem do engimático texto de Allen Ginsberg

Jack Flash: Dilúvio





Com todas as calças apertadas, ele sabe que não é mais o mesmo. Enquanto isso, ratos surtam dentro da sarjeta. A vontade de defecar faz com que ele, forçadamente, se levante mais cedo. “Maldita bosta a evacuar nas horas impróprias!” Após sonhar, ele relembra de toda a trajetória em espiral que os seus pensamentos percorreram durante a noite. São duas horas da manhã. Já era hora mesmo de despertar.

As ruas estão todas vazias ao longo dos bairros por onde se quer olhar. No centro ferve a confluência de pênis desinibidos e vaginas recalcadas loucas para dar. Nesses momentos, álcool e drogas ajudam a burlar a nefasta do retardamento do prazer ao qual todos nós fomos mecanizados. Narcóticos! O idioma prediletos dos escritores californianos para se falar de algo. Burroughs, Ginsberg, Kerouac e até mesmo Bukowski traçaram o mesmo retrato de várias cidades. Donzelas disformes! O sexo é dois animais tentando trocar de corpo.

“Quando sozinhos, seguimos a marcha para a guerra. Acompanhados, estende-se logo a bandeira branca. No celinho da bicicleta, como minha piroca gostaria de ser o pistão para esfregar no cú daquela “velha”. Mas fazer o que quando a auto estima está amarrada ao pé de uma maldita cadeira igual a um bebê elefante sendo adestrado? Nasça ou passe sua vida inteira almejando ser.” Então, logo ele pensa em pra que ter passado a vida inteira lendo livros de merda. Só pra ter a certeza de que o que ele contemplava realmente eram as sombras? Pois bem! Mordeu-se na língua, arrancou um pedaço da maça e agora não é mais capaz de resistir as tentações de Eva.

Sentando na cama, olhando e sendo observado em volta por tudo, um ventilador novo não lhe vale de nada. Faz mais barulho do que vento e sempre acaba o vencendo pelo cansaço. O som das cambaleantes hélices bêbadas pouco a pouco vai gerando na consciência uma espécie de transe hipnótico. Dorme e acorda permutando por entre dias em um constante presente, cujo agora, tenta ignorar qualquer nexo com o passado. Mas rejeitando os resultados e lutando contra uma sine qua non que insiste em o pôr para baixo, não se torna impossível achar uma merda estar vivo nessas horas. Encerra-se o silêncio. Tampam-se os ouvidos, pois é preciso desabafar.

Ao confundir o dia com a noite, a camiseta preta não revela a mancha de sangue. A cor preta emagrece. Principalmente em um derramamento de hemoglobina. Tudo começou após duas garrafas de Old Barr. Sentado do lado errado, contra o vento, o carro vermelho mais parecia um relógio. É sábado à noite, o dia predileto para as prostitutas fazerem a barba. Dentro do banheiro, na espelunca de qualquer bar, do outro lado do espelho, ele observa uma espécie de felicidade que não é capaz de alcançar. Pura nitroglicerina óssea cartilaginosa! No imundo cômodo de mármore vizinho, um viciado paraplégico filho da puta que parece não ter ossos, na hora de urinar, a paralisia infantil faz o pênis do invertebrado vomitar.

Por entre a parte podre da cidade, no câncer do município, ele segue por calçadas onde milhões de prostitutas já pisaram e, no momento, só deus sabe onde seu pau irá enfiar. A cidade já não é mais a mesma. No céu, trovões artificiais emitem relâmpagos a cada meia hora. No fundo vermelho do inferno celeste, nuvens de carbono exalam a enxofre. Ao cruzar por uma ruela imunda e abandonada onde viciados fizeram ninhos, o carro de polícia desmanchado lembra a velha e inútil segurança pública de outras datas.

São torres e edifícios com mais de cem metros imersos dentro da água à lembrar com as pontas icebergs. Nesta decadente paisagem urbana surreal, Salvador Dalí teria inveja. Subindo a rua principal adiante, tudo é harmonicamente desorganizado, bagunçado, enquanto lojas são aleatoriamente saqueadas com os tons da probabilidade randômico de um dadaísmo do acaso. Em frente a ele, uma criança lhe aparece com uma arma.

O corpo, recém-novo da última ressaca, ainda lhe dói como o de um bebê que acabará de chegar ao mundo. A forte chuva cai enquanto ele treme todinho ao som dos toques de piano que cada gota faz sobre a epiderme. No velho néon multicolorido dos letreiros das lojas onde um dia habitaram as calçadas principais, hoje, não se ver mais nada. Os postes não acendem. Com o tremor da ventania, dois velhos fios de energia semimortos constantemente se enamoram no instante em que seguem a direção contraria. Quanto a isso, faíscas caem do céu.

Abaixo de um semáforo de três olhos, continua a criança. No meio da rua onde está, a água já atinge o joelho. Ratos surfam em sua direção. Enquanto a ventania realiza o namoro acrobático dos fios descascados, como numa desfibrilização, o semáforo tentar dizer algo. Ele vai calmamente em direção a criança, fantasmas rodam a memória. Questiona se ele já desenvolveu força o suficiente para disparar a arma, mas opto em ter cautela.
Em uma espécie de Hollywood de outras eras, perdido naquelas ruas corrompidas cheias de animais mortos, ele espera como se fosse um louco... Ao longe, na metade do percurso, a criança grita: “Você nunca deveria ter vindo até aqui!” Mas ele finge ignorar.

Todas as vadias de plantão põem suas mãos para o alto e acenam para ele como se não se importassem. Elas o encontram e o enganam. Dizem que ele é o melhor que já viram. Mas ele nunca deveria ter acreditado. Daqui, os outros olham pra ele de maneira repugnante.

Ele estava no muro, se sentindo com dez pés de altura enquanto todos os vermes fumavam cigarros na Avenida Santa Mônica. Essa era a página da frente. Essa é a nova era. Enquanto, todas as vadias põem suas mãos para o alto e acenam para ele como se não se importassem.

Todos os vermes fumando cigarros na Avenida 27 St. Todas as cachorras põem suas mãos para o alto e dão adeus para ele como se não se importassem. Pessoas impostoras vêm para rezar. Olhos sobre todos eles implorando pra ficar. Pessoas falsas vêm para rezar.

As linhas na carta dizem: Todos os vermes fumando cigarros nas avenidas Santas. Todos os vermes fumando cigarros na avenida do boquete.
Todos os vermes fumando cigarros na Hollywood de outra época. E ele nunca deveria ter acreditado. Nunca deveria ter vindo.

Ao chegar perto do menino, antes que o braço se estenda plenamente em direção a arma, o canhão dispara: “BOOM!” Cerram-se os olhos, não se sentem mais as gotas de água, a criança foge. Lixos começam a desfilar na enchente por entre os batentes das calçadas mais baixas. Instantes depois, ele acorda. Não se sabe se vivo ou morto, de um sonho ou dentro de outro, apenas ele acorda. E como Novalis diria, com uma flor azul por entre os braços.



Ricardo Magno



10 de novembro de 2010

Gato-Preto





Através de uma silhueta que mais parece com os rascunhos de um Tim Burton, a carcaça chega a se confundir com a noite. Onde é escuro, ele veste a escuridão. E foi assim que sempre seguiu a vida como um personagem gótico de animação gráfica.

O filho bastardo de duas barrigadas, irmão gêmeo de uma gata siamesa oriundo de uma gestação bi vitelina, assim ele se fazia como o Cavaleiro de Ghotam no quintal de minha casa.

Rabo torto, destino quebrado. Retornava todas as noites cada vez com menos pêlos nas costas. Frequentava festas que não era convidado, se alimentava de comida sempre requentada, fez amizade com o outro lado, e por isso acabou ficando marcado pelo resto dos gatos.

Nasceu sabendo mentir, roubar e enganar. Não andava no chão porque se não o cachorro o pegava. Não andava por sobre o muro porque se não os demais gatos o rechaçavam. Era o mais novo do bando e mesmo assim, também era o mais humilhado.

A irmã mais nova era a única que o respeitava e obedecia a ordem natural de uma tal de hierarquia felina. Dava licença para ele passar sempre que eles poderiam disputar a comida... E cedo morreu. Por ironia, intoxicada por um alimento que eles não puderam disputar.

Agora o coração do preto estava em negrito. Dormia em cima das latas, descansava sobre a interseção de um pedaço de madeira na caixa d’ água. E começou, cada vez mais e com mais periodicidade, a se envolver em tremendas discussões que levantavam as telhas da casa. Mas foi em uma overdose qualquer, andando por qualquer lugar, na companhia dos gatunos mais nefastos, que ele errou o passo, caiu do galho, e se não fosse o pedaço de pão com manteiga que ele andava amarrado nas costas, dessa não teria escapado.


Ricardo Magno




Arthur Azevedo by Overmundo

Nascido no Maranhão, foi no Rio de Janeiro que se consolidou como jornalista, contista, poeta, crítico teatral e dramaturgo. Foi continuador de Martins Pena e França Junior, fez sucesso escrevendo para o Teatro de Revista e deixou duas grandes obras-primas da comédia de costumes brasileira: Capital Federal (1897) e O Mambembe.
Suas peças retratavam o cotidiano da vida carioca e os hábitos da capital: suas histórias exploravam as infidelidades conjugais, os namoros, as relações de família e tudo o mais que se passava nas ruas e na vida do Rio de Janeiro. Com um extraordinário frescor, suas peças ainda funcionam nos palcos até hoje pela graça e pela agudez que retratam as situações do cotidiano.
Homem de teatro foi um admirável batalhador do movimento cênico. Consta na Wikipédia: Escreveu cerca de duzentas peças para teatro e tentou fazer surgir o teatro nacional, incentivando a encenação de obras brasileiras. Como diretor do Teatro João Caetano, no Rio, encenou quinze originais brasileiros em menos de três meses.
Lutou pela construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, obra que não viu inaugurar.
Ocupou a cadeira 29, cujo patrono é Martins Pena, da Academia Brasileira de Letras.
Em 1903 escreveu uma espécie de epitáfio:
“Quando eu morrer, não deixarei meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso meu, uma frase que me saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer: Ele amava o teatro, e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha bem-aventurança eterna.”
Morreu em outubro de 1908, no Rio de Janeiro.
Fecham-se as cortinas.
Aplausos, por favor.

5 de novembro de 2010

Pedro Cem




Nascido no interior do Nordeste, menino forte e sagaz, logo Pedro Cem rasgou o sertão e o agreste escrevendo a sua história. Durante o dia, corria atrás de pipira, fazia histeria no quintal alheio. À noite, brincava de morto - vivo com os sonhos dos outros ao contar os vintes do céu em que cada estrela representava a sua ambição. 

Cresceu! Virou gente grande. E foi trabalhar na única mercearia da cidade. Pobre tanto quanto os indicadores sociais que mal ele conhecia, ficava de pé e vazio quase todos os dias. Quando com 16 anos ele arranjou um trabalho na seção de perfumaria digna das tabacarias que imperavam naquela época, nem hesitou diante das lamentações da mãe ao ver o filho mais velho recusar a oportunidade.

Desde garoto, Cem tinha no peito o desejo sedente de seguir rumo em direção à cidade. Sentia profundamente que caçar, limpar o curral e jogar milho para as galinhas não faziam parte da sua realidade. E a mesma muda de roupa que sujava durante o dia era a mesma que a mãe lavava cuidadosamente durante a noite, para ele trajar como se fosse um vestido de gala enquanto na perfumaria os vendedores mais velhos tripudiavam a sua miséria.

O suar de seu pai escorria pelo rosto de todos os filhos. Há muito Pedro matava a sede com a única e mesma saliva. E vez por outro, quando voltava do almoço cambaleando, os amigos da loja já sabiam de cara o que faltava para o pobre diabo. Sem pensar, logo lhe mandavam para o ambulatório levar injeção de vitamina para suprir o arroz e o feijão que geralmente ele não tinha em casa. Dos nove irmãos, ele era o quarto mais velho e fazia questão de comer somente depois que os mais novos haviam se saciado. A comida era sempre tão pouca que os raros grãos de feijão se perdiam na vastidão daquelas bocas que mal tinham dentes trocados.

Perdeu a conta de quantas vezes dormiu ouvindo foguetes sem saber o que era a festa da virada de ano. De tanto tomar no cú aprendeu a andar com o rabo encostado na parede. Dos míseros quilos da mocidade, a cada ano seu corpo foi tomando mais forma. Lá se sabe como e porquê, virou presidente do grêmio estudantil de sua escola. Fazia festas, era respeitado. Mas, pela hombridade de chefe da casa e a calamidade de sua família, desviou alguns trocados da tesouraria até conseguir sobrepor a família acima da linha da miséria, forrar e prolongar com mais alguns cômodos, os velhos cantos da casa. À noite, na hora de rezar, pedia perdão para deus, pois sabia que o furto era por uma justa causa.

Quando a família se mudou para a cidade, aos 18 anos ele já era o mais novo gerente que aquela tabacaria já havia tido. E quando quebrou uma caixa cheia de perfumes recém-chegados, nem deu para ficar preocupado. Ele tinha uma meta e visualizava-a todas as vezes que voltava para casa e sofria na pele todas as necessidades que sua grande família ainda passava.

Quando percebeu que não havia mais nada a se fazer, não tinha mais espaço para crescer, resolveram mudar de ares. O pai, que foi primeiro, de cara logo deu um jeito de matar a saudade dando umas namoradinhas. Quando toda a família veio o patriarca não queria mais nada com eles.

O irmão mais velho casou. As duas irmãs subseqüentes construíram família mesmo antes da partida do interior. E lá mesmo ficaram. E Pedro Cem, agora o mais velho, aos 25 anos de idade, mal sabia o que era ter uma namorada. Chegava faminto do trabalho, e quando tinha sorte do dono da quitanda vender fiado, rachava um ovo em seis partes enquanto via a mãe de longe passando fome se confortar por ver os filhos se alimentarem em mais um dia de vida em que deus não foi lhes visitarem. Por isso é que Pedro Cem, de hábito, só faz o prato depois do último.

Na cidade grande conseguiu estudar até onde pôde. Trabalhou todos os dias até o sol raiar. Obteve respeito, comprou mercearia em local privilegiado no centro da cidade. Aproveitou a expansão do município e foi crescendo junto com ele. Ingênuo e ansioso para recuperar o tempo perdido pelas dificuldades, distraiu-se algumas vezes e acabou perdendo algumas oportunidades. Mas quando a derradeira apareceu, soube aproveitar e fazer jus aos anos de martírio.

Logo passou a ser o ponto de apoio da sua casa. Pai, mãe, irmãos e sobrinhos. Todos o tinham como exemplo. Homem inteligente, embora pouco estudado; conheceu mulher mais nova, de família humilde, mas boa. Bem criada! Não pensou duas vezes antes de casar. A essa altura já tinha 35 anos, era rico, bem sucedido. Pagava os funcionários públicos de toda a cidade e não tinha um policial que não reconhecesse seu sobrenome. 

Pedro Cem! Para cada objeto, ele tinha cem!

Os anos iam se passando enquanto ele aumentava a fortuna sem se preocupar com os golpes do acaso. Teve filho. Inventou sobrenome importante e fez de tudo para essa criança não carregar os genes que cicatrizavam sua alma. E só se alimentava depois que seu filho já havia se alimentado. Queria ter a certeza de que o menino estava farto.

Sofreu acidente, quebrou a perna. Ficou mais de dois anos sem andar. A medicina dizia: nunca mais! Enquanto sua mãe rezava e o medicava a base de fitoterapia. Por força do destino impugnado pelas novas circunstâncias, a mulher aprendeu a dirigir o carro. E agora era ela quem levava todos os dias a sua criança para o colégio. Pedro Cem enfrentava uma nova batalha: voltar a ficar de pé sozinho.

Queimaram-se fazendas, afundaram-se os barcos. E toda a riqueza de Pedro Cem retornava para o brejo. A ruína e a derrocada o consumia todas as noites lhe dando força até calçar os tornozelos com glória e quase por um milagre ele retornar a posição de homo sapiens. Só que agora ele era o Pedro Cem que já teve e hoje não tem. Quem quiser dá uma esmola, que dê. Se não quiser ele também não fará empenho. Orgulhoso por já ter tido e feliz por ainda poder ter.



Ricardo Magno