6 de julho de 2010

A Pedra de Bolanha


        

 A linda e maravilhosa Pedra de Bolanha, exposta ao sol, furta-lhe os raios e fica por algum tempo luminosa durante a noite. A vertigem arrebata os sentidos! É o mesmo que dizer que sua alma cândida não sabe o suplício que me infligem essas pequenas familiaridades! Então, parece que vou desaparecer como que ferido por um raio.

Desejam que eu arranje alguma ocupação. Isso me faz rir! Não estou eu, então, ocupado neste momento? Seja em contar grãos de ervilhas, ou lentilhas, no fundo não é a mesma coisa? Tudo neste mundo leva às mesmas mesquinharias; e aquele que, para agradar aos outros, e não por paixão ou necessidade pessoal, se esgota no trabalho para ganhar dinheiro, honrarias, ou o que quer que seja, aquele que agir desse modo, digam o que disserem, é um louco! Pois não são as visões quiméricas que nos tornam felizes? 

Devemos proceder com as crianças como Deus procede conosco: nunca nos faz tão feliz como quando nos deixa ir ao acaso na doce embriaguez de um engano. As estrelas e os astros que nada nos dizem com suas verdades cintilantes, têm tanto em comum com a nossa existência quanto o ser na outra face da terra que nunca conhecemos. Quando o ser não sabia que era ser, o que era o ser? Quando o ser não sabia o que era o ser, o que era ser?


Assinado: O jovem Werther


Ricardo Magno

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