19 de julho de 2010

Iconografia e Iconologia: análise e interpretação das obras de arte

No mundo da história da arte, os termos “iconografia” e “iconologia” foram relançados
na década de 1920. Por volta da década de 1930, o uso desses termos tornou-se associado a uma reação contra uma análise predominantemente formal de pinturas em termos de composição ou cor, em detrimento do tema. A prática da iconografia também implica uma crítica da pressuposição do realismo fotográfico em nossa “cultura de instantâneos”.
Os iconografistas enfatizam o conteúdo intelectual dos trabalhos de arte, sua filosofia ou teologia implícitas a questionar o falso realismo artístico superficial que poderia vir a esconder mensagens religiosas ou morais através do “simbolismo disfarçado” de objetos do cotidiano. Para eles, as pinturas não são feitas apenas para serem observadas, mas também para serem “lidas”. Como o pensador Roland Barthes (1915-1980) certa vez declarou: “Eu leio textos, imagens, cidades, rostos, gestos, cenas, etc.”.
A Escola de Warburg foi o grupo mais famoso de iconografistas reunidos em Hamburg nos anos que antecederam a ascensão de Hitler ao poder. O enfoque de imagens do grupo foi sintetizado num famoso ensaio de Erwin Panofsky, publicado em 1939, distinguindo três níveis de interpretação correspondendo a três níveis de significado no próprio trabalho.
O primeiro era a descrição pré-iconográfica, voltada para o “significado natural”, consistindo na identificação de objetos (tais como árvores, prédios, animais e pessoas) e eventos (refeições, batalhas, procissões, etc.). O segundo analisava a iconografia no sentido estrito, voltado para o “significado convencional” (reconhecer uma ceia como a Última Ceia ou uma Batalha como a de Waterloo). No terceiro e principal nível se encontra a interpretação iconológica, distinguindo-se da iconografia pelo fato de se voltar para o “significado intrínseco”. Em outras palavras, “os princípios subjacentes que revelam a atitude básica de uma nação, um período, uma classe, uma crença religiosa ou filosófica.”. É nesse nível que as imagens oferecem evidências úteis, de fato indispensáveis, para os historiadores culturais.



Ricardo Magno

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