31 de agosto de 2010

A busca perfeita

Em si tratando de literatura, não acho cabível falar de evolução. Cada escola teve sua devida importância de acordo com seu tempo e seu momento histórico. Formando palavras aleatórias até poder tirar o coelho da cartola e vivendo num tempo de todas as épocas são vários os pontos que convergem dentro de mim.

Me divirto ao misturar palavras e sentimentos, ou, às vezes simplesmente em deixá-los como são. Pois quando escrevo, gero vida. Tiro um pedaço de mim e a “poesia” fica de corpo e alma. Por hora, digo o que penso ou digo sem pensar. Porque criar é um dom e saber ser dissimulado é uma arte.

Eu não invento, eu não crio o que escrevo. Eu não passo horas e horas debruçado sobre uma folha em branco analisando, estudando e calculando friamente os sentimentos a buscar a melhor forma de organizar as palavras para obter a expressão literária desejada. Eu não faço nada disso!

Como um espírita que psicografa cartas, assim sou eu. Apenas um veículo anastomótico ligado entre o mundo das idéias e o mundo dos sentidos, através do qual as sensações anímicas e oníricas recebem a efêmera extensão da materialidade.

Quando penso que não, minha alma vai além de meu corpo, se confunde com a surrealidade e me mantém com os desejos impossíveis. Trancado dentro de mim mesmo, igual a uma criança medrosa, estou em um lugar onde as lágrimas não respingam em mim e o choro não pode me alcançar.

Ignorando os lugares de onde vim e a vida das pessoas por quem passei, agora, apenas escrevo apavorado pelas circunstâncias do destino. Prometendo para mim mesmo nunca mais escrever letras borradas em papeis amassados, me deito no tempo e deixo-o ir embora.

O escritor, o poeta nada mais é do que essa máquina fantástica canalizadora das duas extensões da natureza humanas (corpo e alma). Ele se faz apenas como um meio, um instrumento de ligação da hipersensibilidade dotada pelo cosmo universal à dar luz e forma física a anti-materialidade.

Com cada um trepado nos seus galhos, quando a sociedade se transformou em um bando de macacos, eu sou obrigado a pedir desculpas aos macacos.



Ricardo Magno

O filho de Stálin




Somente em 1980 é que se soube da morte do filho de Stálin, Iakov. Prisioneiro de guerra na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, ele ficou num campo de concentração junto com oficiais ingleses. Tinham latrinas em comum.
O filho de Stálin sempre as deixava sujas. Os ingleses não gostavam de ver as latrinas sujas de merda, mesmo que fosse a merda do filho do homem mais poderoso do universo (e Stálin era). Chamaram-lhe a atenção. Ficou aborrecido. Repetiram as reclamações e o obrigaram a limpar as latrinas. Ele se zangou, vociferou, brigou.
Finalmente pediu uma audiência ao comandante do campo. Queria que ele fosse o árbitro da discussão. Mas o alemão estava muito convencido de sua importância para discutir a respeito de merda. O filho do Stálin não pode suportar a humilhação. Bradando aos céus atrozes palavrões russos, jogou-se contra a cerca de alta-tensão que cercava o campo. Deixou-se cair sobre os fios. Seu corpo, que nunca mais sujaria as latrinas britânicas, ficou ali dependurado.
O filho do Stálin não teve uma vida fácil. Foi concebido pelo pai com uma mulher que acabou sendo fuzilada por ele. O jovem Stálin era, portanto, ao mesmo tempo filho de Deus (pois seu pai era venerado como Deus) e amaldiçoado por ele. As pessoas tinham medo em dobro dele: podia fazer-lhes mal com seu poder (afinal, era o filho de Stálin) e com sua amizade (o pai podia castigar o amigo no lugar do filho repudiado).
A maldição e o privilégio, a felicidade e a desgraça, ninguém mais do que ele sentiu tão concretamente como estes opostos são permutáveis e como é estreita a margem entre dois pólos da existência humana.
Logo no início da guerra, foi capturado pelos alemães e acusado de porco por prisioneiros provenientes de uma nação que considerava incompreensivelmente fechada e pela qual sempre tivera uma antipatia visceral. Como podia ele, que carregava nos ombros o mais sublime drama que se possa imaginar (era, ao mesmo tempo, filho de Deus e anjo caído), ser julgado, e, ainda por cima, julgado por coisas que nada tinham de nobres (relacionadas com Deus e com os anjos), mas por uma questão de merda. O mais nobre dos dramas e o mais trivial dos acontecimentos estariam assim tão próximos?
Tão vertiginosamente próximos? Pode a proximidade causar vertigem?
É claro que sim. Quando o pólo norte se aproximar do pólo sul a ponto de tocá-lo, o planeta desaparecerá e o homem ficará num vazio que o atordoará e o fará ceder à sedução da queda.
Se a maldição e o privilégio são uma só e única coisa, se não existe diferença alguma entre o nobre e o vil, se o filho de Deus pode ser julgado por uma questão de merda, a existência humana perde suas dimensões e adquire uma insustentável leveza. Assim, o filho de Stálin corre para os arames eletrificados e neles se atira, como se jogasse o corpo no prato de uma balança que sobe, impiedosamente, levantado pela leveza infinita de um mundo que perdeu as dimensões.
O filho do Stálin perdeu a vida por merda. Mas morrer por merda não é morrer de modo absurdo. Os alemães que sacrificaram a vida para ampliar seu império em direção ao leste, os russos que morreram para que o poder de seu país se estendesse em direção ao oeste, esses, sim, morreram por uma tolice, e a morte deles é destituída de sentido, de qualquer valor geral. Em contrapartida, a morte do filho de Stálin foi a única morte metafísica em meio à tolice universal que é a guerra.

Texto extraido do livro A insustentavel Leveza do Ser; Milan Kundera

30 de agosto de 2010

Atendimento ofensivo

À medida que existem pessoas que podem mais do que o que tem e outras que querem mais do que o que podem; o que importa é o sentimento, e não por quem sentimos o que sentimos. Por isso é necessário o autoconhecimento. Mas, enquanto espero tu chegares, vire esses olhos verdes para lá!

Jogo o dado, corro os riscos e, se perder, prometo que não fugirei das responsabilidades de meus atos. Pois, mais forte e mais fraco, é sempre assim que me sinto quando estou do teu lado. E somente quando toda a criancice que habita dentro de mim um dia se esvair é que posso fingir não mais crer nas minhas maiores convicções.

Tudo o que eu imaginava ser difícil, na verdade, era mais difícil do que eu imaginava. Pois o sucesso é como a subida íngreme de uma montanha cujo topo a cada pequena vitória vai ficando mais distante. Quanto mais percorremos o caminho mais percebemos que ele é longo. É que o início e o fim se fazem igual a dois pontos intermitentes que só existem nas dimensões das paredes cavas de nossa mente.

Como reles poeira no vento, cada partícula de mim se esvai no ar à medida que meu corpo desmorona no tempo. Uma ventania me consome e some de mim a solidão. Igual a cinzas que nunca beijam o chão, o que não deve ir logo se evapora flutuando eternamente.

Se me incomodo, incomodo comigo mesmo. Se incomoda, incomoda a mim mesmo. A cada descoberta me sinto mais feliz e a cada felicidade me sinto mais preocupado, pois a alegria e a tristeza são os equilíbrios da balança. Inventado seus amigos e criando suas histórias, talvez não exista nada e ninguém. Somente um pequeno príncipe em cada planeta solitário cuidando para não desequilibrar a bendita balança.

Adquirir conhecimento de todas as variedades do mundo e ler bons livros até se tornar verdadeiramente humano. No limite em que puder chegar, tentar manter o domínio do “universo”, não ser apenas um mero fantoche do acaso. É conseqüência das riquezas espirituais o poder, o prestigio e a posição social. E a conquista do mundo material pela aquisição das coisas terrenas.

Aprendendo a conservar o ódio como autopreservação e ponderar a tentação da piedade, todo homem pleno adquiri o uso da armadura plena. Pois, impiedosamente, sem muitas dificuldades elas podem ser usados.

Na busca pelo amor verdadeiro de qualquer coisa que nos hidrate, descansar o corpo, às vezes, é o mesmo que entorpecer a alma ao pousá-la numa nuvem cinza de fumaça. Dotado de sapiência física e espiritual, a imagem de deus em pessoa é a mais perfeita permutação do universo.

Tudo bem que eu sei que não sou o único ser humano com problemas na face da Terra. Mas o atendimento na maioria das repartições públicas é uma merda! Muita gente, pouco funcionários e nem todas as calamidades do mundo dão o direito a ninguém de se comportar de modo revoltado. Em grupo, por mais que as pessoas venham a se comportar da mesma forma, nunca devemos esquecer que cada pessoa é uma pessoa. Se tu mal me conheces, então por que me tratar de maneira adversa?





Ricardo Magno

De si

A corda só arrebenta do lado do mais fraco justamente por ele ser o mais fraco. Do contrário, isso nunca iria acontecer. Eu sofro, mas sou feliz! E no fundo, acho que é isso que importa. Ou acaba importando, importado!


A vida é fudida pra caralho porque eu sou uma espécie de caralho. Um daqueles caralhos ambulantes que não sabem fazer nada. O tipo de caralho predileto que a vida adora ferrar. Mas foda-se! Tanto faz. O que importa mesmo é somente eu, meu pai e minha mãe.


Se até agora eu ainda não sai das asas dos meus pais, o que isso vos importa mesmo? Vão se foder! Não é vosso problema. O que me importa é somente eu, meu pai e minha mãe. O resto é que nem onda no mar, no seu eterno e inconstante vai e vem.


Me ferrei de novo, perdi as estribeiras. Tanto faz, não importa. E mesmo quando eles não estiverem mais, sei que ainda estarão aqui. As únicas pessoas confiáveis, aqueles nos quais posso confiar. O resto é tão constante quanto chuva no deserto, cabelo na cabeça de cara.


Achado pode até não ser roubado, mas é apropriação indébita. O certo é que sempre busquemos nos manter protegidos dentro dos arredores de nossa zona de conforto interna e externa. E este nos é dado como um exercício regular de um direito. Qualquer coisa, por lei, é só alegar estrito cumprimento de um dever legal ou então legitima defesa.


Chore e ande, morra e corra, lute ou sofra; mas nunca se esqueça que amanhã, por nada neste mundo, o dia deixará de raiar e que os raios de sol sempre suscitam novas possibilidades. Talvez amanhã ou com certeza, manhãs após manhãs, tu estejas mais perto de encontrar o que realmente necessitas.


Ricardo Magno

Verdades

Falta de responsabilidade é completamente diferente de irresponsabilidade. Porque o irresponsável tem deveres e se faz negligente diante deles enquanto o indivíduo isento de obrigações tem uma vida ausente de ônus.


Não há construção sem destruição. E o processo se faz através da decomposição, recomposição e composição. Mas ficar todos os dias bebendo pra se autodestruir, nem das cinzas poderá restar algo.


O que faz com que ela goste de mim é o simples fato dela criar inúmeras idealizações onde ela sabe que eu sou dela, mas estando ciente de que não pode me ter. E quem sou eu pra destruir as fantasias alheias? Ela é uma e ela é outra, sendo que ambas são duas pessoas completamente diferentes de todas.


Não sei até que ponto uma pessoa pode gostar de outra, de verdade! Perdi um pouco desse “feeling” e agora tudo me parece bastante cético. Pois atualmente, são vários os fatores que definem o nosso querer, e dentre eles, sem que as pessoas percebam, poucos têm a ver com a verdadeira afetividade.


Então, apesar de ser uma remota possibilidade, pode ser que um dia eu me entregue de verdade, ao não ser se eu nunca consiga gostar de alguém por pura e simples afetividade e se a reciprocidade também não for verdadeira. Do contrário, pode existir alguém com a rara possibilidade de um dia me ter realmente, embora isso não seja mais uma grande dádiva, pois agora sou um homem desvinculado de laços sociais, e é justamente através dessa aura que as pessoas nos consideram como se fossemos cabalmente seres especiais. Portanto, não sou mais!


Sou apenas um cara que nutre a esperança de mais uma vez ser engolido pelo sistema. E que dessa vez eu consiga passar a perna em todos eles. No entanto, é muito chato terminar um relacionamento, em qualquer que seja o tipo de relação, e gostando ou não, olhar da próxima vez para o ser que mais queremos, só que agora, totalmente isento do sentimento de posse, dominados pelos ciúmes que faz frente ao sentimento de obsessão.

Ricardo Magno

No lugar

Eu beijo a faca e através dela sinto o gosto do meu sangue. Agora tenho o antídoto para teu veneno!




Ninguém me deixa falar a verdade porque ela ofende nossas almas.




Não passo de um soldado ferido sendo carregado pelas próprias chagas.




Não tenho paciência para esperar, não tenho suporte pra suportar. Por isso acabo sempre construindo coisas que me destroem.




O sofrimento ajuda a ignorar as mentiras quando os loucos são os únicos que dizem a verdade e fracos somos fortes pra aceitar essa dura realidade.





Ricardo Magno

O caderno

O caderno é o único confidente de minhas verdades. Não tenho medo de mostrar a ele quem realmente sou.


Descrevo em seu rosto todas as minhas máscaras, lhe conto tudo o que sei e lhe pergunto sempre o que gostaria de saber.


Falo a verdade como se fosse mentira, pois o manipulo do jeito que gosto e faço intriga na sua barriga.


Mas hoje à noite quero guardar tudo o que sinto somente para mim, porque descrever a alma é como se despir para a vida.


O dono das respostas é o criador das perguntas e quanto mais vivo mais pareço estar fazendo o que sempre foi feito.


A moldura da minha forma ficou distorcida no tempo e não estou triste por estar morrendo. Aprendi a aceitar as derrotas vendo os outros perdendo.





Ricardo Magno

23 de agosto de 2010

As aventuras sexuais de um maranhense com viúvas e desquitadas





Acordo. Tento entender o que é que estou fazendo neste quarto penumbroso e abafado. Respiro fundo. Ao meu lado ronca, gemebunda, uma criatura. Nua. Um imenso manjar branco, trepidante e gorduroso, ressona profunda e satisfeita. O ar viciado da alcova mistura o odor do meu perfume másculo com os cheiros de sexo dormido. Agora tudo faz sentido. A farra do Terraço, a mesa das coroas, a viúva do policial e outras viúvas teúdas e manteúdas das repartições públicas: viúvas do Banco do Brasil, viúvas da Polícia Civil e Militar, da Marinha e da Câmara Legislativa. Pensões razoáveis, silhuetas avantajadas. A viúva do delegado se exibia exuberante e oxigenada. Conversa fiada, papo furado, galanteios e na mesa das viúvas na seresta do Terraço eram só risadinhas histéricas, fungadelas e piscadinhas marotas. As coroas, de repente, voltaram vaidosas aos tempos do Clube Recreativo Tocantins.

Convidei a viúva do delegado para almoçar no Farol, local discreto e secreto, comida razoável, preço conveniente. Eu convidei, ela pagou! Enchi o prato, a gorda, fingida, beliscou uma salada. Papo furado, conversa fiada. Ela desfiou a vida toda, inteirinha. Mulher é assim: adora alugar um ouvido. Filha de militar, infância em Grajaú e professora por alguns anos do Liceu Maranhense. O casamento com o delegado, na época, de segunda classe, recém-saído da universidade, e aquela rotinazinha castrense de circular pelo país de norte a sul, de cabo a rabo, por ceca e meca, supervisionando as coletivas das operações de drogas e a manutenção, impecável, dos campos de futebol das prisões por este Brasil afora. As fofocas usuais da regional, as promoções, as caronas e a mulher dadeira do secretário de segurança. E então veio o primeiro filho. Troca de delegacia, troca de cidade, outro filho, uma promoção e toca para Manaus. E mais um filho, agora filha, e mais mudança. Desta vez para uma regional de fronteira, em Uruguaiana. E mais uma promoção e mais uma filha, até a volta ao Maranhão, para a capital do estado. Veio o 31 de março. O delegado (naquele tempo ainda pau mandado) era bem relacionado, foi designado chefe da regional do sul do Maranhão, salário maior e melhor, em reais mais despesas e depois, de volta a terra amada, veio à reforma e uma diretoria no departamento. O delegado morreu, de repente! Enfarte, comendo uma balconista do Supermercado Mateus “que ele ajudava”. Cafajeste! Escutei tudo, mas não ouvi nada.

A senhora pode abrir o seu coração para mim, eu sou do bem.
A senhora não! - protestou vaidosa a coroa. - Você. Pra você, só você...

Convidei a viúva do delegado para uma tertúlia matinal no Clube Juçara. Um musical leve, obra completa da jovem guarda. Fomos de táxi. Eu convidei, ela pagou. Fingindo distração, rocei na sua mão. Ela enrubesceu. Desce a noite, eu sugeri um chope gelado na Coronel Manoel Bandeira. Eu convidei, ela pagou. Papo furado, conversa fiada. A empregada, a novela, os netos, receitas de quitutes e solidão. Muita solidão! Acompanhei a viúva carente até a porta de casa. Rua Godofredo Viana, uma das casas mais chiques do bairro. Convidou para subir. Só um copinho de água e, quem sabe, assistir junto à novela. Subi. Varanda ampla, antigo, cheio de tudo e mais um pouco: porta-retratos, lembranças de viagens, quadros de gosto duvidoso, na sala de jantar um enorme preto-velho segurando um cachimbo presidia o ambiente. Na sala principal, aquela paisagem clássica dos cavalos fugindo do fogaréu. Pendurado na parede da copa agonizava um escudo do Sampaio Correia Futebol Clube. Era o time do delegado. Na cozinha, o liquidificador vestia uma capa que imitava uma saia.

Ligou a tevê e, em seguida, ofereceu um drinque. Um White Horse. Bebemos. Mais um. Mais dois. Eu detesto White Horse. Perguntei se tinha uísque. Tinha um Black Label guardado, ainda dos tempos do finado delegado. Resolveu me acompanhar. Mais um, mais dois, mais três. Eu podia ter dado um “Boa noite, Cinderela” na viúva. Mas eu não sou assim: Você pode se abrir comigo, eu sou do bem.

Peguei a coroa. Ainda no sofá, arranquei a saia da viúva do delegado e chupei aquela boceta murcha, encarnecida, quase careca. Ao fundo, como trilha sonora, o Jornal Nacional. A viúva do delegado gemia pálida e seminua no sofá. Há muito aquela xavasca não via a cor de uma piroca. Aliás, sem modéstia, uma bela piroca. Levei-a no colo para o quarto e botei a coroa pra chupar minha vara. Enquanto ela mamava gulosa, eu quase pedi para ela tirar a dentadura, mas desisti. Não ficaria bem. Meti a churumela na coroa de tudo que era jeito. Eu gosto de fazer a felicidade dos outros, faz parte da minha missão. E a coroa dava tudo de si. Suava, babava e gemia. Parecia que estava fodendo pela última vez na sua vida. E pela primeira vez também. Eu entendo isso, eu sou guerreiro.

Mas a viúva do delegado urrou mesmo foi quando eu botei ela de quatro atochando a minha peia fumegante naquele cú gordo e untuoso. E comer um cú não é tarefa fácil, não é um coito trivial. Tem que ter a ereção a cem por cento. Não tem meia bomba, nem três quartos. Tem que ser ereção de cem por cento. E comer um lorto velho é muito mais difícil. Cú de velho é frouxo, o esfíncter não apresenta a mesma rigidez de um burrão na força de sua juventude. Todo mundo sabe que, para o coito anal bem-sucedido, o passivo, o receptor, tem que contrair a musculatura, como se estivesse evacuando. A rigidez muscular do anel de couro oferece o apoio adequado para a penetração do caralha entumescido na furna escura da caverna retal. E o meu dezoitão não nega fogo. Eu sou guerreiro. Foi tudo na prega rainha da viúva do delegado, que rebolava jurando que nunca tinha feito aquilo antes.

Com o testemunho risonho dos netos no porta-retrato da mesinha de cabeceira, gozei naquele rosto avoengo, igualzinho aos filmes de sacanagem. O odor do meu perfume másculo misturava-se aos odores corporais do sexo animal. A viúva do delegado agradecida era toda felicidade. Jurou amor eterno e insinuou a possibilidade de uma viagem para os Lençóis Maranhense. Fingi que acreditava. Eu sou assim, eu sou do bem.

Desligo a ducha e me enxugo cuidadosamente. Penteio o cabelo e visto minha roupa devagar, sem fazer barulho. A viúva do delegado sonha enquanto eu vou até a sua bolsa e, de dentro da carteira, retiro uma das quatro notas de cinqüenta. É para o táxi. No espelho do banheiro escrevo com batom “Eu te amo”. Eu sou assim, eu sou do bem...


... Eu conheci a Cláudia no dia em que resolvi presentear a Fernanda. A Fernanda era uma criatura que eu estava comendo, secretária particular no escritório de um figurão da política regional que mora nos Três Poderes, mas isso é outra história. Passando pela frente de uma das butiques do shopping, reparei na vitrine as calcinhas fio-dental, minúsculas, provocantes, com um penacho no lugar em que se acomoda a boceta, e concluí que, presenteando a Fernanda com uma daquelas, poderia garantir a contrapartida de uma noite de sexo anal e outras perversões que eu tanto aprecio. Entrei na loja e a gerente, sorridente e solícita, me atendeu em pessoa. Sabe como é, homem comprando calcinha, ainda mais sendo atendido por uma vendedora bonita, já é, por si só, ponto de partida para um conto erótico. Separada de pouco, a Cláudia andava matando cachorro a grito e não se fez de rogada para embarcar nas piadas de duplo sentido que eu fazia, enquanto examinava a mercadoria. Percebi na hora pelo olhar triste da mulher, apesar do sorriso comercial, que aquela criatura era toda carência e solidão e, a essa altura da história, todo mundo já sabe que eu sou assim, eu sou do bem.

Para uma mulher descasada, não é toda hora que aparece a oportunidade, ou mesmo uma vaga probabilidade, para uma foda eventual. E, conforme pude comprovar mais tarde, a Cláudia, apesar de mãe e arrimo de família, se amarra numa sacanagem, mesmo porque na idade em que está vive a plenitude de sua energia sexual. Tem PhD em putaria e sabe tudo do assunto. Não tem mais nada a aprender. O problema é que hoje em dia, com a falta de homem, de homem de verdade, a Cláudia, assim como 110 por cento das mulheres solteiras comíveis desta cidade, está longe de usar toda a extensão de sua capacidade sexual instalada. Já se acostumou a ouvir as queixas das moças de que não tem homem no mercado. Se tem um cara bonito, bacana, sozinho quando elas, as mulheres carentes se aproximam, ou o cara é viado ou então, pior, problemático, cheio de papo cabeça, não sei quantos anos de análise e outras querelas existenciais e, na foda, que é o que interessa, o cara é um fiasco.

Resumindo: comprei duas calcinhas. Uma para a Fernanda e outra para a Cláudia, que convidei para sair e depois dançar numa boate. Fiz questão de dividir a despesa. Eu sou assim, eu sou do bem.


Texto contextualizado com fatos reais do original de Marcelo Madureira publicado no livro Meu Querido Canalha

MPB: a sigla medonha

Do rock à bossa nova até chegar à jovem guarda, mas antes, passando pelo fracasso das canções bossa-novistas gravadas em 1959, Roberto Carlos começava a entender a sofisticação maior da bossa nova à medida que ia descobrindo o dialogo popular que o “rock” mantém com o povo. Assim ele se tornou iê-iê-iê.
A guitarra elétrica na bossa nova, jamais! João Gilberto e toda sua trupe defendiam ferozmente a patente da bossa como tipicamente brasileira. Devido a sua origem, a guitarra representava uma invasão da cultura estrangeira na terra tupiniquim. E isso era inaceitável, musicalmente e harmonicamente falando. Assim destinada para milhões de brasileiros, a poesia jovem-guardista, nada intelectualizada com a maioria dos sucessos vindo de versões estrangeiras, mas com uma particular e cativante doçura, acabou ficando tachada de traidora da cultura nacional pela turma do “Desafinado”.
Dentro dessa análise sociocultural e artística de meados da década de 60, tão logo a questão entrou no ar, diversos expoentes da tradicional MPB e da intelectualidade oficial decidiram declarar “guerra” à jovem guarda. Num dos maiores “micos” da história da música brasileira, um grupo de artistas encabeçado por Elis Regina, Jair Rodrigues, Edu Lobo, Geraldo Vandré e MPB-4 (e com participação de um constrangido Gilberto Gil) foi às ruas em manifestação que ficou conhecida como a “Passeata contra as Guitarras Elétricas”. Mesmo apresentada como um protesto “contra a invasão da música estrangeira” a mobilização não atraiu artistas mais abertos, como Caetano Veloso e Nara Leão (que se recusou a participar). Em 1966, não havia o menor sinal do que poderia surgir. Porque existia um fosso entre a bossa nova e a jovem guarda. Entre o público, essa divisão também era bem definida: a bossa era ouvida por universitários, enquanto a jovem guarda agradava aos adolescentes e colegiais. Desde o início, o tropicalismo pareceu muito estimulante, mas Gil e Caetano ainda não sabiam claramente o que queriam. Então decidiram incrementar suas composições com uma roupagem que eles chamavam de “som universal”. Era este o termo, no começo.
Enquanto a jovem guarda era dissecada por sociólogos e psicólogos, o tropicalismo atraia a atenção dos poetas concretistas Augusto de Campos e Décio Pignatari, seus maiores divulgadores. O movimento passa a ser visto como uma continuidade não linear, do ciclo aberto por João Gilberto: “Eles deglutem, antropofagicamente, a informação do maior inovador da bossa nova. E voltam a por em xeque e choque toda a tradição musical brasileira, a bossa nova inclusive, em confronto com os novos dados do contexto universal”, dizia Augusto. Depois desse momento, a MPB (que, até então, significava apenas o tipo de música nacional produzida após a bossa nova, com influências nordestinas, como “Disparada”. Gal, Caetano e João na TV Tupi eram MPB “de verdade”. Ao rock, dali em diante, restavam as revistas underground como a nossa Rolling Stones pirata, sessões malditas em pequenos teatros e os festivais sob chuva em Saquarema. A nata da MPB deixara as revistas populares em direção aos recém-criados cadernos culturais. Era um fosso tão bobo quanto o que o tropicalismo havia fechado em 1968. Mas dessa vez não houve reação por parte destes, pois agora, eles estavam do lado comercialmente mais interessante e favorável do alambrado.
Esse processo de emepebização foi concluído em 1974, quando Guilherme Araújo reuniu os amigos exilados a Gal e Bethânia para o projeto Doces Bárbaros. Ali, sim, o sonho acabou para dar lugar aos anos 70 que temos na memória: tempos de muitos excluídos (Macalé, Torquato, Tom Zé, Arnaldo Baptista... a lista não tem fim), muitos malditos e muita/pouca MPB, seja lá o que essa abreviatura queira dizer.



Fonte: Revista Super Interessante especial história do rock

Manoel de Barros e o infra-ordinário


Os jornais só falam daquilo que é extraordinário. Do que não é comum, do que não faz parte do cotidiano, enquanto que, na antropologia o que interessa é olhar o detalhe. Ele sim é revelador! 

Talvez muito mais do que o grande acontecimento. Numa atitude radical da idéia de retratar não o excepcional, mas o infra-ordinário em oposição ao extraordinário, como defende o escritor francês Georges Perec, Manoel de Barros desenvolve seu projeto, não de uma língua grandiosa, rebuscada, mas de uma língua simples, rasteira, “pobre”, sem ser, contudo, simplório ou simplista, (o que é bem diferente de simples). Sua linguagem toca o chão, roça o solo das palavras, tirando delas o que elas têm de terra, de mais natural.

Esse trabalho com a simplicidade, com as coisas rasteiras do chão, também se configura como um projeto. A preocupação de falar sobre poética, como dito anteriormente, está ao lado da procura por essa “pobreza” dos temas, “pobreza no sentido” de que aquilo que Manoel de Barros escolhe para tratar na sua poesia é sempre algo “pequeno”, “ínfimo”, geralmente descartado pela maioria dos poetas. Na sua poesia, têm lugar privilegiado e seguro os insetos (formigas, principalmente), os pássaros (beija-flor, bem-te-vi, rolinha, andorinha), bichos que rastejam (sapos, lagartos, caranguejos), lembrando as “coisas rasteiras” que ele elege como tema.

Para o poeta, tratar dessas coisas rasteiras o aproxima de uma imagem, o lança ao início das coisas, há um tempo mítico, bíblico, primitivo. Essa busca é também uma busca pelo tempo anterior à linguagem, em que nada existia além das coisas. Aí é que está o mítico de sua poesia, o primitivo, já que num tempo primordial não há uma linguagem, há simplesmente as coisas. Manoel de Barros parece querer alcançar a coisa em si, em seu estado bruto, em seu estado de coisa mesmo. Por isso, é que como poeta ele diz: “As coisas tinham para nós uma desutilidade poética. Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber. A gente inventou um truque pra fabricar brinquedos com palavras”.

Da palavra à coisa, do ser à natureza, do agora ao original, dá página à pedra. Para ele, a linguagem não deve servir a um sentido pronto, mas deve enlouquecer o sentido desarticulando a língua que utilizamos todos os dias até confundir nossa lógica, que empobrece a língua em apenas uma possibilidade de expressão. Esse é o percurso da poesia de Manoel de Barros. Assim é que o poeta pode “voar fora da casa”, pode alcançar os “deslimites” da palavra, o além da linguagem, o cerne das coisas, sua matéria é, enfim, o que escapa à expressão por meio de palavras. Portanto, um merecido salve a Manoel de Barros!


Ricardo Magno

Pubius Sirus

O amor tem comprimentos e medidas mensuráveis. Por isso, ele tem começo e fim. É, que, quando a gente gosta verdadeiramente de alguém, a gente faz de tudo para levar essa pessoa para cama. Assim é com os homens e assim é com as mulheres. Pois toda mulher é um problema e uma solução, só que a solução, quase nunca os homens encontram.

Homens versos mulheres são semelhantes a brasileiros jogando contra argentinos. E para o tango virar chorinho, não custa praticamente nada. Porque viver é cometer erros e morrer é desejar ter feito muito mais.

Ser feliz sem saber é o mesmo que não ser. Portanto, todas às vezes em que o estimulo for negativo temos o dever de responder com atitudes positivas. Nunca faça algo buscando unicamente conquistar o respeito de alguém, não é assim que as coisas devem ser. Mas se um dia ele tiver que ser seu, não tenho dúvidas de que ele será.

Sempre faça o que tem que fazer ou nunca faça nada! Sempre diga o que tem que dizer ou nunca diga nada! Busque sempre ser e agir de acordo com o que tu realmente és, ou nunca seja nada!

Dentre todos os absurdos da gramática, o que mais poderia ser classificado como “zona rural” a não ser um puteiro no meio do mato onde as raparigas cobram dez reais?

No interior de uma lápide também pode habitar um coração. Faces sorridentes são faces hipócritas. Qualquer cuidado é pouco no covil das cobras porque a imagem da medusa faz tudo virar pedra enquanto o peito do valente clama justiça e guerra.

O céu só é azul porque ninguém pode mudá-lo de cor. Às vezes, ter poder nos torna irracionais. Deixamos de fazer o óbvio, deixamos de fazer o que é melhor para apenas satisfazer nossas vaidades. Talvez, por isso seja gostoso tê-lo. Porque o tendo não precisamos trancafiar nossas paixões dentro da “razão”. Apenas queremos, podemos e fazemos, pois passageiro é tudo aquilo que um dia pode vir a se tornar transitoriamente eterno.



Ricardo Magno

20 de agosto de 2010

Frases


1 - Afogo-me nos problemas e vejo paz em suas ondas. De noite, deus sempre vem me visitar. Me mostrando quem sou e pra onde vou, ele só tem é preguiça de me ajudar.


2 - É na busca por loucos prazeres que sempre acabo me perdendo na perseguição dos rumores de um novo paradeiro de outros sabores que estejam muito além do delicioso paladar que ela sempre me dá.


3 - Tão agredida quanto o filho da puta, tão querida quanto à puta, assim é minha alma presa numa jaula que se amplia e por isso me sinto mais livre. É só isso e nada de liberdade.


4 - A questão vigente não é mais se aprofundar nos pensamentos, e sim, se libertar deles. Porque é preferível aceitar os fatos a imaginar hipóteses.


5 - Em um processo do processo cujo sou um ser inacabado, meu coração canta uma música e ela é psicodélica.


6 - Eu não escrevo pra ganhar dinheiro, eu ganho dinheiro porque escrevo. E mesmo se não ganhasse continuaria escrevendo. Porque neste caso, a ordem dos produtos altera os fatores.


7 - Por demais, nos prendemos em sonhos mais do que nas pessoas que nos fazem sonhar, e uma das dores mais cortantes é ver esses sonhos acabarem.


8 - Das virtudes mais belas, ou os outros vêem ou aqueles que as têm não podem dizer nada.


9 - A pobre gramática é mais rica do que nossos nomes. Subjugando-me a impotências, me torno mais fraco do que um sujeito indeterminado, enquanto uma palavra vale mais do que a mim e uma frase vai além do verbo-carne à medida que a regência verbal me mata de curiosidade.


10 - O silêncio, às vezes, é a melhor forma de se expressar. E o vazio, às vezes, é a única coisa que nos preenche. E mesmo assim, contentai-vos em dormir todos os dias de barriga cheia.




11 - Pra que ficar dentro de casa numa noite tão linda? Aqui, o som da música é tenebroso. Então, o que faço é manter o coração rígido como o aço, ou, ao menos aparento ser assim. Esperar mais uma festa, motivo banal pra encher a cara de tédio e expurgar publicamente meus demônios fingindo que dessa vez eles foram embora.




12- As pessoas olham para um bêbado e o que elas vêem é só um bêbado. Que pena! Um mundo cheio de visões limitadas. Pois eu vejo bêbados, psicóticos, crianças e vagabundos. Assim diria Manoel de Barros.


Ricardo Magno

18 de agosto de 2010

A bússola das emoções


O gosto da tua boca é o hálito do meu veneno. Todo mundo conhece o espinho e mesmo assim se deliciam da dor, porque a satisfação pessoal é como uma espécie de orgasmo mental.


A única função do coração é nos matar com o que mais queremos. Isso ele sabe fazer muito bem e de um jeito bem feito! Enquanto dias vão, minutos passam, a presença some e sentimentos marcam.


Os cadeados do inferno não podem me prender, pois do teu prazer minha boca já provou do fel.


Pensar em ti me falta palavras porque parece que o mundo fica desorganizado.


Não há mais sol no paraíso! Ele agora se esconde por detrás de nossos olhos e escurece as sombras dos visitantes.


Perdi-me nos meus caminhos e estou feliz sozinho, pois tenho a lua pra me guiar.


Afogo-me nos problemas e vejo paz em suas ondas. De noite, deus sempre vem me visitar. Me mostrando quem sou e pra onde vou, ele só tem é preguiça de me ajudar.



Ricardo Magno

16 de agosto de 2010

A Hora do Rock!


Foi tudo culpa do cinema! Uma canção arrebatadora e, uma famosa cantora de samba-canção acabou envolvida com esse tal “novo ritmo”. Tudo começou em novembro de 1955 quando a “melodia” “Rock Around the Clock”, tema do filme “Blackboard Jungle” (Sementes da Violência) foi gravada por Nora Ney em cima da versão de Bill Haley & His Comets. Assim nascia o primeiro rock gravado no Brasil.
O estouro de “Rock Around the Clock” detonou o surgimento do rock’n’roll no Brasil, como em todo o mundo, por meio da tão digna e prestativa Sétima Arte. Incluído na trilha do filme, a música tocava apenas em sua abertura, durante a apresentação dos créditos, mas o suficiente para agitar os jovens espectadores e produzir grandes confusões nas salas de cinema.
Retratando conflitos de uma juventude que começava a buscar seu espaço na sociedade, o filme estreou em São Paulo e Rio de Janeiro em outubro de 1955 – no calor da morte trágica do ídolo jovem da época, James Dean. O filme, na verdade, faturava o sucesso comercial da música e amplificava ainda mais a sua febre inicial.
A situação de “descontrole” da juventude chegou a depredar cinemas ao som do rock, não agradando às autoridades. Em muitos casos, o filme chegou a ser proibido. O governador de São Paulo, Jânio Quadros ordenou ao secretário de Segurança que determinasse “à polícia deter, sumariamente, colocando em carro de preso, os que promovessem cenas semelhantes; e, os que fossem menores, entregá-los ao honrado juiz”. Com efeito, juizes de menores baixaram uma portaria proibindo o filme para aqueles que não tivessem 18 anos.
Apesar de tanto frenesi causado pela revolução involuntária, a verdade é que o destino previsto para “Rock Around the Clock” era outro, bem diferente. Gravada em 12 de outubro de 1954 e lançada no mesmo ano, o single foi inicialmente um fracasso, vendendo somente 75 mil cópias nos Estados Unidos. Foi somente um ano depois, com a inclusão na trilha de Sementes da Violência, que a música explodiu em vendas no mundo todo.
A gravação de Haley era, na verdade, um cover de um original lançado havia um mês pelo cantor ítalo-americano Sonny Dae & Knights. Seu autor, Max C. Freedman, era um nova-iorquino de 63 anos – nada mais distante do juvenil rock’n’roll que ajudou a construir. Ainda mais interessante é que Dae a relegou a um discreto lado B do vinil. A música, no entanto, estava marcada por confluências históricas, que, talvez, sejam a principal razão de seu sucesso.
A versão de Haley traz em seu DNA, pelo menos, a influência de outras três canções. O próprio admitiu a “inspiração explícita de um antigo blues de 1922 chamado “My Daddy Rocks Me (With One Steady Roll)”, de Trixie Smith. Outra fonte, dessa vez não assumida, seria “Movie It On Over”, de Hank Willians, de 1947. A terceira influência direta é o tema instrumental “Syncopated Clock”, de Leroy Anderson (1945), da qual “Rock Around the Clock” seria uma espécie de variação roqueira.
Composta em outubro de 1952, a canção já havia sido oferecida a Bill Haley naquela época, pelo promotor e empresário James Myers. A música, no entanto, não entusiasmou Dave Miller, produtor da Essex Records, então dono do passe de Bill Haley, que preferiu outra canção.
Como se não bastassem tantas confusões, ainda vale dizer que existem outros dois registros com o nome de “Rock Around the Clock” anteriores a gravação de Haley, interpretados por Hal Singer (1950) e por Wally Mercer (1952). A autoria da música também é confusa. Uma das versões reafirma a parceria de Max C. Freedman e James Myers. Segundo o próprio Myers, em entrevistas, ele teria “completado” a canção inicial do Freedman. Outra sugere que Myers apenas assinou a música, na condição de editor, e também agente de Bill Haley, como era comum na época.
Até onde se sabe, a expressão “rock’n’roll” é creditada ao Dj Allan Freed. Mas é somente até onde se sabe...

Fonte: Revista Super Interessante especial história do rock

A sociedade midiatizada por uma outra comunicação


Não é possível habitar no mundo sem nenhum tipo de ancoragem territorial, de inserção no local, já que é no lugar, no território, que se desenrola a corporeidade da vida cotidiana e a temporalidade – a história – da ação coletiva, base da heterogeneidade humana e da reciprocidade, características fundamentais da comunicação humana, pois, mesmo atravessado pelas redes do global, o lugar segue feito do tecido das proximidades e das solidariedades. Pois o sentido do local não é unívoco.
A mundialização cultural não opera a partir de fora sobre esferas dotadas de autonomia, como seriam o nacional e o local. O processo de mundialização é um fenômeno social total que para existir deve localizar-se, enraizar-se nas práticas cotidianas dos homens. Não se pode, portanto, confundir mundialização com padronização dos diferentes âmbitos da vida, que foi o que a revolução industrial produziu.
O que está em jogo é uma profunda mudança no sentido da diversidade. O processo de globalização que vivemos, no entanto, é ao mesmo tempo um movimento de potencialização da diferença e de exposição constante de cada cultura às outras, de minha identidade àquela outra. Isso implica um permanente exercício de reconhecimento daquilo que constitui a diferença dos outros como enriquecimento potencial da nossa cultura, e uma exigência de respeito àquilo que, no outro, em sua diferença, há de intransferível, não transigível e inclusive incomunicável.
Distintos modos de ser passam a concentrar-se e a conviver no mesmo lugar, convertidos em síntese do mundo. O que os processos e práticas da comunicação põem em jogo não são unicamente os deslocamentos do capital e as inovações tecnológicas, mas sim profundas transformações na cultura cotidiana das maiorias: nos modos de se estar junto e tecer laços sociais, nas identidades que plasmam tais mudanças e nos discursos que socialmente os expressam e legitimam.
A comunicação é percebida como o cenário cotidiano do reconhecimento social da constituição e expressão dos imaginários a partir dos quais as pessoas representam aquilo que temem ou que têm direito de esperar, seus medos e suas esperanças. O que significa que nele não se reproduz apenas à ideologia, mas recriam-se as narrativas nas quais se entrelaçam o imaginário mercantil com a memória coletiva.
Os novos saberes remetem a novas figuras de razão que interpelam desde a tecnicidade ao processo da informação e a sua matéria-prima de abstrações e símbolos. Ao trabalhar interativamente com sons, imagens e textos escritos, o hipertexto hibridiza a densidade simbólica com a abstração numérica, fazendo com que se reencontrem duas, até agora “opostas”, partes do cérebro.
Até pouco tempo, falar de identidade era falar de raízes, isto é, de costumes e território, de tempo longo e de memória simbolicamente densa. Disso e somente disso estava feita a identidade. Mas falar de identidade implica falar de migrações e mobilidades, de redes e de fluxos, de instantaneidade e fluidez através da esplendida imagem das moving roots, raízes móveis, ou melhor, raízes em movimento.
Na questão de memória e reconhecimento, a identidade não é, pois, o que é atribuído a alguém pelo fato de estar aglutinado num grupo mas, sim, a expressão daquilo que dá sentido e valor à vida do indivíduo. Pois essa hegemonia imagética se acha associada ao fato de que hoje o “reconhecimento recíproco” desenvolve-se especialmente no direito a ser visto e ouvido, que equivale ao de existir e contar socialmente tanto no terreno individual quanto coletivo das maiorias quanto das minorias.
De um lado, as mídias de massa se transformam em “máquinas de produzir o presente”, dedicadas a fabricar o esquecimento em conjunto com o mercado, ao planificar a acelerada obsolescência dos objetos como condição de funcionamento do próprio sistema de produção. Ainda que moldados pelo mercado, esse modelo existe e deve ser levado a sério como sintoma de um profundo mal-estar cultural, em que se expressa a ansiosa indigência, que sentimos, de tempos mais longos e da materialidade de nossos corpos reclamando menos espaço e mais lugar.

Cinema Delinqüente


Revoltando-se contra qualquer coisa, a ressaca do pós-guerra trouxe embutida a necessidade de contestar antigos valores. A perda da inocência e a conseqüente desconfiança nos mais velhos ampliaram o abismo entre gerações. Nada mais perfeito do que o frenético, indecente, imoral e excitante rock’n’roll para selar esse conflito. O cinema não demorou para perceber o potencial desse novo filão e a indústria de Hollywood tratou de estampar nas telas o inconformismo.
O drama estudantil Sementes da Violência (Blackboard Jungle) estipulou o marco zero do rock’n’roll nas telas ao exibir “Rock Around the Clock”. O filme captava o clima tenso entre os “rebeldes sem causa” e as instituições conservadoras. A cena do delinqüente que quebra uma coleção de discos de jazz não deixa de ter um forte simbolismo.
Atento a todo o alvoroço provocado pelo novo ritmo, o veterano produtor Sam Katzman decidiu investir no primeiro filme sobre a febre do rock’n”roll. Em março de 1956, Ao Balanço das Horas (Rock Around the Clock) levava o verdadeiro rock às telas, contando a história (um pouco ingênua, deveras fictícia) da ascensão e descoberta de Bill Haley e seus cometas. No filme, o rock’n’roll é tratado como uma “onda”, à qual todo artista que quer fazer sucesso deve aderir o quanto antes. Mais ou menos como aconteceu com Haley, um cantor caipira de meia-idade, alçado da noite para o dia ao posto de “ídolo da juventude”.
Claro que detalhes como esse pouco importavam aos produtores; os filmes de rock não defendiam ideais ou estilos de vida. O objetivo era faturar com a nova mania. Eram garotos entre os 13 e 25 anos que lotavam os drive-ins, então nada mais lucrativo do que fazer filmes para esse público rejuvenescido.
Foi o cinema que cuidou de transformar o rock numa manifestação sociológica perene. O espírito inquieto do novo ritmo se manifestava por meio da arruaça promovida durante as sessões. Assim, os filmes ajudaram a definir o famoso jargão “o rock não pode parar”.


Fonte: Revista Super Interessante espcial história do rock

O jardim do solar

Aquele verso de “Panis et Circensis” (“mandei plantar/folhas de sonho no jardim do Solar”) diz respeito ao Solar da Fossa, que era um grande cortiço transformado em hotel, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Era um lugar barato e todo mundo da bossa nova, da jovem guarda e da tropicália conviveu ali. E os malucos realmente plantavam maconha lá (“folhas de sonho”). Mas a maluquice é muito relativa, as aparências enganam. Havia muito mais gente da MPB usando drogas do que os roqueiros. O iê-iê-iê era careta, até.
Publicamente, a convivência era ruim, mas na intimidade era um circo. Existiam vidas em comum, freqüentavam-se os mesmos restaurantes para bater papo. O Cave, na Rua Eduardo Prado, em São Paulo, por exemplo: todos apareciam às 3 da manhã para comer picadinho. E escutava-se um rockinho para dançar! Esse fosso musical foi alimentado por jornalistas e ideólogos rançosos, era uma guerra criada artificialmente. Os festivais, claro, se beneficiavam do problema. A Record tinha os programas Jovem Guarda e o Fino da Bossa, que preferia colocar como concorrentes, porque imaginava que assim teria maior repercussão. Ambos tinham audiência, mas as pessoas assistiam porque o barato da época era a música.
É claro que aconteciam atritos. Numa noite, Geraldo Vandré discutiu com Caetano e Gal, afirmando que “Baby” era uma merda e que eles tinham de apoiar a canção dele no festival, porque ela sim faria a revolução. Houve também a famosa passeata contra a guitarra elétrica, em 1967, insuflada pela Record. É gozado porque na linha de frente estavam Elis Regina e Gilberto Gil de braços dados. E ele já estava preparando “Domingo no Parque”...
Era impressionante! O Gil ouvia Sgt. Pepper o dia inteiro. Só depois se percebeu o que ele estava tentando captar. Quando aconteceu a tropicália, ele e o Caetano já tinham o aval do público. Isso tudo acontecia em São Paulo. No Rio de Janeiro, “Travessia” era o grande sucesso. Não havia uma definição clara entre o que o público e os artistas queriam, daí esse abismo.
O pior mesmo aconteceu nas gravadoras. Havia o elenco “comercial” e o “artístico”. O primeiro grupo bancava os discos do segundo. Viravam a cara para a jovem guarda e era ela que financiava todo mundo! Os Golden Boys e o Trio Ternura fizeram backing para vários artistas, mas ninguém queria parceria com eles porque eram do iê-iê-iê; o César Camargo Mariano tocava no Som Três acompanhando o Wilson Simonal, que era desprezado por fazer pilantragem...
As barreiras se romperam com o tropicalismo, foi algo libertador. Em 1968, todos eram tropicalistas - até a Beth Carvalho apareceu tocando theremin! Não se tira o mérito de Gil e Caetano, mas tudo aconteceu porque o Rogério Duprat indicou Mutantes e Beat Boys para acompanhá-los. E não podemos esquecer que o Ronnie Von já tinha dois discos rigorosamente psicodélicos que são um primor. São seminais, foram seus Sgt. Pepper. O problema no Brasil é o excesso de ego. Todos querem ser os grandes descobridores e não “liberam” as referências. Isso deforma a nossa história.


Fonte: Revista Super Interessante espcial história do rock 

Sem palavras


Na virada dos anos 60, o rock brasileiro ainda se esforçava bravamente para estabelecer seus primeiros ídolos populares quando o estilo foi varrido por uma nova onda – a das “guitarras que cantam”.
Era a insuspeita moda dos grupos de rock instrumental, propagada pelos ingleses do Shadows, os americanos do Ventures e reafirmado por gente como The Tornados ou Duane Eddy, todos substituindo a linha melódica dos vocais por rascantes guitarras elétricas. Assim, impulsionaram dezenas de grupos brasileiros a arriscar manobras sonoras que exigiam grande perícia. Rapidamente, o rock instrumental se fundiu à nascente surf music e ao twist, criando um sólido terreno para música jovem que seria praticada nos anos 60.
Na verdade, os grupos instrumentais surgiam como simplificação juvenil dos chamados “conjuntos melódicos” – big bands de salões de dança dos anos 50. O gênero caiu como uma luva diante da dificuldade em adaptar – ou mesmo compreender – as letras em inglês do novo ritmo e aproveitou-se de um cenário ainda precário em relação a ídolos jovens. Um dos conjuntos mais expressivos, responsável por dar credibilidade ao rock nacional em seus primeiros anos, foi o The Jordans, que apareceu na TV pela primeira vez em 1958, no programa de Tony e Celly Campello. Na estréia em disco, A Vida Sorri Assim!..., de 1961, além de versões convincentes, o grupo liderado pelos guitarristas Sinval e Alladin conseguiu permanecer diversas semanas nas paradas com “Blue Star” (Victor Young).
Outro nome importante na arte do acompanhamento, o The Clevers foi um caso raro de contribuição autoral do rock instrumental brasileiro, com “Clevers Surf” – isso antes de se tornar Os Incríveis, em 1965, e alcançar grande sucesso com a versão de “The Millionaire”. Outros nomes que fizeram parte da turma da praia foram The Rebels, Top Sounds, Bolão & Seus Rockettes, The Sparks, Os Santos, The Avalon, entre outros.
A dificuldade em emular o som das bandas estrangeiras com a tecnologia inferior das guitarras nacionais, só não foi maior do que competir com os novos ídolos da jovem guarda em meados da década de 60. Para uns, a saída foi tornar-se definitivamente uma banda de apoio.


Fonte: Revista Super Interessante espcial história do rock 

O rei da pilantragem


“Namoro garotas de 16 anos desde que tinha 18. Não é agora que vou parar”


Mais um momento crucial da história dá música popular brasileira, foi um instante transformador dos rumos da cultura deste país enjoado. Carlos Imperial chegou para o jovem Roberto Carlos e deu o toque: era melhor parar com aquela história de imitar João Gilberto, violãozinho, mãozinha de aranha no acorde difícil, voz baixa. O negócio era cair no iê-iê-iê. Daí pra frente tudo foi diferente, e um país inteiro, bicho, aprendeu a ser gente.
Imperial enganjou-se na difusão pioneira do rock’n’roll em Copacabana, ainda na segunda metade dos anos 50. Priscas eras em que o sujeito que quisesse profanar seus quadris com aquele ritmo tinha de confiar em Cauby Peixoto.
Em 1958, arrastava Roberto, Erasmo, Tim Maia e Renato & Seus Blue Caps para tocar em nome de um certo “Clube do Rock”, o mesmo do programa que Imperial sublocava de Jaci Campos na TV Tupi.
Ele também inventou Erasmo Carlos, seu assessor na Revista do Rádio, onde pilantramente plantava notas do tipo “Erasmo Carlos, o Brasil ainda vai ouvir falar muito desse rapaz”. E por falar em pilantragem... Imperial queria tirar o samba dos comunistinhas universitários e bolou uma coisa na linha “samba jovem”. Reza outra lenda de duvidosas fontes (o próprio Imperial) que Simonal ouviu a música-emblema do “movimento”, “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, e saiu cantando antes. E aconteceu ainda que Imperial foi parar na boca da Brigitte Bardot, que gravou “Nem Vem que Não Tem” como “Tu Veux ou Tu Veux Pás”. Quer glória maior? Pois tem. Imperial lançou Elis Regina (ainda imitando Celly Campello) e Clara Nunes.
Outros louros em sua biografia: as pornochanchadas que produziu, os programas de TV que apresentou, as lebres que abateu... Ele foi um pioneiro do uso da mídia e da polêmica na divulgação de seus “produtos”.
Entrou e saiu várias vezes do Partido Comunista, antes de ser, em 1982, o vereador mais votado do Rio de Janeiro. Em 1985, foi, sem sucesso, candidato a prefeito da cidade. Mas ninguém tira dele a glória de esculhambar o AI-5 com sua prisão, motivada por um cartão de Natal de “Feliz 69”, enviado a autoridades e ilustrado com uma foto sua sentado na privada. Em maio de 1992, Imperial podia ser visto posando de sunguinha e debaixo dos lençóis com sua nova namorada, Jana, uma amazonense de 14 anos. Em novembro do mesmo ano, morreu, aos 56 anos.

Em Simonal


Enquanto o povo do rock e da MPB trocavam farpas publicamente, o carioca Wilson Simonal abria as portas de seu show dominical da TV Record para que Os Vips cantassem jazz acompanhados do Som Três ou para que Nara Leão interpretasse “Eleanor Rigby”, dos Beatles. Cantor de voz privilegiada, Simonal representou a terceira via para o pop brasileiro no meio dos anos 60.
Filho de uma cozinheira e de um eletricista, negro e pobre, Simonal cresceu nos subúrbios cariocas e só se revelou cantor quando animava festas nos tempos de serviço militar. Para manter-se na zona norte do Rio de Janeiro e tentar a carreira de crooner, trabalhou em troca de comida e alojamento como secretário de Carlos Imperial, por meio de quem conheceu toda a “Turma da Matoso”, o pessoal do rock brasileiro e da futura jovem guarda.
Ao mesmo tempo que Imperial arranjou um contrato para Roberto Carlos na Polydor (cantando bossa nova), convenceu a Odeon a lançar Simonal cantando rock e chachachá. Mas ele só encontrou sua trilha no Beco das Garrafas fazendo bossa nova “com ginga do morro” – até hoje, os mais radicais consideram essa fase inicial, que misturava bossa com jazz de big bands, como a mais criativa de Simonal.
Em maio de 1966, Imperial reapareceu em sua vida, propondo uma canção na trilha do filme Na onda do Iê-Iê-Iê, de Renato Aragão, com uma canção composta pelo próprio empresário chamada “Mamãe Passou Açúcar em Mim”. Simonal cantou acompanhado pelos Fevers e aquele foi seu maior sucesso até então. Sabiamente, a Record o convidou para assumir seu próprio programa, Show em Simonal, já de olho em sua capacidade de harmonizar as diferenças entre roqueiros e emepebistas.
Ao mesmo tempo, o cantor reformulou seu som ao lado de um grupo, o Som Três (o pianista César Marinho, o baixista Sabá e o baterista Toninho Pinheiro), agregando ao jazz e à bossa original, grandes doses do iê-iê-iê, soul music, Sergio Mendes e boogaloo ( o jazz latinizado de Mongo Santamaría e Cal Tjader). Era a consolidação do “samba-jovem”, que acabou ganhando o rótulo de “pilantragem”.
Simonal foi a mais perfeita fusão entre influências pop e as harmonias intrincadas da música brasileira. Seu exemplo foi tão importante para a gênese do tropicalismo que Caetano Veloso batizou a canção que inscreveu no Festival de 1997 com um dos bordões que Simonal usava em seu programa:”Alegria, Alegria”.

10 de agosto de 2010

O Último Bandeirante


Não existia quem não se admirasse do que estava sendo realizado no Planalto e as monumentais construções, levada a efeito num ritmo até então desconhecido no país, eram acompanhadas, com entusiasmos, pela nação inteira. Contudo, são desconcertantes os desígnios da providência. Em face de tão encorajados acontecimentos, que assinalavam o êxito da administração, eis que, logo no inicio de 1959, um fato trágico enluta a nação. Data da tragédia: 15 de janeiro.
Haviam duas frente de trabalho: a do norte, comandada por Rui de Almeida e a do sul, comandada por ele, o Bernardo Sayão. Uma avançava de encontro com a outra para realizar a tão sonhada ligação com data marcada para 31 de janeiro de 1959. Trinta quilômetros apenas separavam as duas frentes.
Uma semana antes Sayão enviara um bilhete ao acampamento de Açailândia, dizendo: “Se não mandarem mantimentos, estamos com os dias contados”. Um avião Cessna sobrevoara a frente de trabalho, e dele caíram os pára-quedas com os mantimentos pedidos. “Estamos com os dias contados” – era assim que se jogava a vida na Belém-Brasília. Bastava que uma remessa atrasasse, para que os trabalhadores ficassem ameaçados de morte.
Ameaçado de morrer de fome, Bernardo Sayão pensava, com determinação, na construção do campo de pouso. Era o objetivo imediato, porque o presidente da República deveria ali descer no dia 31 de janeiro. Sayão estivera acampado no Estreito. Era comum já estar dormindo às 8 horas da noite. Naquele dia, porém – véspera em que ocorreria sua morte – já eram onze e meia, e ele ainda estava acordado. O prazo era, de fato, curto e daí o nervosismo. No dia seguinte seguiu para o local da ligação, onde estava em curso intenso desmatamento. Era ensurdecedor o barulho das árvores caindo. A barraca do acampamento estava à beira de um córrego, não muito perto do serviço.
Enquanto as árvores eram derrubadas, ele, Gilberto Salgueiro e Jorge Dias discutiam debaixo da barraca. Gilberto saiu, por um momento, para conferir uma informação. Nesse momento, ouviu-se um estrondo. “A árvore! A árvore!” – gritavam os trabalhadores. Jorge Dias ficara machucado no braço. A barraca fora amassada pelo peso do enorme galho desprendido. E Sayão? Ninguém viu o chefe, o comandante.
De súbito, sua figura hercúlea destacara-se entre a galharia deitada. Estava de pé, mas mortalmente ferido: uma enorme fratura exposta na perna esquerda; e o braço do mesmo lado esmigalhado. Tinha, também, o crânio fraturado. Mas continuava de pé, esvaindo-se em sangue. No local não existia médico nem qualquer tipo de socorro. Que fazer? Sayão caminhou até o tronco derrubado e, sentando-se nele, pediu que lhe descalçassem a bota do pé esquerdo. Quando conseguiram tirar lhe a bota, ele dava a impressão de que iria ter um colapso. Pediu, então, que o deitassem. Sua camisa estava empapada de sangue. Estendido na rede, deixou-se ficar quieto, os olhos semicerrados, respirando profundamente. Havia entrado em coma.
Os trabalhadores entreolharam-se, sem saber o que fazer. Às 3 horas da tarde, porém, ouviu-se o ruído do motor de um avião. Sobrevoou o local, atirando víveres. Eram os víveres que ele havia reclamado, através do seu último bilhete. Os que se encontravam em terra gritaram, tentando fazer com que o piloto compreendesse o que havia ocorrido. Por fim, alguém teve a idéia de cruzar dois paus e cobri-los com as camisas dos trabalhadores: o piloto achou estranho e reduziu a altura para observar. Viu então, um homem deitado, com a roupa vermelha de sangue. Em seguida, o avião partiu, sem que os que se encontravam em terra pudessem saber se o piloto havia compreendido aquele sinal. Mais tarde, veio um helicóptero. Com grande sacrifício, puseram Sayão no interior do aparelho e um dos auxiliares – Kelê – foi junto. Seguiram, então, para o povoado mais próximo – Açailândia. Eram 7 horas da noite. Lá em baixo, a floresta se fechara, como um só imenso lençol preto. Pouco depois, o gigante não resistiu aos ferimentos. Expirou sem um gemido. Apenas respirou mais fundo... E ficara quieto.

Biografia

Com a energia, o coleguismo, entusiasmo e a capacidade realizadora enfeixada em 1,84 m de altura e tórax de largura respeitável, Sayão mais parecia uma estátua de deus da mitologia grega, que teso como um guarda de gurita, era incapaz de se curvar a um subalterno nem si quer para ser realizado um curativo.
Bernardo Sayão Carvalho de Araújo nasceu no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1901. Em 1929, formou-se em Agronomia pela escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária de Minas Gerais.
Casou-se duas vezes. Primeiro com Lygia Pimentel, em 1925, com a qual teve duas filhas. Lygia morreu em 1935, e Sayão passou cinco anos viúvo até conhecer, em Niterói, Hilda Fontenelle Cabral. Com ela, ele teve mais quatro filhos.
Dentre os feitos, contribuiu intensamente com o plano de “Marcha para o Oeste”, e foi vice-governador de Goiás obtendo mais votos que o governador. O nome “Bernardo Sayão” faz mais jus a um grande homem do que apenas ao trecho de uma estrada da Belém-Brasília. E a partir de agora, é bom que todos saibam disso, e da nossa própria história.

Godofredo Viana: O Crisóstomo maranhense


Até 1924 Imperatriz era apenas uma vila. Embora já contasse mais de 70 anos de fundada, ainda não havia conquistado a mudança definitiva de status, como reconhecimento de sua condição de localidade detentora de alguma estrutura urbana, política, econômica e social, considerados os padrões da época nesta parte do Estado.
Foi naquele ano, em 22 de abril – um dia que lembra a data histórica da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500 – que Godofredo Viana firmou o ato oficial que mudava a categoria de Imperatriz, de vila a cidade.
Godofredo Viana era o presidente do Estado do Maranhão. (Em 1924 chamava-se presidente o cargo que hoje corresponde a governador). Nessa condição ele assinou a Lei n° 1.179, de 22 de abril de 1924. Imperatriz chegava, assim, ao último estágio que uma localidade pode atingir: a categoria de cidade.
86 anos depois, quando Imperatriz completa 158 anos de existência, Godofredo Viana mal é lembrado, exceto pelo fato de ser o nome de uma das principais ruas da cidade. Mas, quem foi Godofredo Viana?
O maranhense Godofredo Mendes Viana foi advogado, juiz, professor de Direito, político, jornalista e escritor. No campo político, foi senador (duas vezes), governador (presidente de Estado), deputado constituinte, deputado federal. Jornalista e escritor, teve vários trabalhos publicados, de livros de Direito a obras literárias (romances, novelas, poemas).
Godofredo Viana nasceu no dia 14 de junho de 1878, e Codó (outras fontes dão-no como nascido em São Luís). Era filho de dona Joaquina de Pinho Lima Mendes Viana e de Torquato Mendes Viana, magistrado e desembargador.
Estudou em São Luís, no colégio Liceu Maranhense, onde fez os cursos primário e secundário (hoje, Ensino Fundamental e Ensino Médio). O curso superior foi realizado no Estado da Bahia, na Faculdade Livre de Direito, onde se formou em dezembro de 1903, aos 25 anos. Seu brilhantismo no curso levou seus colegas a elegerem-no, por aclamação, orador da turma. O discurso de formatura, considerado “notável”, foi publicado pela imprensa do Maranhão e do Rio de Janeiro, que era, então, a capital do Brasil. Suas qualidades de orador o tornariam admirado, a ponto de ser chamado de “boca de ouro” ou “o novo CRISÓSTOMO maranhense”, uma referência a Díon Crisóstomo, orador e filósofo grego.
Em 1905, jovem ainda (27 anos) é nomeado promotor público na cidade de Alcântara (MA). Nessa cidade também seria juiz federal substituto na capital, São Luís. Exerceu essas duas funções até 1918. Em 1921, aos 43 anos, foi eleito senador pelo Maranhão.
No ano seguinte, 1922, Godofredo Viana é eleito presidente do Maranhão. Substituiu Urbano Santos, que falecera. Fica até 1926, quando assume novo presidente do Maranhão, e volta para o Senado, onde permanece até 1929. Em maio de 1933, elege-se deputado pelo Maranhão e assume, em novembro do mesmo ano, na Assembléia Nacional Constituinte, onde, em junho de 1934, é nomeado membro da Comissão de Redação da Constituinte. Já no mesmo mês apresenta os critérios para a elaboração do texto constitucional. A Constituição é promulgada no mês seguinte, em 16 de julho de 1934. E, no dia seguinte, os constituintes elegem Getúlio Vargas presidente do Brasil.
Godofredo Viana volta a se eleger deputado pelo Maranhão, em outubro de 1934. O mandato é interrompido em 1937 pelo Estado Novo, que dissolvera o Poder Legislativo em todo o País (deputados federais, estaduais e vereadores). Godofredo Viana volta às suas atividades profissionais, agora na Justiça Federal do Rio de Janeiro, que era a capital federal. Faleceu no dia 12 de agosto de 1944, no Rio de Janeiro. Antes disso, exerceu outros cargos e atividades no Maranhão e no Rio de Janeiro. Foi eleito membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a cadeira número 15.
Casado com Joviliana Mendes Viana, teve dois filhos, que também se distinguiram na vida pública e profissional: Um deles, Evandro Mendes Viana, foi senador pelo Maranhão; e o outro filho, Antônio Mendes Viana, foi diplomata.

9 de agosto de 2010

Full Metal







Eu sou um alquimista que nunca fez alquimia vivendo de especulações: o próprio teatro do absurdo em pessoa quando as coisas absurdas há muito já me parecem normais. Oh quão grande e vão é esse lixão de pensamentos bestas!


Não sei se as minhas queixas são realmente os motivos para minha vida estar do modo que não quero, mas como eles me servem de desculpa, pode ser que acabem se tornando. Meu medo é nunca achar um corpo, um braço e uma perna, e passar toda a eternidade vivendo em uma alma deslocada como todo bom Vate louco o é!


Meus irmão são todos almas sem corpos vagueando por entre o materialismo das veias que liberam xilema e floema, enquanto nada fode, numa armadura de aço, o selo de sangue é a alma.


Respeitando o principio de conservação das massas e fazendo trocas equivalentes que não me levam a nada, o nada pouco a pouco, começa a me parecer um lar bem agradável, enquanto eu acabo de me convencer que o querer é uma dádiva amaldiçoada.


Não ouvir a voz de ninguém, nunca mais ver ninguém, não desejar mais nada, lavar roupas e não vê-las secarem. Como todo bom medroso mágico faz, eu brinco de malabares, mas quando o grande truque jaz, nada de tirar o maldita coelho da cartola.


Totalmente inerte ao espetáculo que se sucede no céu, eu não faço nada! Vendo a vida se esvair, a única coisa que faço é continuar escrevendo cartas à medida que vou me distanciando de tudo o que quero porque elas sempre trazem consigo um veneno para meu coração.


Um dos meus temores é sempre ficar andando nessa linha que sempre insiste em fazer círculos em volta do meu próprio eixo. Adestrado pelo meio social igual a um elefante subordinado a cadeira, não vejo alternativa melhor do que continuar me resguardando no meu velho lugar, onde quimeras não me atingem e os omunculus têm almas... Enquanto isso, jaz o qüinquagésimo primeiro episódio.


Ricardo Magno

Bilhar


A mecânica do bilhar é igual à mecânica da vida: nos movimentos das bolas se faz o jogo e na mesma jogada que dá errado pra um, pode dá certo para o outro. E isto se chama jogar em cima dos erros alheios! 

A matemática do bilhar é análoga à matemática da vida: diante de uma estatística incomensurável de probabilidades, pode ser que a sua bola caia. A lógica do bilhar é semelhante à lógica da vida: às vezes um jogo quase ganho ainda pode ser perdido! Bola na boca da caçapa nem sempre é bola garantida!


Uma mesa de bilhar é filosófica, porque se ela não pode filosofar, ela nos faz sermos filósofos. Em sua volta, tudo é pura filosofia! Oriundo da mesma regra física que faz a bola não andar é a que a põe em movimento, enquanto o tapete verde mais parece um campo de futebol, todas as bolas rolam à medida que se desenrola suas vidas; porque, mais cedo ou mais tarde, o destino inevitável é o buraco.


É quando a imponente, prepotente e aparente invulnerável bola branca começa a girar que o mundo gira com ela através de uma força centrípeta, centrifuga que somente deus há de explicar. É quando as mãos do jogador as violenta com o taco, que as perspectivas começam a nos escravizar. É que, com a ajuda de Fernando Pessoa (que deus salve este grande homem que há muito eu tenho admirado!) pude perceber que é o movimento que se move no movimento da bola, pois a bola branca é apenas uma bola. Então, escravo de minhas perspectivas, fico sempre esperando que o movimento se desenrole sem nunca tê-lo vivenciado verdadeiramente, pois David Hume, neste caso, foi o primeiro a descobrir a grande verdade


As estratégias do bilhar são idênticas às estratégias da vida: uns só jogam perseguindo as bolas de números mais altos enquanto outros preferem ficar em surdina somente escondendo o bolão. O anti-jogo, aqui como em qualquer outro lugar, também é uma regra que nasceu pra ser violada, e não é nem preciso meter o dedo nos olhos pra fazer o seu rival cegar. Uma bela brincadeira sem graça enquanto horas passam jogando sinuca algumas pessoas esquecem que ainda estão vivas!


A mesa de sinuca só não é perfeita porque nasceu quadrada. Bilhar e filosofia, bilhar é poesia. E nisto, algum valor se acha!


Ricardo Magno

Bacamarte celestial

“Na ponta da tua caneta tem...” Esta é a frase mais difícil da minha vida. Talvez por ela não ser minha, talvez por ela ser a meu respeito, talvez por ela se tratar de uma bela homenagem.


O que irá vencer no final? A ambição ou a comodidade? Enquanto cruzar meus braços e não fizer nada, vence a comodidade. Isso é o que diz a lei do menor esforço.


No universo performático dos códigos binários, ultrapassando as fronteiras maleáveis da cibercomunicação, só preciso de um maldito hipertexto para expor meu coração.


Acreditar que o impossível é viável, às vezes é a melhor forma de se sobrepor ao tédio à medida que o palhaço não conhece a si mesmo por estar sempre fazendo graça.


Tanto mar para poucos barcos, tanta ventania para pouca chuva enquanto o pornô se adequa bem a esse novo e velho ordinário tempo.
A rigidez do ferro está me matando, pois diante da incapacidade de ter aumenta o querer. Ter o teu trono, teus castelos e teus criados para confirmar que um rei nunca perde a majestade.


... No entanto, dentro de minha caneta, levo a alma. E através da ponta, exprimo e espremo tudo o que sinto, chegando até a ressuscitar partes mortas.



Ricardo Magno

3 de agosto de 2010

A meu modo e a marca da vileza dos otários

Quando comecei a ler literatura, filosofia, psicologia e as demais ciências e artes afins, nada me pareceu mais intrigante do que a identificação de pensamentos, idéias e conflitos, ao longo das épocas, que também habitavam dentro de mim.

Desde a pré-história aos pré-socráticos e pousando nos filósofos da atualidade ao encadeamento das grandes revoluções históricas, em cada data e momento que me dediquei a estudar, analisar acabei identificando sensações e emoções originadas em tais épocas que até agora ainda existem em mim, me levando a comprovar a experiência de vida autêntica do meu querido Walter Benjamin.

Do conflito barroco entre o amor e o sexo, brancos e negros, o sagrado e o profano. O sentimentalismo exacerbado e idealizado da impossível realidade das paixões ultra-românticos dos jovens homens sofredores de outros tempos, aos guetos e redutos habitados pelos seres compostos pela carniça de um naturalismo qualquer. Em todas as tendências pude me assemelhar com um pensamento da época.

Existindo em um momento histórico onde as raízes não têm lugar e a vivencia do choque eletrocuta a vida de todos; as moving roots imperam em uma humanidade nada humana que põe em voga o estilo de vida cosmopolita ao jurar de pés juntos que o homem foi à lua e, no entanto, mal consegue imergir no aprofundamento da própria alma; fazendo o apelo se tornar mais forte devido os avanços tecnológicos dos meios de transporte e comunicação.

Ao tentar estabelecer “tópicos” (os marcadores) e reorganizar minha “obra” de uma maneira que fosse ou aparentasse ser mais lógica, logo pude perceber que só havia criado endereços para casas em que ninguém habitava. Daí iniciou-se o meu conflito.

Mas se for verdade que deus não dá um problema sem solução, foi então que pude perceber que a crise que me assolava fazia parte da nova ordem do mundo das idéias em meio a todo esse “novo helenismo”. Em meio à “repetição” contemporânea dessa conjuntura holística pós-moderna, fica difícil um “escritor” se classificar com uma única tendência de escola literária. Pois hoje, seria descabido tentar organizar nosso passado dentro dos livros desta forma.

As tendências e inclinações sempre irão existir, mas nada que se aproxime de uma organização bem estabelecida e sólida quanto tão linear ela pareça ser em outras épocas como em nossas enciclopédias de história.

Por isso, ainda na busca de uma “certa coerência incerta” que meus textos devem provocar, cada marcador, por assim dizer, não é um tema bem definido e confiável do que possa vir a ser cada conglomerado de frases contidas neles. Eles são apenas endereços para um carteiro cego.
 
Vez ou outra, não estranhem se um dos “manuscritos” ultrapassarem um dos rótulos de suas “fronteiras maleáveis”, e, acabarem sendo encontrados no inimaginável, inclassificável. Pois a mais pura verdade é que ambos, em diferentes classes, mantêm-se constantemente interligados contrapondo-se ao método cartesiano de análise e fazendo jus à Teoria do Pensamento Complexo de abraçar o todo como Edgar Morin sempre o faz.

Correlação ao meu processo de criação, os parnasianos estavam errados com o que Adorno há muito já havia classificado como A Primazia do Todo em Relação ao Indivíduo. Mais me assemelhando aos simbolistas, opto, inconscientemente, portanto, contra a minha vontade, em deixar ao menos a priori, de lado essa pífia e tão vã busca pelo guia de fórmulas do sucesso pré-fabricado e, num ato artístico e literário quase suicida, fazer minha “obra” se igualar ao processo de criação simbolista, dadaísta e surrealista para somente depois ir buscar saber o que as pessoas acham.

E esta foi à forma que achei, a fórmula que criei para tentar, ou, ao menos não me equiparar com a marca da vileza dos otários que predomina por toda grande parte da sociedade.



Ricardo Magno