12 de novembro de 2012

Análise Estética da obra de Ticiano: Amor sagrado e amor profano (1541)








Pintura da Itália Renascentista, Amor sagrado e amor profano (Sacred and Profaned Love), no nível da descrição pré-iconográfica, observa-se duas mulheres (uma nua, outra vestida), uma criança e um túmulo, que é usado como fonte, todos situados em uma mesma paisagem.

A considerar a iconografia, para qualquer um que esteja familiarizado com a arte renascentista é, por assim dizer, brincadeira de criança identificar a criança como o Cupido, mesmo que decodificar o que expressa o resto do quadro não seja tão fácil. Uma passagem no diálogo de Platão o Symposium fornece uma pista essencial para a identidade das duas mulheres; a fala de Pausanias sobre Afrodite, a “celestial” e a “vulgar”, interpretadas pelo humanista Marsílio Ficino como símbolos do espírito e da matéria, amor intelectual e desejo físico.

No nível mais profundo, iconológico, a pintura constitui-se numa excelente ilustração do entusiasmo por Platão e seus discípulos no chamado movimento “neoplatônico” da Renascença italiana. Além disso, a pintura oferece substancial evidência para a importância daquele movimento no meio ambiente de Ticiano, no norte da Itália no inicio do século 16.

A recepção à pintura também nos passa alguma informação sobre a história das atitudes em relação ao corpo nu, notadamente a mudança de uma atitude de celebração para uma outra, de suspeita. Na Itália do início do século 16 (como na Grécia na época de Platão) era natural estabelecer uma ligação entre o amor celestial e a mulher nua, porque a nudez era vista numa conotação positiva. No século 19, mudanças nos conceitos sobre nudez especialmente sobre a nudez feminina, tornaram claro aos espectadores, simples senso comum, pode-se dizer, que a Vênus coberta representava o amor sagrado, ao passo que a nudez passou a ser associada ao profano. A freqüências de imagens do corpo nu na Itália renascentista, comparada com sua raridade na Idade Média, oferece outra pista importante a respeito das mudanças na maneira como os corpos eram percebidos naqueles séculos.

Para além das interpretações e focando no método que elas exemplificam, três pontos destacam-se. O primeiro é que, numa tentativa de reconstruir, o que é frequentemente denominado “programa” iconográfico, os estudiosos têm aproximado imagens que os acontecimentos separam, pinturas que foram originalmente realizadas para serem lidas em conjunto, porém, encontram-se atualmente dispersas em museus e galerias em diferentes partes do mundo.

O segundo ponto está relacionado à necessidade dos iconografistas de prestar atenção aos detalhes, não apenas para identificar artistas, mas também para identificar significados culturais. Ciente desse fato e, para explicar seu método, Morelli criou a personagem de uma velha sábia florentina que diz ao herói que os rostos das pessoas nos retratos revelam alguma coisa sobra à história de sua época, “se soubermos ler esses rostos”.

No mesmo sentido, em Amor sagrado e amor profano, ao ter a atenção focalizada nos coelhos ao fundo do quadro, explica estes animais como símbolos de fertilidade, enquanto analisar os relevos que decoram a fonte, incluído um homem sendo açoitado e um cavalo sem rédeas, pode ser interpretado como referências a “ritos de iniciação amorosa”.

E das conversas que os pintores da Renascença italiana frequentemente tinham com humanistas não seria implausível sugerir que uma variedade de alusões à antiga cultura Grega e romana pudesse ser encontrada em seus trabalhos a partir da formulação de imagens complexas.
    

Pré-Iconografia, Iconografia e Iconologia


O primeiro era a descrição pré-iconográfica, voltada para o “significado natural”, consistindo na identificação de objetos (tais como árvores, prédios, animais e pessoas) e eventos (refeições, batalhas, procissões, etc.). O segundo analisava a iconografia no sentido estrito, voltado para o “significado convencional” (reconhecer uma ceia como a Última Ceia ou uma Batalha como a de Waterloo). No terceiro e principal nível se encontra a interpretação iconológica, distinguindo-se da iconografia pelo fato de se voltar para o “significado intrínseco”. Em outras palavras, “os princípios subjacentes que revelam a atitude básica de uma nação, um período, uma classe, uma crença religiosa ou filosófica.”. É nesse nível que as imagens oferecem evidências úteis, de fato indispensáveis.

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