22 de março de 2012

O Rio da Vida

A voz fedida da experiência tem o coração de um poeta.


Se o certo fosse tão correto não haveria o outro lado. Agora os fantasmas fazem companhia para os cães. A ignorar a territorialidade, um rio deveria ser o ciclo em que se poderia entrar mais de uma vez sem o princípio da identidade. 

Mal se escuta os uivos quando em festa. Uma casa bonita com quintal arejado é feita para sempre estar cheia de amizade. O céu nunca tem cara de uma só estrela quando acompanhados. Cachorro não late com quem é de casa.

Uma gotinha de sangue sobe do pé ao coração em poucos segundos. Em um circulo, mesmo que seja imanente, uma cachoeira não pode revolver suas águas. E se nada nunca é o mesmo, a maturidade é um sinal de envelhecimento.

A física quântica encurta os dias em uma mostra de que o passar dos anos não tem nada a ver com a idade. Cicatrizes e rugas são apenas o vento a balançar cabelos. Envelhecer de verdade é ver e rever a mágica acontecer tantas vezes que se chega até a perder a graça olhar mais de uma vez o mesmo truque. Descobre-se a razão de alguns mistérios quando a vida começa a fazer sentido. A excitação perde o lugar para a hesitação.

Nostalgia é ouvir a mesma música ao longo de toda uma vida. Saudosismo é carregar eternamente uma única canção. Fraqueza é tentar fingir que a alma é simples demais a ponto de poder vir com manual de instrução.

Em um escapismo covarde, reviver o passado é o mesmo que desejar ler um livro cujas palavras foram apagadas. E após conhecer todas as obras de arte, morrer somente com um belíssimo quadro na lembrança.

Emoções e sensações se repetem por detrás de eventos que aparentam ser distintos, mas na verdade é puro caos. Por isso, no guarda-roupa, por um bom tempo, acabamos sendo aquilo que vestimos. Depois é só arrancar a etiqueta na chegada de um novo ciclo.

A vivência sempre traz um mínimo de controle e calma. E isso se chama “familiarizar”. E agora pouco importa as permutações das nuvens do céu. Em orbitais redondos, começa-se a traçar linhas infinitamente retas.

Os jogos já não seduzem mais. E o maior perigo disso tudo é perder as raízes dentro de um balão que flutua sem propósitos e objetivos. Levitar demais é deixar escapar a poeira embaixo do tapete. E somente assim redescobrimos quem somos. Mas nem todos conseguem alcançar o objetivo nesta perigosa façanha.

É questionável o caráter de qualquer pessoa que não tem coragem de apontar o dedo na própria cara! É uma absurda falácia aparentar ser perfeito usando os defeitos dos outros. Pois quando o próprio ato falho falha é um sinal de que ele foi perfeito.

Para ser polida talvez o maior risco da pérola seja ter que retornar as regiões profundas e escuras do oceano, e ali nunca mais ser encontrada.

Se o paralelismo de não pensar também equivale a pensar; o cérebro é o motor dos pensamentos, e o combustível é o álcool. Mas adiante sempre estará um abismo que cavamos por meio da projeção de um futuro que poderia vir a ser o que não fomos.

A morte é para aqueles que não estão preparados. E para se estar pronto não é necessário viver muitos anos. Um recém-nascido pode ser melhor do que um jovem. Com o tempo alguns medos passam, outros aparecem e uns ficam mais fortes. Com o tempo tudo é permitido para aqueles que se dão ao direito de se permitir. Pois os pais sempre estarão nos esperando ao termino de cada dia de aula... Enquanto houver aulas.



Ricardo Magno

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