Se
o ser humano é feito de corpo e alma, somente o corpo ou só a alma, não é mais
o mesmo homem.
Em
três horas da tarde, sob a escaldante crosta terrestre, crianças cheiram a
carne assada. Poeira, asfalto e fofoca não fazem a tríade sagrada. O vento
sopra de besta. Só come muriçoca e areia. E se um automóvel passa muito rápido
logo sobe uma tempestade no deserto.
No
momento em que o sol mais se eleva, da toca do tatu não sai tatu, no buraco do
rato não tem rato e gato não é nem doido de andar em teto de zinco quente a
essa hora. Em cada quadra, línguas e fios se enroscam no espírito dos postes da
invejosa vida alheia.
Se
alguém perguntar as horas, outros irão dizer: “E daí?” Pois o ponteiro grande aponta
para os ricos, o menor não para de lamentar o porquê de ter explodido duas
bombas atômicas. E na interjeição de um gaúcho, “Baaah!” Bode é bar. Via
Embratel, caixas de poliuretano ressecam um astro rei “zincado”. Cimento é
sangue, rejunte é cuspi. Ohhh, nossa vida, nossa casa... Amada!
Na
companhia dos porcos, para quem vive em um chiqueiro, nem a mais bela e cândida
ave de rapina consegue sair imaculada. Não adianta ser forte se na ponta do
nariz o corpo perfeito traz a única deformidade, eles puxam os pontos fracos. Sentinelas
do mal olhado!
Em
uma batida de carros, simbiose de todos os elementos da Tabela Periódica, quem
não tem carta anda de motocicleta. E se para o homem de carne e osso, quem está
vivo está morto, o que vale agora são as peças de açougue metálicas. Crashhh!
Estranhos Prazeres...
Em
relações materiais rudimentares, trocam-se o todo pela parte, o sujeito pelo
objeto inanimado e a vontade de satisfação das necessidades pela dos desejos
supérfluos. Assim todos se fazem dignos seres humanos com línguas de cobras,
lágrimas de areia e um coração de automóvel.
Heitor Monte Cristo
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