12 de novembro de 2012

Três da Tarde







Se o ser humano é feito de corpo e alma, somente o corpo ou só a alma, não é mais o mesmo homem.


Em três horas da tarde, sob a escaldante crosta terrestre, crianças cheiram a carne assada. Poeira, asfalto e fofoca não fazem a tríade sagrada. O vento sopra de besta. Só come muriçoca e areia. E se um automóvel passa muito rápido logo sobe uma tempestade no deserto.

No momento em que o sol mais se eleva, da toca do tatu não sai tatu, no buraco do rato não tem rato e gato não é nem doido de andar em teto de zinco quente a essa hora. Em cada quadra, línguas e fios se enroscam no espírito dos postes da invejosa vida alheia.

Se alguém perguntar as horas, outros irão dizer: “E daí?” Pois o ponteiro grande aponta para os ricos, o menor não para de lamentar o porquê de ter explodido duas bombas atômicas. E na interjeição de um gaúcho, “Baaah!” Bode é bar. Via Embratel, caixas de poliuretano ressecam um astro rei “zincado”. Cimento é sangue, rejunte é cuspi. Ohhh, nossa vida, nossa casa... Amada!

Na companhia dos porcos, para quem vive em um chiqueiro, nem a mais bela e cândida ave de rapina consegue sair imaculada. Não adianta ser forte se na ponta do nariz o corpo perfeito traz a única deformidade, eles puxam os pontos fracos. Sentinelas do mal olhado!

Em uma batida de carros, simbiose de todos os elementos da Tabela Periódica, quem não tem carta anda de motocicleta. E se para o homem de carne e osso, quem está vivo está morto, o que vale agora são as peças de açougue metálicas. Crashhh! Estranhos Prazeres...

Em relações materiais rudimentares, trocam-se o todo pela parte, o sujeito pelo objeto inanimado e a vontade de satisfação das necessidades pela dos desejos supérfluos. Assim todos se fazem dignos seres humanos com línguas de cobras, lágrimas de areia e um coração de automóvel.




Heitor Monte Cristo

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