- Chovia
muito. A cidade estava um inferno d’água. O velho não se importava. Fumava e assobiava
como se nada acontecesse. Em meio a esgotos a céu aberto, ele passeava como
quem dança na chuva. Na central comerciária, não se via calçadas. Lixos
surfavam nas ondas dos carros. Já havia passado das dezoito e trinta. Expediente,
finalmente, encerrado. E estava lá, o velho, no meio do jogo dos sete erros. Não
à toa. Nada é em vão depois de um dia ferrado. E nada pode ser mais surpresa após
a primeira ferroada. Com toda a paciência do mundo, rumou de bar em bar. Buscava
uma companhia feminina que pudesse lhe “trocar favores”. Não sentia falta de
amigos. Mas sentia muito a ausência desse tipo de amizade. Sabe como é: cabelos
longos, perfume barato, gírias desconcertantes e nada que se encaixe em seu
mundo. Uma relação estritamente impessoal. Eram tempos difíceis... Um carinho em
um “conhecido” não deveria ser tão mau. Afinal de contas, a noite não faz
cerimônia. Todo mundo entra pra família depois que se é apresentado. Porém tudo
se sucederia no plano meramente objetivo. Sem telefonemas, sem julgamentos, sem
cobranças, e acima de tudo! Sem coração. E se na manhã seguinte ele lembrasse
do nome... Pode ser que rolasse sentimento. Pena também é uma emoção. Em troca
mesmo, só um... Imensamente... Muito obrigado. De bom grado! É ou não é a
amizade, perrrfeita, entre homem e mulher? Devagar... Divagava o coroa em meio
a respingos e barrofadas.
Heitor
Monte Cristo
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