26 de julho de 2010

A diversão na sociedade espetáculo

Num texto que marcou época, Guy Debord começa por afirmar: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção, anuncia-se como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido, afastou-se numa representação.” A sociedade da massa acabou esvaziando o conteúdo do espetáculo, gerando um simulacro de espetáculo. Os atores tornaram-se simulacros de atores, os textos simulacros de textos, etc. (Jean Baudrillard) O vazio se instalou na nossa sociedade. O discurso é conhecido.
A diversão é frequentemente a principal característica positiva associada à cultura de massas (uma menção não muito honrosa e escatológica). Ela cumpre uma função social importante num quotidiano que se afirma insuportável. Funciona como uma válvula de escape, uma libertação de energias e recalcamentos. Ou seja, não sabendo lhe dar com suas indagações existenciais, manifestação natural de todo ser pensante e comprometido com o viver, e tomado pela sensação de uma vida vazia de significado, é no lazer de entretenimentos vulgares que o indivíduo busca esconderijo para a falta de sentido interior da qual não consegue obter respostas agindo como animal de rebanho a obedecer às ordens da manada. Um elefante acéfalo.
O homem contemporâneo costuma chegar à conclusão de que sua vida está cheia de trivialidades. Ele se sente alheio dos “eus” passado, do seu trabalho, da sua comunidade e, possivelmente, de si mesmo - embora o seu “eu” seja difícil de localizar. Ao mesmo tempo, tem em suas mãos uma dose sem precedentes de tempo, que, como assinalou o holandês Van Den Haag, precisa matar para não ser morto por ele.
A sociedade detesta o vácuo, e procura preenche-lo rapidamente através da diversão. O vazio de idéias e sentido ameaça, por dentro, o homem moderno. É por isso que a diversão tem se feito tão importante mais do que qualquer outra coisa na época histórica, tornando um instrumento de poder fundamental de “entorpecimento das massas”.
No tangente aos divertimentos mais populares, a brutalização da cultura contemporânea não tem qualquer justificativa histórica. Alguns historiadores tem posto em evidência que a maioria dos divertimentos anteriores ao século XIX primavam pela brutalidade e pela estética do grotesco (Bandeira 2), e que a cultura erudita sempre foi minoritária.


Ricardo Magno

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