7 de julho de 2010

Emissoras de televisão nacionais

No tangente a cultura, a televisão brasileira enfatiza valores de massa. As programações das grandes emissoras em rede aberta, constantemente, dão vazão ao público de conhecimentos culturais mais simplórios; pois estes fazem frente a um imenso mercado de telespectadores. Utilizando o vocabulário Adorniano, isto se classifica como a primazia do todo em relação às partes num processo de construção cultural coletiva no qual a própria criação e elaboração ficam sobrepujadas pelos princípios de audiência.
Cada veículo age silenciosamente em seus corredores de avareza buscando sancionar a fórmula ideal para o sucesso pré-fabricado. Diante desta visão pré-concebida, defini-se o que poderia vir a ser o melhor e maior público-alvo. Os midiaticos acabam se deixando levar por uma avalanche de programações nos quais os shows de entretenimento só falam de fofocas das “super estrelas” e da arte de uma cultura mais chula e barata como o próprio Daniel Piza retruca: “... celebridades banalizadas”.
No que diz respeito à cultura, os telejornais nacionais só trabalham com o “agendão”. Geralmente no final de semana eles dão a programação das festas e dos grandes eventos sem uma abordagem mais profunda. É do Rio e São Paulo em movimento descendente, que uma cultura de cada região vem se sobrepujando à outra. Vez ou outra aparece um Nelson Motta da vida para dar o seu ar da graça.
As manifestações culturais de fino trato como a ópera, o balé e o teatro ficam totalmente relegados ao eixo Rio/São Paulo. Curitiba, Porto Alegre, Vitória do Espírito Santo e Belo Horizonte também carregam para si uma fatia. Assim, cria-se um gosto cultural de caráter nacional e unificador entre todas as regiões. Uma cultura que, em parte, produto das culturais locais de cada Estado, município, mas acima de tudo, um gosto cultural nivelado e nivelador por entre os quatro cantos do País.
Darci Ribeiro estava certo: “ Cultura erudita e cultura popular são as duas asas da cultura cuja falta de vigor em uma ambas não voam.” Mas isso não é o que se vê nas emissoras de televisão nacionais. Tudo é bem uniformizado! Estabeleceu-se até um vocabulário intermediário capaz de ser facilmente entendido desde o feirante até os mais altos escalões de nossa embaixada.
Por Toda Minha Vida e Som Brasil são raras exceções do exemplo da mais rica cultura de ponta do ainda assim chamado: gosto popular. Do mais, a programação musical se restringe ao modismo da época voltado para inclinações musicais em voga carregada de apelações visando cada vez mais o público infantil ao insuflar nas crianças a tendência insidiosa a um erotismo precoce.
Nos filmes, a melhor programação é a noturna. Sem a menor sombra de dúvidas! De noite, tanto na Globo como na Bandeirantes e no SBT passam os melhores filmes e séries da atualidade. E ainda há espaço para os grandes clássicos desde Shakespeare ao cinema de vanguarda. Resumindo: na televisão, as críticas culturais se limitam anualmente às opiniões pessoais do José Wilker na entrega do Oscar; porque, acreditem ou não, aquilo ali que ele faz é uma forma de jornalismo cultural. Intimista!
Na rede TV, tem o Leitura Dinâmica. Como eles mesmos se classificam: “Um jornal digital”. Dos jornais da rede aberta, o Leitura Dinâmica é o que mais tem caráter e teor cultural de boa qualidade e diversidade. Desde todos os hemisférios do país, da feira de livros a lançamentos de jogos de vídeo games, da divulgação de shows, peças de teatro, acontecimentos gastronômicos e uma série de aparatos para nos deixarem ligados juntos as últimas novidades do mercado tecnológico.
Com um tempo curto e inicio a meia noite, ele consegue satisfatoriamente cumprir a missão, sem delongas, de passear sério e irreverentemente por todos os pólos da arte e da cultura moderna. Vez ou outro, o programa da Band, A Noite é uma Criança, do apresentador Otávio (Otário) Mesquita (me perdoem o trocadilho e a brincadeira de mau gosto. Mas é que, nem sempre eu consigo resistir a eles) também mostra o submundo dos discos de vinil a mega eventos de música voltados para a nova geração formada pela tribo dos autoclassificados de Emos. Com a mesa do apresentador repleta de miniaturas de colecionadores dos mais famosos personagens cults do cinema, seriados e do show business, A Noite é uma Criança, de cara, já expõe sua diversidade com um toque pela viagem aos undergrounds.
O resgate da memória cultural fica a serviço das minisséries Globais como JK, Um Só Coração que abordavam acontecimentos históricos no cenário nacional. Também existem as releituras de obras dos autores nacionais e internacionais como a Capitu de Machado de Assis, a Pedra do Reino de Ariano Suassuna e entre tantos, Os Maias, que é um dos maiores clássicos do Eça de Queiros.
Na teledramaturgia da Globo não é diferente. Sempre houve uma mescla de enredos com a literatura nacional e internacional, não sendo à toa que o Cravo e a Rosa fazia uma explicita menção a Megera Indomada de Shakespeare. No SBT, em meio a uma onda de novelas importadas do México e mesmo as que são produzidas aqui, com fortes características carregadas de melodrama e pieguice bem “mexicanizadas”. Mesmo assim, de vez em quando, ainda acontecem raras exceções de releituras das grandes obras literárias como foi o caso de As Pupilas do Senhor Reitor do escritor Júlio Dinis.
Por hora, ocorre de um personagem das novelas da Globo fazerem citações a poetas mundialmente famoso como foi o caso da personagem Lobato interpretado por Osmar Prado ao recitar como uma forma de desabafo um dos mais conhecidos e admiráveis poemas de excelentíssimo Fernando Pessoa: Poema em linha reta.
Vez ou outra a Globo brinca, se diverti com isso em meio as suas telenovelas. Personagens aparecem lendo livros ou até mesmo são construídos por base explicita da inspiração dos grandes sábios. Este foi o caso do Olavo, personagem de Wagner Moura na novela Celebridade. Um ambicioso empresário de sucesso que iminentemente era guiado, ao pé da letra, pela filosofia de vida do Arte da Guerra, conhecidíssimo livro de Sun Tzu: leitura obrigatória da galera de administração e gestão de empresas e negócios. Interpretando os pensamentos do Daniel Piza, de outro modo ele também haveria de dizer isto: “ao contrário do que muitos pensam, existe cultura nos mais diversos lugares, e ás vezes, ela está bem rasteira mesmo; porque a cultura não é algo inatingível que só pode ser alcançado por muitas leituras e conhecimento de ponta. A isto se chama esnobismo”.

“De tanto darem lavagem aos porcos eles acabam rejeitando caviar.” Adorno.

É dentro do esquematismo originado por um singelo tubo de imagem que as televisões nacionais nos impões seus valores. Nisto, Adorno, Benjamin e companhia tinham toda a razão. De início, enquanto Benjamin fazia profecia de como seria esse processo moderno de reprodutibilidade e construção do ser aurático, algum tempo depois na América, Andy Warhol ia à forra com suas pinturas pops das embalagens de feijão Campbell.
Hoje, com a involução cada vez mais crescente dos programas de palco dominicais, se faltasse energia o domingo inteiro juro que não faria a menor falta.


Ricardo Magno

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