21 de dezembro de 2010

Getsêmani



Seu suor se tornou como gotas de sangue que caíam no chão. Sua angustia era intensa. Ao sair de casa, naquela noite, sentiu uma sensação estranha, algo como iminência de caos. Seu corpo agora trazia marcas. Talvez um cigarro acalmasse.

Até aquele momento levava uma vida normal, embora discordasse da maioria no que diz respeito ao conceito de felicidade. Enquanto havia tomates podres nas calçadas, desceu a Bernardo Sayão a pé. Um flash do passado não lhe fugia da memória.

Caiu pela rua Ceará. No sentido inverso e na velocidade de uma luz, os faróis dos carros dificultavam a visão no embate com o estigmatismo. Como todo ser apático, permutava os passos ao examinar com um ar de inédito o trajeto que fazia todos os dias, e foi quando aquela sensação lhe tomou de assalto. Era o caminho de sempre e, de repente, sentiu seu coração ser furtado por palpitações e pontadas preocupantes. As mãos soltas e desprotegidas pela epiderme em um suor frio de gravidade agora acompanhados pelo instinto de autopreservação, mais pareciam um termino, ultimato daquele instante.

Olhou ao fundo uma rua que parecia, pela última vez, chamar o seu nome. Olhou para a menina que passado do seu lado como se ela fosse ou um dia ainda podesse vir a ser a mulher de seus sonhos. Mas, as possibilidades de chegar à qualquer lugar logo se dissiparam. A impossibilidade de não chegar, o tomará de conta. Deu meia volta e foi procurar um porto seguro, como se lhe restasse algo. O seio de qualquer mulher que fosse capaz de lhe lembrar da maternidade.

Uma senhora que estava ocupada com algo, se assustou e veio ao seu encontro. Sem saber ao certo o que acontecia, era como se algo o estourasse. Ela tentou consolar, mas o estado era inconsolável. As sucessivas circunstâncias havia lhe imposto marcas. A vida moderna é assim: Fábrica de loucos.

Quando ele dormiu, o pesadelo já havia passado... Até que retornasse em outro sono como um sonho novo e renovado.

Ricardo Magno

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