19 de janeiro de 2011

O Tempo e a Poesia





Não é a fila que anda. Somos nós que fazemos ela andar. Entrou na dança das cadeiras, agora tem que rebolar! Pois a única moda que resiste aos dias de chuva é o modismo de se molhar.

O título é um imperativo e não um subjuntivo. A ordem é que manda sem pedir licença! Quando as janelas não estão abertas, sinal de que ainda é cedo demais. Refém da eternidade e escravo do tempo como uma arte de esculpir o passado registrado no espaço em suas formas e manifestações reais, semelhante a uma força relacionada a necessidade inseparável do filme com a matéria da realidade que nos cerca. Assim também pode ser descrita a vida. Em ínfimas partes.

Com personagens capazes de se sacrificar em nome de um ideal nobre, dependendo inutilmente apenas do que esta a esperar. Preparados para um futuro sem expectativas de quando em quando ele irá chegar, enquanto, aos olhos, muitas coisas podem vir a se tornarem grandes bobagens.

E mesmo sendo um pouco muito simbolista, o astronauta de Solaris, o guia de Stalker, o solitário que se queima em Nostalgia e aquele outro que queima a própria casa em O sacrifício, pertencem à mesma família de Rublev: os que olham o mundo com olhos infantis e indefesos. No mais, permitir que eles vão embora.

Entretanto! Para que se possa resolver boa parte dos problemas, simplesmente se deve ficar em casa e ler o Bauman. E assim buscar uma forma de aceitar que as coisas não são mais como eram antigamente e que o antigamente nunca foi como se imaginava. Deste modo, a única escolha é entrar na dança das cadeiras e correr o risco de ficar em pé.

Pois ao lado de atores quase crianças, quatro imagens poéticas de um diretor que não queria ser chamado de cineasta se foi com o tempo e as pessoas, junto dele, se esvaindo muito rápido. O amor do café da manhã já é, no almoço, o adeus de três anos atrás. De tanto que o sólido ficou líquido e o líquido a muito já evaporou.

Os cavalos de fogo, A cor da romã, A lenda da fortaleza Suram e O trovador Kerib; todas em suas obras, como o lugar de reproduzir a aparência de pessoas e coisas tratando de reinventar o mundo poeticamente, eram grandemente admirados pelo próprio Tarkovsky, que se dizia em dívida com a visão particular de Paradjanov e com sua capacidade de expressar em uma linguagem poética absolutamente livre, o nada. 

É que ultimamente, o tempo é um bicho que Dalí quis materializar. Mas de tanto persistir, o tempo conseguiu escapar.



Ricardo Magno

2 Comentários:

Gonzo Sade disse...

Texto tocante, meu velho. Deveras massa!

Ricardo Magno disse...

Valeu cara! Sempre é bom receber elogios, ainda mais sendo de quem sabe. Abraço e até a próxima cachaçada!