23 de março de 2011

Na fila do pão








“Pão” duro! Na fila do pão um “pão” estava duro. Por volta das duas horas da tarde a minha baguete enrijeceu. Foi na mesma padaria que havia sido roubada tempos atrás. Voltando para casa bêbado na madrugada daquele dia eu ainda lembro quando chamaram a polícia... Mas agora eu não estava.


Um encontro do acaso. Os meus dois pãezinhos franceses com aquela torta alemã. Não era a mulher mais linda do mundo, e era isso o que mais me excitava. Eu nunca tinha visto uma funcionária pública do judiciário tão atraente. Pensando bem, às duas da tarde, eu acho muito difícil ela ter ido lá fazer o desjejum. O traje social não negava, mesmo saindo do trabalho agora, eu acho improvável querer comer massa fina a essa hora.

Maisena, farinha de trigo, fermento, ovos e leite com tudo muito bem misturado. Em um segundo eu imaginei como deveria pegar fogo aquela fornalha. Nem para eu ser padeiro só para saber como é que se mexe na massa. Camisa manga comprida feminina branca daquelas que quando molha, maravilha! Tudo aparece. Ela é sóbria, os óculos não negam. Uma pervertida disfarçada, escondida por entre sentenças e julgamentos na formalidade do fórum da cidade. Tudo o que eu adoro reunido e muito bem mexido em somente um ser da espécie do sexo oposto. Que bom! Menos trabalho na hora de sair pra pegação procurando parceiras como quem busca peças para montar um quebra-cabeça de fantasias e fetiches. Mais de mil peças na construção de uma bela paisagem. Mas desta vez já vinha tudo na mesma caixa.

A fila andou, a rua parou e eu quase caio de tão tonto que ficava quanto mais eu observava a opulência daquela buzanfa parada na minha frente. Deve ter sabor de gelatina de maçã. Que imensa esfera voluptuosa! Cabelos lisos e pretos. Muito escuro. Brancona! Talvez com uns 32 anos. Motor amaciado? Melhor ainda! Eu também já estou chegando na “terceira idade”. O companheiro que estava comigo, na hora, tomou um puta susto. E eu concordo com ele. Nesses momentos ninguém acredita quando é contemplado. Mas o cara foi tão escandaloso que ela até virou de costas e sorriu educadamente se sentindo elogiada. Sei lá! Vai ver que tem filhos, já foi ou ainda é casada e entrou naquela rotina chata em que o cara se vira para o outro lado na cama e fica combinando baixinho ao telefone um encontro com a biscate. Vai ver que ela estava de baixa estima se sentindo um trapo e os olhares indiscretos lhe lavaram a alma. Só sei que valeu! Por alguns segundos tudo se encaixou e valeu muito à pena ter nascido tarado, conhecer somente amigos tarados. Ela gostou! E se gostou, então deu brecha. Agora é só escancarar a fresta.

Até esqueci da cerveja, entreguei para o meu amigo os cascos. Ele desistiu de mim e foi comprar a carne do churrasco. Entrei na fila. Eu quero é broa! Enroladinho, esfoliado, com queijo derretido por cima, mas eu só pensava era naquele bendito brioche. Mulheres assim me enlouquecem: deusas reais, criaturas divinas sem pedestal, espectro de luz palpável. 

Fiquei em pé e de “pé” duro! Olhei no balcão a caixa de Halls ao lado dos Ruffles e não pensei em nada. Um olho no rolo e o outro na massa. Quis dar uma volta, inventar rápido uma aquisição compulsiva. Pois a fila anda e logo o eclipse desaparece. É só de cem em cem anos. Era exatamente isso o que aquela grande protuberância branca significava em minhas representações eróticas burlescas: uma lua de calcinha, uma lua em forma de ânus. Uma lua com ânus. Ma-ra-vi-lho-sa! Uma lua em forma de ânus com calcinha e ânus. O que é melhor! É óbvio.

Se fosse na fila de um banco, na pressa, cometeria uma infração grave. Passei dois velhinhos que conversavam distraídos como se ainda tivessem muito tempo. Foda-se a Lei das Filas! Agora eu quero é rocambole.

Cheguei perto, grudado, na cola! Nem lembrei de dá o espaço de segurança para evitar colisões em freadas bruscas. Eu queria era ver o meu carro colidir com o carro dela pelas costas. Brisa no asfalto! Perfume do Boticário, eu sacava o cheiro. Meu amigo, o tarado espalhafatoso, quase estraga a abordagem. Antes dele pronunciar qualquer palavra escrota de macho alfa, fiz sinal desesperadamente para que ele passasse direto e fosse preparando a carne. Com o saco escrotal em ebulição, ele entendeu tudo e bateu em retirada.

Enquanto observava, cada vez ficava mais baixo o nível de ondas beta. Depois era apenas permitir que a adrenalina corresse pelas veias simultaneamente com os espermatozóides entrando em erupção. Fisicamente eu estava quase lá para realizar o approach. Por trás dela, eu sabia que ela sentia os meus olhares safados. E antes de ser atendida, ela se virou e riu, descarada! No primeiro passo, fingiu um tropeço e caiu com uma certa discrição em meus braços. De tão próximos, todo o meu corpo a apoiava num contato leve e sutil em que eu aproveitei para dar duas pulsadas. Percebi que ela sentiu e gostou da mistura que fazia a fusão das texturas de nossas peles. Sexo era só uma questão de esperar ficarem prontas as torradas.

Emperrou o caixa. De sopapo, inventei de comprar balinhas, finalmente dividíamos o mesmo espaço. Enquanto a moça calculava o troco, silenciosamente nos encarávamos, e foi quando eu permiti transparecer em linguagem labial a divina frase: “Gos-to-sa!” A “vagabunda” entendeu tudo sem nenhum equivoco. Ficou eufórica, eu vi! Até eu que sou acostumado, depois, fiquei meio encabulado. Então ela me perguntou: “Seu nome é Magno?” Respondi que sim: "Ricardo Magno!" O que fazer nessas horas? Raciocínio rápido as vezes falha em momentos impróprios igual ao carro do Rubinho Barrichello! Milésimos de segundos podem nos separar da vitória.

“Conheço uma amiga sua.” Ela me jogou esse papo furado. Do balcão até o carro dela a gente já tinha dois dias de namorados, estávamos sutilmente falando de sexo. Confessou o chaveco barato e que tinha me visto algumas vezes pelas proximidades, mas adivinhar meu nome foi puro golpe de sorte. Ri! Quase morri de ri enquanto no cérebro um pequeno, mas importante exercito de neurônios, as pressas, era recrutado exclusivamente para tratar do plano de ação no decorrer da sacanagem. Foi ela quem pediu meu telefone. Nem pensei! Literalmente “pau” mandado, telefone dado! Como diria Luiz Gonzaga: “Mulher querendo é bom demais!” Contei para o meu amigo, o cara babava e não acreditava. E é porque ele é tão puto quanto eu. Ele é um filho da puta mesmo!

Nove horas depois ela aparece para me pegar em casa. De antemão, me recusei a entrar no carro, pois adoro “imacular” os meus aposentos. Fiquei de pijama de seda de propósito, só para inspirar putaria naquele pobre alma. E ela mergulhou de cabeça no ar de minha graça. Mudei de idéia e entrei no automóvel. Uma preliminar enquanto as pessoas passavam sempre deixa os pecaminosos no ponto.

Cheirosa, ela não disse nenhuma palavra. Acho que foi sem querer que ela confundiu o cambio de marcha. Será? Piadinha sem graça. Eu nunca fui tão inocente assim para acreditar nessas anedotas. Quando fui perceber, minha cueca tinha descido sozinha pelas pernas. “Gulosa em!” E fiz um singelo trocadinho com “pão.” Ela continuou concentrada, mas pelos novos esforços na empreitada compreendi claramente a resposta aos meus estímulos. Vez por outra o carro buzinava à medida que a gente se amassava. Soluçando ela me pedia desculpas enquanto brincava com o meu massa grossa. Tocava alguma coisa no rádio, eu só lembro que o rádio tocava...

Giramundo, amazonas, executivo, a ponte e o famoso candelabro italiano. Nada faltou na mesa giratória de nossa performance pornográfica quando o carro permitia espaço. Hot dog, parafuso, espanhola e garganta profunda. Um self-service de sexo oral. E olha que eu gosto do troço. É tara mesmo! Tenho quase certeza absoluta que durante o processo de formação da minha libido, na fase oral eu tive uma fixação não elaborada. Surgiu daí a minha fissura. Na infância, minha mãe até disse que me flagrou com o pinto na boca de uma mulher da revista. Se não chupa, então nem venha falar comigo! E nisso ela já tinha deixado bem claro que era uma mestra. Com tanta concupiscência assim eu até comecei a desconfiar que ela fosse juíza ou advogada. Só pode. Vai gostar assim de vara lá na casa do caralho!

Com o dedo no grelo, logo logo eu ascendi os faróis que não eram os do carro. Biquinhos rosados. A senhorita realmente se cuidava. Se aproxima um moleque e vê o vidro embaçado. Surge uma menina gritando pelo gato que entrou no escapamento do carro. E lá dentro ninguém dava fé do mundo em volta. Coloquei os seis para fora, arranquei as suas calças e dei um beijo de “prazer em ti conhecer” por cima da calcinha antes de ver a cara do moleque. Bancos reclináveis. As montadoras de carros se preocuparam com tudo. Devagar, gostoso e de ladinho algum tempo depois gozávamos abraçados enquanto disparava o alarme.




Ricardo Magno



2 Comentários:

ArmandoCosta disse...

Velho fazia uns meses que nao perdia um tempo lendo este teu blog, e toda vez que venho me surpreendo, quem le e nao conhece e ate quem conhece acha que o Magno é a marca da "pegadorisse", abraços

Ricardo Magno disse...

Há há há! Porra velho! É marketing pessoal cara. rs! Bom comentário e ótima observação. Abraço irmão.