Quando todos os corações
choravam, no meio de um círculo perfeito que vai do céu até o inferno, se via
ele no centro do universo, o Anjo Exterminador. Quando o cordeiro abriu o
Sétimo Selo houve um silêncio no céu por cerca de meia hora. Se via sete anjos
diante de Deus e a eles foram dadas sete trombetas enquanto a morte jogada
xadrez na Idade das Trevas.
Cavaleiros andavam sobre
teias de aranhas a tocarem o quarteto de cordas da Morte e a Donzela. Pelo céu
e pela terra, de coroa dourada e manto azul com flores, na mente do circense
visionário a Virgem Maria aparecia ensinando o Menino Jesus a caminhar em um
prenúncio dos velhos tempos: a Sétima Arte.
O Menino Jesus andava
descalço e tinha os pés pequenos em um sonho tão lindo a ser preferível ficar
dormindo na música melancólica dessa orquestra que não prestava. Quando a
pintura era usada para lembrar a todos que um dia iriam morrer, um crânio se
tornava mais interessante do que uma mulher nua, e uma confissão verdadeira só
poderia ser feita por um coração vazio, pois o vazio é um espelho de águas que
se reflete em um rosto com lágrimas.
Com uma aparência de voz de
soprano, na Capela Imperial a tocar o seu pianoforte, Deus se esconde atrás das
nuvens em promessas e milagres que não vemos. E olhar a primeira imagem é
sentir repugnância e medo pela indiferença com o próximo e a rejeição pelos
outros. Na alma pobre os sentimentos mais sublimes podem se tornar pura
luxúria. E se tudo é imperfeito neste mundo imperfeito, a perfeição é perfeita
em sua imperfeição.
Correspondendo ao
Conservatório, no primeiro ato o compositor oficial da corte, só para obter um
lugar no coro, fez brumas de mil megatons deslizarem pelo céu cinzento como se
fossem algodão doce. Um metal pesado o acompanha ao fundo enquanto a Margarida
lamentava inconsolada a oratória inacabada de Lazarus. E este era o esboço de
uma grande sinfonia.
Em Gólgota, o calvário era
três cantatas cerimoniais apresentadas por um barítono famoso, baseado em um
texto bíblico da mais profunda e elevada canção escrita em honra ao Senhor. Ao
contrário da história de Simão de Cirene, a leste de Jerusalém, próximo ao
Jardim do Túmulo, cada um tinha que carregar a sua cruz onde homens eram
enterrados perto do local de suas execuções.
E era assim que a Terceira Cidade Sagrada estava imersa pela larva
caudalosa dos rios do inferno.
Precedido de um grande
terremoto em um drama encenado por música, após o julgamento e através de uma
execução comum em Roma, Jesus teria ido para o érebo. A partir daí, a bel
canto, no libreto desta fábula musical, mantiveram-se desprotegidos o Status
Quo de todos os Lugares Santos. E foi então que o diabo deixou de ser o cara
mais underground.
Ricardo
Magno
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