10 de junho de 2011

A Ópera do Senhor







Quando todos os corações choravam, no meio de um círculo perfeito que vai do céu até o inferno, se via ele no centro do universo, o Anjo Exterminador. Quando o cordeiro abriu o Sétimo Selo houve um silêncio no céu por cerca de meia hora. Se via sete anjos diante de Deus e a eles foram dadas sete trombetas enquanto a morte jogada xadrez na Idade das Trevas.

Cavaleiros andavam sobre teias de aranhas a tocarem o quarteto de cordas da Morte e a Donzela. Pelo céu e pela terra, de coroa dourada e manto azul com flores, na mente do circense visionário a Virgem Maria aparecia ensinando o Menino Jesus a caminhar em um prenúncio dos velhos tempos: a Sétima Arte.

O Menino Jesus andava descalço e tinha os pés pequenos em um sonho tão lindo a ser preferível ficar dormindo na música melancólica dessa orquestra que não prestava. Quando a pintura era usada para lembrar a todos que um dia iriam morrer, um crânio se tornava mais interessante do que uma mulher nua, e uma confissão verdadeira só poderia ser feita por um coração vazio, pois o vazio é um espelho de águas que se reflete em um rosto com lágrimas.

Com uma aparência de voz de soprano, na Capela Imperial a tocar o seu pianoforte, Deus se esconde atrás das nuvens em promessas e milagres que não vemos. E olhar a primeira imagem é sentir repugnância e medo pela indiferença com o próximo e a rejeição pelos outros. Na alma pobre os sentimentos mais sublimes podem se tornar pura luxúria. E se tudo é imperfeito neste mundo imperfeito, a perfeição é perfeita em sua imperfeição.

Correspondendo ao Conservatório, no primeiro ato o compositor oficial da corte, só para obter um lugar no coro, fez brumas de mil megatons deslizarem pelo céu cinzento como se fossem algodão doce. Um metal pesado o acompanha ao fundo enquanto a Margarida lamentava inconsolada a oratória inacabada de Lazarus. E este era o esboço de uma grande sinfonia.

Em Gólgota, o calvário era três cantatas cerimoniais apresentadas por um barítono famoso, baseado em um texto bíblico da mais profunda e elevada canção escrita em honra ao Senhor. Ao contrário da história de Simão de Cirene, a leste de Jerusalém, próximo ao Jardim do Túmulo, cada um tinha que carregar a sua cruz onde homens eram enterrados perto do local de suas execuções.  E era assim que a Terceira Cidade Sagrada estava imersa pela larva caudalosa dos rios do inferno.

Precedido de um grande terremoto em um drama encenado por música, após o julgamento e através de uma execução comum em Roma, Jesus teria ido para o érebo. A partir daí, a bel canto, no libreto desta fábula musical, mantiveram-se desprotegidos o Status Quo de todos os Lugares Santos. E foi então que o diabo deixou de ser o cara mais underground.




Ricardo Magno











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