30 de setembro de 2011

Concha Hermética

Um vagabundo às vezes pode ter lapsos de responsabilidade. E no máximo o que se consegue falar objetivamente é dos seus pés e das pontas dos dedos. No mais, dá-se meia volta e continua-se dentro tentando se libertar da placenta, tentando cortar o cordão umbilical filosófico, poético, literário, sensitivo... Em eterno e inerte estado de concha hermética.


Em mais uma sexta-feira lá continua ele a repetir a velha própria frase de outros tempos. Pois gostar da vida do modo como ela é não é a mesma coisa que conseguir imaginá-la de uma maneira diferente. A vida capitalista tem como propósito a riqueza material; a vida amorosa, o amor; e a religiosa uma total devoção a entidade superior... E é somente assim que se faz uma das perfeições.

Sempre que as impressões tornam tudo imperfeito não se sabe ao certo se o que aconteceu realmente era o que tinha que acontecer, mas fica-se com a certeza relativamente absoluta de que o que aconteceu é apenas o acontecido.

Quando a vida se torna um referencial próprio, o norte que nos guia pode nos levar a lugar nenhum sempre causando surpresa por onde quer que ele vá. Se realmente não se pode encontrar a alma gêmea aos dez anos de idade, então o que é namoro? Se apegar a uma pessoa à medida que criamos uma rotina com ela? Não, não... Levar o hoje à sério como se ele já fizesse parte do passado.

Ao interromper a análise, cessa o transe ao deixar consciente mais um paciente de Freud que não foi curado. E sempre que parecer inevitável remediar, torne-se adepto do amor, porém, em pequenas doses. Assim fica mais fácil controlar.





Ricardo Magno

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