27 de outubro de 2011

Seu Cosminho: O Garanhão da Capricho



Casanova, Alan Delon, Marlon Brando, Mastroianne, James Bond e o Don Juan do sexo. Charles Harper, Alfie, Hank Moody, Christian Troy, Narciso e o estereotipo de Ricardão... ícones reais e fictícios do ideal imaginários dos homens.
N.T

Os intelectuais que não sabem nada fazem a não ser se esconderem por detrás dos livros e dos muros da intelectualidade (pseudo intelectualidade) em um estilo de vida boêmio e hedonista sem que nada façam. É que ainda ontem a inveja estava com raiva somente por ouvir os louvores de outras glórias.

Em um sinal da primeira estirpe, aproveita-se e depois descarta. Mesmo quando não sabem, de uma maneira fútil, extravagante ou recatada, toda mulher gosta de um homem de sucesso, pois elas acreditam farejar a vitória. E coitado são todos aqueles que mal conseguem se olhar no espelho com os joelhos em puras bolas de carne
estouradas.


O Garanhão


A distância é um prato cheio na loteria dos cornos. Mas eu sou cabeça feita, aprendi muito cedo. Não adianta vim - porque já veio - pra cima de mim com carinha de anjo, corpão de violão e lábia de sereia. Não tem jeito! Nunca ponho o coração em uma bandeja.

Relacionamento só é bom no começo! Prazo de validade. Depois estraga. Se a gente tem maturidade pra receber inesperadamente alguém na nossa vida, a gente também tem que saber a hora de deixar a pessoa ir embora, e de irmos embora. E mesmo que ela ou tu não queira, expulse-a ou se expulse da vida alheio. O hospedeiro após um tempo tem por costume e péssimo hábito querer se tornar o dono da casa.

Por isso me tornei um canalha inacessível, jogador inveterado, falso, fingido, mentiroso e cínico. A impossibilidade da posse torna tudo mais atraente, Teoria da Fantasia, diria Lacan. Já estourei algumas de minhas cotas, e somente com uma exclusiva e especial exceção, mulheres divorciadas e com filhos não rola.

Eu vivo para o dinheiro, pois ele é o combustível da orgia. Minha incapacidade de viver com uma pessoa acabou por desenvolver uma necessidade de ter todas. Em um Complexo de Édipo incurável oriundo de uma frustração na fase oral, estou impossibilitado de ter compaixão pela minha mãe. Mal lembro do aniversário da figura materna. Se jogo é jogo e treino é treino, ex-namoradas nunca mais.

Eu sou trapaceiro e covarde. Várias vezes embebedei mulheres para transar. Na verdade, eu fui bonzinho com elas. Tirei todo o sentimento de culpa que elas tinham e os coloquei em mim. Por isso sou um traste, por isso elas me odeiam e amam, porque eu faço com elas o que elas gostariam de fazer, e, em mim elas encontram o acusado ( a cuzada!) perfeito para por a culpa. Depois retornam para suas casas, para a falsa proteção da família, a estabilidade bamba de um casamento, a ilusão de um relacionamento e a solidez liquida de todas as suas fantasias amorosas.

Eu sou o verdadeiro príncipe encantado. Aquele que ainda tem o rosto de um sapo e não saiu do pântano. Elas sabem disso. Eu sei que elas sabem! E até gostam de minha língua gelada e do veneno que sai de minhas costas asquerosa. Em a raposa e as galinhas, quando chego ao bar procuro logo a alma mais fragilizada da noite. Nômade, não tenho terras, desconheço as leis de propriedades privadas, todas em potencial podem ser minhas namoradas. Porque eu brinco. Digo que vou, mas não vou. Digo que dou, mas não dou. Lanço ao longe o osso, mas como um bumerangue ele sempre retorna para mim.

Somente o sexo é capaz de preencher a vida. Por mais ocasional, supérfluo e vazio que o tenham tornado, mesmo assim é somente nele que ainda se pode encontrar uma válvula de escape dentro desses enlaces repetitivos e maçantes. E aqueles que aprendi a chamar de amigos são iguais a mim. Todos os dias um pouco de álcool e tragadas de cigarro nós ajudam a ser assim. Vinho, vodka, cerveja, ice, energético e cachaça... Sem preconceito! Loiras, morenas, brancas, ruivas, altas, baixas, gordas, magras, jovens e coroas... Tudo na ocasião correta na espera do bilhete premiado, a bola da vez sorteada.

Se intimidade demais é uma merda, conhecer as pessoas estraga, pois a grande lição de O Último Tango em Paris era verdade. Não é bom idealizar as pessoas tanto quanto é ótimo não saber de nada. Na modernidade liquida a vida afetiva é uma representação materialista do consumismo. Não fui eu quem fez isso, mas faço questão de seguir as regras.

Trabalho elaborando um disfarce para o tempo e nunca consegui entender porque as vaginas são sempre rodeadas por um belo pedaço de carne. Nunca desejo verdadeiramente elas. Só quero um pouco de prazer anestésico emprestado. Se não dar para viver sozinho e muito menos junto, então tem quem haver uma Trialética Glauberiana.

Finjo o amor, a felicidade, a paixão, o tesão, a raiva, a fidelidade, o ciúmes e o ódio. Faço o que elas querem, o que elas pedem e o que não têm coragem de pedir. Simulo emoções, manipulo arrepios, propositalmente causo calafrios; e para não ser pego, em outras horas, finjo até estar fingindo. Pois se o mundo é uma Sociedade do Espetáculo, elas adoram o quanto sou dissimulado. Elas, sempre que são convidadas, sobem comigo no palco vazio de um Brecht.

Totalmente misantropo, não me importo com irmão – de sangue e os que poderiam ser por consideração -, tios, tias, primos, primas – essas ainda servem para algo -, avôs e avós... Em sumula, a família. Os seres humanos, a humanidade pouco me interessa. Até optaria em ser um macaco. Ao contrário do que os cientistas dizem, o que difere os homens dos demais animais é a capacidade de se interessar por sexo o tempo todo, essa deveria ser a grande evolução da espécie junto do dedo da masturbação, o polegar.

Chave de buceta? Não faço a menor idéia do que signifique isso na prática. As vadias devem se esforçarem mais, pois essas técnicas não funcionam comigo. Para corno todo chifre é pouco, porque é pela cabeça que eles serão enlaçados e arrematados para o céu. E repito! O dedo polegar é uma evolução da punheta.

Sendo o escritor de nenhum livro com constantes crises de inspiração, a fala arrastada com a boca fechada encaixaram-se perfeitamente no personagem principal da minha história: um ambivalente, talentoso e instável que vive trafegando em uma sinuosa jornada de álcool, vícios e mulheres, mas que almeja, ao mesmo tempo e sobretudo, restabelecer a antiga relação amorosa.

Na aura embriagada mágica que envolve toda a minha vida de deboche, exerci com orgulho a libertinagem e fiz coleção de mulheres. Do escroque e conquistador empedernido, percorri bordéis todas as noites para ter relações com mais de 60 meretrizes, fugi das masmorras do disfarce mascarado do dia a dia com uma escapada rocambolesca pelos telhados da imoralidade depois de estar prisioneiro durante muito tempo no princípio da realidade.

Não preciso decorar nomes. É para isso que existem as agendas nos aparelhos de telefone. Disque-puta! É assim que está programado no meu celular. Sem choro, sem desaforo, sem lágrimas! Não suporto pieguice e autopiedade. Apenas me faça o favor de vestir suas roupas e ir embora, não importe a hora. É para isso que existem os táxis. Para que após o coito, a mulher vá embora, o homem vire de lado e durma até tarde. E não seja infantil, adolescente e ridícula, pois sentimentalismo só piora. Se for preciso eu lhe empresto meu corpo, me dôo por algumas horas. Não se sinta uma puta, minha cama é um chiqueiro mesmo. Por aqui já passaram várias vadias, mas com uma ressalva, todas eram arrimo de família, acordavam seis horas da manhã para irem ao trabalho, e nunca deixaram seus companheiros desconfiarem.

Mas se mesmo assim ainda se sentir ofendida, não leve a mal, o tratamento é impessoal, eu sou um filho de uma égua mesmo! É que hoje em dia a inabilidade de se apaixonar se tornou um nível de maturidade superior. Entre o conquistador lírico e o épico prefiro ser o homem das cavernas. Mas sem perder algum tipo de ternura e muito menos ser morto por traição em um modelo de guerrilha feminista nos cafundós da América Latina, é óbvio!



Heitor Monte Cristo

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