Em
logradouros públicos não havia saneamento básico. As principais vias da cidade não
tinham identificação e nem pavimentação asfáltica. Sem ajuda de Plano Diretor,
os primeiros lojistas que chegaram começavam a se organizar em um calçadão de
bloquetes. Logo ele viria a ser a central nervosa dos comerciários.
Perto
do que seria uma das universidades, homens fedidos com cheiro de ouro tomavam
cachaça enquanto as mulheres davam aulas. Os açougueiros da alma, naquele
tempo, acordavam mais cedo. Farra Velha era a economia dos prostíbulos, a maior
economia da época. Lixos em volta de bares, moscas em volta de bêbados, esse
era o fluxo monetário.
Em
uma rua chamada desejo, no cortiço, o complexo de cabarés, Vaca Velha era o
nome da puta louca que ficou doida só de morar lá. Rita Faceira enganava a
pistolagem de uns garimpeiros bestas com uma máscara de rígida moral paladina.
O
lar era de infiéis à moda antiga e modernos. Casais antiquados e
contemporâneos, ambos podiam fazer a felicidade. Mas muitos não gostavam de
estar ali. Atrás de um matagal onde hoje é o centro da cidade, segredos se
escondiam por detrás do sol da tarde. A pisar em cacos, meninos caçavam
calangos no quintal da fábrica. Baladeira era o nome do relógio!
Os
aposentos eram imundos, as pessoas simplórias. Doenças venéreas corroíam os hospedeiros
por dentro, camisinha era um codinome para pele de carneiro. Todos indigentes! Uns
mais inóspitos do que outros. Exceto eles, ninguém ia lá. As mulheres quando
tinham gosto, era muito mau. Péssimo! Os homens eram dejetos de cabras. Feições
sujas, cutes embarbada esfumaçadas de caipora, odor pesado.
O
sexo era macrobiótico com milhões de fungos e bactérias. Lavam-se as mãos e
sujavam as partes. Assim é que era esse incessante ciclo de barbárie e falta de
higiene estúpida. E se fugisse um ladrão, ele se esconderia lá. Pois lá se
encontrava a maior compilação de todos os filhos da puta da humanidade. Os que
ainda estão vivos, os que já morreram e, principalmente, os que estão por vir.
Todos são filhos da mesma mãe: A marginalidade!
Longas
e irônicas gargalhadas davam as boas vindas para quem chegava. E para acabar
com a algazarra, chamaram os delegados de outros estados e puseram a regional,
estrategicamente, no coração do antro. HÁ, HÁ, HÁ!!! Só que esses caras eram
mais putos do que aquelas que davam. Davam a dignidade, o escrúpulo, o orgulho
próprio... E, ao extremo, como tinha de ser com todo porco e porca dos
cortiços; davam por pechincha, em pratos frios, como refeição principal, a
própria vida.
No
final do dia as garrafas de pinga sempre ficavam vazias. Restava somente as
cascas de frutas e os animais peçonhentos curtidos. ‘Plebeus conterrâneos’andavam
de bicicleta. Os ‘burgueses’, filhos de ‘burgueses’, estudavam fora. E tudo
aquilo, toda a representação econômica e sociocultural daquela época era um imenso
soco na cara. Porque se tudo o que existe, para que exista é necessário acreditar...
Então não existe nada. Com uma única e exclusiva exceção para a Panelada.
Heitor Monte Cristo
0 Comentários:
Postar um comentário