13 de dezembro de 2010

Velha Vadia






Terra onde não há flores, terra que se chora. Lugar fétido e crônico com raízes e espíritos profundos é esta que ao crepitar anseia por uma vontade de ter pensamentos. Mas pensar provoca um cansaço no corpo e isto dá sono.

Um beijo entre tantos, um sorriso entre poucos, quem sabe o que é ser um ser humano? Chorar, rir ou não chorar. Quem não sabe? É no aroma de uma velha vadia que sinto meu espírito encher-se de insensatez e satisfação. E isto é sempre um alvorecer de um novo dia, um equilíbrio de sonolência, imperativo de mudança.
                           
Senhora de braços longos, longos de desejos e devassidão. Braços de trilhos e de vazios vagões lotados de escravas almas perdidas cheias de fome. De tão vis e imundos, não se sabe nem o começa e o fim dos seios e da barriga. Local onde reina a sabedoria divina e o imoral fracasso do desejo humano amaldiçoado por um amaldiçoado humano, que sempre se reclina em mamas caídas e enrugadas, no qual há sempre um chamado apelativo nos convidando para extrair aromas de uma mortalidade luxuriosa, entre gargalhadas e muitos choros à pratos cheios de liberdade espiritual. Corpos opacos e ocos em uma tristeza embriagante ao iluminar a clarificação dos caminhos da interioridade, antes perdidos, mas agora sempre prontos a dar mais um passo na marcha da ninfomania.
            
Na frente da grande estrela, a parte frontal é um desvario de sacanagem carnuda acima de ambas as coxas, local selvagem, morada dos deuses, no qual muitos já caíram ao tornarem-se mortais, e mortais que viraram deuses.

Um longo beijo tu tens, mulher da carne fria! O teu abraço gélido e mortal já não causa dor, pois morto sou agora dentro deste teu macio cemitério de cristal! Andar entre os mortos e navegar por rios de libertinagem é minha causa! Resgatar defuntos, abrir os crânios de zumbis entre as loucuras de um prazer que tu constantemente me fazes. E por mais efêmero que ele seja, senhora! Não desistirei! És o meu grande mito!

De onde eu vim e por onde devo sair?  Nascituro que sou! Um propósito preciso para uma urna de verossimilhança da vida e da violação! Eu próprio! O coveiro de meu túmulo, as cinzas de minha caveira, cavarei minha tumba e me sepultarei aqui neste lugar, no meio do gueto das ancas de tuas coxas gêmeas, trêmulas e moles.





   Ricardo Magno e Ezequiel Magrini                                 
                              

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