29 de junho de 2011

O Carroceiro Voyeur



De mão calejadas tanto pelo trabalho árduo da enxada quanto o hábito infanto-juvenil de bulinar as próprias partes em ato de não interação com o objeto desejado. E para a sua própria satisfação ao masturbar-se de corpo presente sem ser visto, o risco se tornava mais excitante. É! Os voyeuristas são assim: pedófilos e estrupadores de si mesmos. Eles fodem dentro da própria consciência com ela mesma.

O assunto foi notícia em quase todos os programas policiais. Um carroceiro tarado foi "justiçado" com mais de 50 chibatadas e lapadas de facão ao ser flagrado num quintal espiando algumas senhoras tomarem banho. Ao ser agarrado pela comunidade constituída por gente que mais queria se divertir do que fazer o que se achava ser o correto, ele só não morreu de tanto apanhar por que a polícia chegou a tempo de salva-lo dos cornos imaginários que vieram a se tornar os maridos raivosos. 

É que já fazia alguns dias que o “cheira-peido” vinha praticando o voyerismo, embora seja provável que o miserável nem saiba soletrar esta palavra. De tão cômodo a gozar literalmente da visão paradisíaca do harém suburbano das classes baixas, o infeliz se sentia bem "manso" e protegido por detrás das moitas em relação aos riscos da empreitada egoísta e prazerosa. Mas como todo vício sempre leva a perdição, de tanto as tocar com os olhos no momento de deleite em que retornava para si o estimulo que provocava na fantasia com os outros, as esposas começaram a suspeitar de tão pesados e rotineiros olhares que lhes caiam freqüentemente sobre as costas, e passaram a questionar se não havia algum sujeito circulando pelos quintais no período da tarde com os globos oculares junto de outras partes bem dilatadas a investigar sigilosamente a invasão de privacidade de suas carnes íntimas. Pronto! Para os varões de cajado torto isto representava a gota d’água. Montou-se uma campana em urgência! E traído pela luxúria e cobiça, assim conseguiram flagrar o suposto retardado.

Depois de levar uns safanões ele foi amarrado em um poste na rua principal e continuou a ser surrado impiedosamente pelos maridos que se revezavam com uma peia de cordas até a chegada da polícia que o salvou da morte. Questionado, ele disse que não estava espiando as mulheres, mas apenas tentando tirar algumas canas para seu cavalo. E foi assim que pela primeiro vez na história da cidade um cavalo virou álibi. Bastava chamar o Doutor Dolittle para pegar o depoimento.

Após o burburinho, como ninguém foi à delegacia prestar queixa contra o leite derramado, ele foi liberado visivelmente envergonhado e traumatizado. Menos pelo que fez, e mais por ter sido descoberto entre mais um dos adeptos de um velho costume milenar.


Heitor Monte Cristo


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