21 de julho de 2011

Maria Negra



Com a marca indelével de nossa origem, a prostituta imaculada dos cabaret de Israel era aquela que orava mais por superstição do que por fé. Black Mary, a estrela escarlate de uma constelação de meretrizes infernais, a santa perdida e noctívaga de Gólgota, o espectro de Lilith que sempre está a rondar o morro dos túmulos com o seu manto azul escuro em que cintila as sombras das lágrimas do firmamento.

No tabuleiro universal da irmandade ela é o lado negro da própria bondade em representação a mãe doida de um filho abandonado cuja lógica é o querer embalsamado de irracionalidade nas noites tristes em que não há estrelas ao redor da lua. Em seus atos sempre está implícito o conflito da cromoterapia contra a alvidez da pele na qual o coração é o maior dos maiores reinos das trevas.

Três forasteiros montados a camelos ganharam as suspeitas da sua herança sanguínea patrilinear. E para cada parte do seu embrião gerado em suruba, cada um contribuiu com generosidade. A se rastejar pelo chão árido de Jerusalém em meio a arbustos de gramínia, a sua mãe era a serpente negra da cor do asfalto ardente que soltava larvas do rio de Tântalo como uma louca que durante a noite falava com a lua, mas não acreditava em deus.

A Estrela da Morte começou a sentir inveja de todo o invejoso que não a invejava quando foi descoberto que a ponta do dedo que concedeu vida a Adão não era da mão de Deus, e sim, a de um macaco. E para os Cavaleiros da Aurora nenhum Pactum Pactorum poderia mais ser realizado após a descoberta da inexistência da alma.  Um dilúvio de súplicas e santificações por terra abaixo, pois o diabo cuspirá na sua cara.




Heitor Monte Cristo

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