11 de março de 2013

“Trens Passam”







Era um tempo em que a gente não tinha cabeça para muitas coisas. Os pensamentos se formavam como turbilhões. No espírito da cidade, e dentro de cada um de nós, não havia perspectivas. Éramos corpos sem almas.

As ruas eram sujas, feias e vazias. O trânsito era... Entediante. E mesmo assim nós continuávamos lá. Com âncoras de milhões de toneladas amarradas nos pés. Sem querer estar lá, sem ter pra onde ir... Não desejando nenhum lugar.

Naquele tempo ninguém sonhava com um emprego que trouxesse estabilidade, mulher e filhos esperando na porta de casa. Não mesmo! Tudo isso era preto e branco demais. A vida sonhada era uma instalação do Monet. Já a realidade era uma triste e desoladora experiência de Edvard Munch.

Éramos jovens e a turma possuía somente a si próprio. Nada de fora poderia ser mais valioso. Todas as diretrizes eram criadas dentro dessa esfera. Facilmente acreditávamos em todas as considerações.

Nossos parentes mais próximos não nos entendiam. Nós não os entendíamos... Nós não entendíamos nada. Tudo era feito para manter a harmonia da irmandade. Vez por outra, um sempre chegava com a cabeça quente. Em questões de segundos esquecíamos os monstros.

Em conseqüência da melancolia, havia muita pusilanimidade e ócio. Para suportar, enfrentávamos tudo isso com doses homeopáticas de cultura. Ninguém era muito inteligente. Ninguém sabia muito. Nos virávamos com todo o tipo de conhecimento que estava ao alcance. E vez por outra, quando o balde enchia, bebíamos. Bebíamos muito. Bebíamos muuuito mesmo! Pois estava totalmente fora de cogitação se enquadrar no sistema. Lááá... Nunca houve nada para nós.



Heitor Monte cristo

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