7 de julho de 2010

Manipulação Pós-Fotográfica da Imagem Jornalística

A manipulação pós-fotográfica da Imagem jornalística consiste na alteração da fotografia após ela ter sido capturada. O que vem se tornando cada vez mais comum devido à chegada de novas tecnologias de câmeras fotográficas digitais sem negativo. Contrariando o que muitas pessoas pensam, a manipulação pós-fotográfica não é algo novo originário apenas da tecnologia. Ao longo de toda a história da imagem se tem relatos dessa prática que está atualmente mais em voga do que nunca graças aos modernos mecanismos fotográficos.

Com o surgimento da imagem digital sem matriz, ou seja, um negativo, criou-se um obstáculo na hora de checar a veracidade da fotografia em relação ao momento de captação. Daí surgindo um abismo entre realidade e manipulação. Desta forma os repórteres fotográficos passaram a obter um maior poder em mãos à medida que suas credibilidades ficaram abaladas.

A fotografia digital surgiu através da realização de programas espaciais norte-americanos em meados de 1965. As primeiras imagens captadas sem filme foram por meio de uma câmera de televisão acoplada à sonda Mariner com uma resolução de 0.04 megapixel e levaram quatro dias para serem transmitidas à Terra. Desde então vários protótipos foram inventados no intuito de suprirem as exigências mínimas de qualidade para satisfazerem fotógrafos amadores, percebendo-se daí o grande objetivo de torná-la popular. Propósito alcançado somente em 1989.

No Brasil, a Folha de S. Paulo foi a pioneira na implementação de câmeras digitais, inaugurando as na Copa do Mundo de 1994. Logo depois, as câmeras digitais que visavam o mercado de amadores ganharam um boom de vendas que persiste até hoje. As novas possibilidades proporcionadas pelas câmeras fotográficas, como fotografar sem arcar com custos de revelação e poder se ver no momento seguinte ao de captura da imagem, entre outros fatores, provocou uma grande corrida pela troca das câmeras analógicas pelas novas digitais.

A partir do momento em que fotógrafos amadores tiveram acesso como nunca antes fora possível, de tirar fotos, baixá-las para computadores pessoais conectados a programas de formatação de imagens; estas pessoas deixaram de serem simples receptores e se tornaram, de certa forma, também emissores. Por dentro de todo o processo amador e simplificado de produzir imagens e circulá-las em fotoblogs e blogs pessoais, eles acabaram percebendo o quanto era fácil construir imagens, o que lhes acabou desenvolvendo uma visão crítica correlação ao processo de produção profissional. Consciência antes alheia à massa.

Sem a presença dos negativos, a imagem perdeu o título de unidade autêntica, bastando para isso, que se apague a primeira fotografia para que a manipulada se tornasse a verdadeira. Esse novo cenário do fotojornalismo deu conseqüência a uma série de escândalos como o caso do repórter fotográfico do Los Angeles Times, Brian Walski, que ao ser escalado para cobrir a guerra do Iraque acabou produzindo imagens manipuladas de soldados Britânicos maltratando civis iraquianos. A brincadeira logo foi detectada e lhe custou um pedido de desculpa pública e a demissão.

A grande questão levantada pela manipulação de imagens de Walski analisada por COLUTTI Jr. não está no processo em si, mas na difícil convivência que os novos tempos anunciam. Como aliar credibilidade do fotógrafo e do veículo com a manipulação de registros que, embora possam expressar de forma mais contundente o relato da fotografia, não parecem muito digeríveis aos olhos atentos dos leitores presos a perspectiva da fotografia como indicativo de realidade.

Já o curador de fotografia e professor de jornalismo da Michigan State University, Howard Bossen e para Bodstein, a questão está na ética do profissional e não no modo como se usa os novos métodos eletrônicos para construir noticias em relação aos métodos clássicos. Em meio a toda essa situação complexa entre tecnologia e novas concepções das antigas abordagens acerca das imagens o que vale ressaltar, como Pedro Meyer afirma, é a necessidade de reavaliação dos princípios jornalísticos como base em uma nova ética que imputa credibilidade mais aos fotógrafos do que as câmeras.

Pedro Meyer ainda vai mais longe ao afirmar que em volta da fotografia existo um pudor quase que religioso no que diz respeito a sua veracidade em ser uma cópia da realidade. Seus argumentos correlação ao caso Walski isentam o fotógrafo de culpa à medida que Meyer acha plausível o uso de métodos modernos na edição de imagens contanto que seja para melhor expor os fatos do modo como o jornalista os observou. Em seguida, Meyer ainda reafirma como positivo esse novo contexto do fotojornalismo no qual as imagens começam a serem contestadas, transferindo para o jornalista a fonte de confiança.

Para Boris Kossoy, o ponto delicado no qual toca esse embate se torna exclusivamente restrito a questão entre objetividade e subjetividade no relato profissional da imprensa, tendo em vista que a história do mundo seja reconstituída, no futuro, da maneira mais verossímil possível e sem prejuízos documentais provocados pela manipulação das imagens. Então, para que não exista uma supervalorização das representações em detrimento dos fatos a ponto de fazer com que o homem viva em função das imagens e não dos acontecimentos, Kossoy acredita haver a necessidade de não se permitir que a representação se torne mais importante do que os fatos, visto que. é justamente através deles que contaremos nossa história por meio de arquivos documentais. Do contrário, nosso passado se perderá para sempre em distorções manipuladas do real.




Ricardo Magno

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