28 de julho de 2010

Por si só

O irmão que não conhece verdadeiramente o céu, o confunde com o inferno. Vê o caos e a destruição e pensa que são os jardins floridos do Éden. Vê as endiabruras diabólicas dos demônios e pensa que é a dança sensual dos anjos enquanto a liberdade plena só pode ser adquirida através de uma prisão plena.

Nunca irei me corromper por já ter nascido corrompido. Nunca vou me corromper porque serei eu a corromper as pessoas.

Meu vocábulo é supra-religioso, supra-racial e supra econômico-social. Meu vocábulo ultrapassa todas as barreiras, todos os preceitos e preconceitos, todos os limites humanos, infra-humanos e supra-humanos. Meu vocábulo é universal porque ele é espiritual.

A proporção de um bem é a proporção de um mal, quando atitudes insensatas e palavras mal ditas (e malditas) ecoam na alma pelo resto da vida.

Tentando libertar meu cérebro, acabei criando belas respostas para situações difíceis. Mas é somente no cigarro que encontro o sopro da vida enquanto a fumaça parte por si só. Bendito sejam o alcatrão e a nicotina que faz meu tempo passar mais rápido. É que por si só morreremos, morreremos por estar vivos.

A pobre gramática é mais rica do que nossos nomes. Subjugando-me a impotências, me torno mais fraco do que um sujeito indeterminado, enquanto uma palavra vale mais do que a mim e uma frase vai além do verbo-carne à medida que a regência verbal me mata de curiosidade.

Sentir ou não sentir, talvez seja mais importante do que ser ou não ser. É que às vezes quem sente não é, e quem é não sente. Pois cada ser tem o seu espaço vital, cada ser tem a sua idiossincrasia, e é na fase de construção mental que todas elas são definidas.

E se o gelo que esfria pode se protege de si mesmo, como eu poderei recusar a ajudar a mim mesmo? E se a maldade que assola acaba isolando a si mesmo, como irei ignorar um apelo de mim mesmo? 

Porque o frio que se causa também se aquece, e o calor que esquenta também se resfria enquanto me transformo numa espécie de isolante térmico de mim mesmo.


Ricardo Magno

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