16 de agosto de 2010

Em Simonal


Enquanto o povo do rock e da MPB trocavam farpas publicamente, o carioca Wilson Simonal abria as portas de seu show dominical da TV Record para que Os Vips cantassem jazz acompanhados do Som Três ou para que Nara Leão interpretasse “Eleanor Rigby”, dos Beatles. Cantor de voz privilegiada, Simonal representou a terceira via para o pop brasileiro no meio dos anos 60.
Filho de uma cozinheira e de um eletricista, negro e pobre, Simonal cresceu nos subúrbios cariocas e só se revelou cantor quando animava festas nos tempos de serviço militar. Para manter-se na zona norte do Rio de Janeiro e tentar a carreira de crooner, trabalhou em troca de comida e alojamento como secretário de Carlos Imperial, por meio de quem conheceu toda a “Turma da Matoso”, o pessoal do rock brasileiro e da futura jovem guarda.
Ao mesmo tempo que Imperial arranjou um contrato para Roberto Carlos na Polydor (cantando bossa nova), convenceu a Odeon a lançar Simonal cantando rock e chachachá. Mas ele só encontrou sua trilha no Beco das Garrafas fazendo bossa nova “com ginga do morro” – até hoje, os mais radicais consideram essa fase inicial, que misturava bossa com jazz de big bands, como a mais criativa de Simonal.
Em maio de 1966, Imperial reapareceu em sua vida, propondo uma canção na trilha do filme Na onda do Iê-Iê-Iê, de Renato Aragão, com uma canção composta pelo próprio empresário chamada “Mamãe Passou Açúcar em Mim”. Simonal cantou acompanhado pelos Fevers e aquele foi seu maior sucesso até então. Sabiamente, a Record o convidou para assumir seu próprio programa, Show em Simonal, já de olho em sua capacidade de harmonizar as diferenças entre roqueiros e emepebistas.
Ao mesmo tempo, o cantor reformulou seu som ao lado de um grupo, o Som Três (o pianista César Marinho, o baixista Sabá e o baterista Toninho Pinheiro), agregando ao jazz e à bossa original, grandes doses do iê-iê-iê, soul music, Sergio Mendes e boogaloo ( o jazz latinizado de Mongo Santamaría e Cal Tjader). Era a consolidação do “samba-jovem”, que acabou ganhando o rótulo de “pilantragem”.
Simonal foi a mais perfeita fusão entre influências pop e as harmonias intrincadas da música brasileira. Seu exemplo foi tão importante para a gênese do tropicalismo que Caetano Veloso batizou a canção que inscreveu no Festival de 1997 com um dos bordões que Simonal usava em seu programa:”Alegria, Alegria”.

0 Comentários: