10 de janeiro de 2011

La Veuve Clicquot








Com o coração partido por uma desventura romântica, ela era mais conhecida como a Viúva Solitária. Andava invisivelmente pelos cantos da horripilante casa com os cabelos negros a esconder a palidez da face. Jovens da aristocracia franco-italiana chegavam usando óculos Dolce & Gabbana, fibra de carbono, modelo 1964.

Começou a festa! Era um palacete velho em ruínas na beira da praia ao norte da Itália. Suas condições precárias sobrevia com uma soberba resistente da pompa e ostentação de outras décadas, uma metáfora decadente com a atual posição social dos monarcas. Netos pobres de avós ricos brincavam de cabra-cega no cemitério particular de toda a linhagem!

Pessoas vistosas curtiam a praia usando ternos Giorgio Armani e gravata mais de 10 mil dólares no instante em que ela matava nove casais em mais uma orgia de feriado. Usou calcinhas para amortecer a dor que estourava o crânio de um dos jovens. Arrebentou os seios da mais linda ragazza com uma ferramenta pontiaguda a lhe servir o jantar como uma faca.

Prosecco nem pingava na taça já tinha acabado. Por debaixo de um Coco Chanel mulheres se vestiam com calcinhas que podiam ser rasgadas. Não ria, não sentia amor, não sentia ódio e nem nada. Brigitte Bardot, Jane Fonda e Sophia Loren, a essa hora, ninguém as encontravam, pois já estavam nos quartos trancadas. Mas quando os outros foram tomar banho, ali mesmo ela usou os cacos de vidro para lhes arrancar o som como se fosse uma navalha. Deu somente um golpe de louvor, pois para a sua filosofia de vida os amantes sempre devem morrer abraçados.

Naquela mansão mal assombrada, em uma dimensão onde habitavam os fantasmas, ela passeava como se estivesse em um assustador desfile de moda de dezenas de noivas cadáveres. Uma solitária viúva que chorava por entre as paredes de sangue misturado com argamassa enquanto a Audrey Hepburn já era a bonequinha de luxo do Truman Capote. E por onde quer que passasse ela fazia exaltação ao discreto charme da burguesia da praça.

Ao transcorrer da madrugada, por cada cômodo da casa, lençóis de seda eram arremessados no chão, sujos por esguichos de gala, que rapidamente faziam menção ao símbolo da Nike, antes do concretismo se dissolver no espaço.

Em" Que la plage nue", o vento destilava pelos recantos da casa e se desviava das estatuas imaginárias de pessoas de mármore, em nada ousavam presenciar tão horrenda aparição cadavérica, pois ela era o pior pesadelo do lar e a musa da farra na Fontana di Trevi.



Ricardo Magno
  






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